CONVERSAS SOLTAS - 2
Fulano - Olá, ainda bem que chega!
Eu - Obrigado.
Beltrana – Olá! Estávamos aqui a falar sobre coisas etéreas.
Eu – Ena! A esta hora tão matutina?
Beltrana – E por que não? É uma hora tão boa como outra qualquer…
Eu – Sim, sim. Então, do que falavam?
Fulano – Não se assuste! Estávamos a falar de Metafísica.
Eu – Boa! E que diziam?
Fulano – O que é a Metafísica?
Eu – É o que está fora da Física.
Beltrana – Eu bem dizia que estávamos a falar de coisas etéreas…
Fulano – Pode dar um exemplo?
Eu – Uma ideia, um princípio, um conceito…
Fulano – Uma ideia? Como é isso?
Eu – Sim, qualquer coisa imaterial.
Beltrana – Assim, tão simplesmente? Então, o «hardware» dos computadores é físico e o «software» é metafísico.
Eu – AHAH! Bem visto. Quase me apanhou. Sim, o «hardware» é físico mas o «soft» não é metafísico porque é… electricidade. E porque nem tudo o que lá circula é doutrinário, genérico, conceito. Esses conceitos, sim, são metafísicos mas são-no por si próprios e não por circularem numa via «soft».
Beltrana – Mas assim, não é nenhum bicho de sete cabeças como parece com as explicações complicadas que por aí andam…
Fulano – E era sobre essas explicações complicadas que estávamos a partir pedra.
Eu – Complicar é fácil. Mas se a definição é simples, tudo o que lá cabe pode não ser assim tão simples.
Beltrana – Como por exemplo…?
Eu – Desde o conceito aritmético mais simples (2+2) até Deus.
Fulano – Deus, uma ideia?
Eu – Sim, uma ideia… «e no princípio era o Verbo»…
Beltrana – Está a dizer que Deus não é mais do que uma ideia?
Eu – Deus é uma ideia que se explica pelos chamados Argumenrtos Ontológicos.
Betrana – Os argumentos quê?
Eu – Ontológicos do grego «onthos» que significa «ser». Os argumentos pelos quais se chega à existência de Deus.
Fulano – Isto, sim, é conversa boa para servir como aperitivo para o almoço. E pode dar um exemplo desses argumentos?
Eu – Sim, claro! Há muitos mas eu tenho sempre três na ponta da língua – o de Santo Anselmo, o de Pascal e o de Einstein.
Fulano – Eh caramba! Assim de enxurrada?
Eu – Bem, não propriamente de enxurrada. Posso dizê-los calmamente.
Beltrana – E, então, que disseram eles?
Eu – O mais progressista foi o mais antigo destes três, Santo Anselmo. À nossa semelhança quando hoje dizemos que «o que não está na Internet é como se não existisse», ele disse que «as coisas só existem se nós as imaginarmos; se não as imaginarmos, é como se não existissem». Então, imaginemos algo que está mais a cima do que qualquer outra coisa que possamos imaginar, que seja inultrapassável. Esse «algo» é Deus.
Beltrana – É curioso dá que pensar. Não é de repente que se percebe. OK! Fica o registo para mas amadurecer. E o Pascal?
Eu – Cito-o mais por curiosidade do que pela elevação do raciocínio que não passa de um exercício de contabilidade de «Ganhos e Perdas»:
- se acreditas em Deus e ele existe, depois da morte terás todas as recompensas;
- se não acreditas mas ele existe, perdes tudo;
- se acreditas e ele não existe, não ganhas nada;
- se não acreditas e ele não existe, não ganhas nem perdes.
Portanto, o melhor é acreditares.
Fulano – Fico na dúvida sobre se Pascal está gozar connosco ou…
Beltrana – Não gosto desse raciocínio.
Eu – Einstein é mais interessante. Começa por uma afirmação, faz uma pergunta e responde:
- O Universo começou com o «big bang»;
- Quem deu a ordem para que essa mega explosão ocorresse?;
- A única resposta possível, Deus.
Fulano – Prefiro este.
Beltrana – Também eu.
Eu – Parece que estamos todos de acordo. Mas há muitos mais argumentos ontológicos. Normalmente, agrupam-se em conjuntos mais ou menos homogéneos.
Beltrana – Grupos de argumentos? Que grupos são esses?
Eu – Religiões.
Fulano – Então, as religiões são grupos de argumentos?
Eu – Sim, mas não só.
Fulano - Mais quê?
Eu – Fé.
Beltrana – Ah, claro! E tudo isso é Metafísica.
Eu – Exacto! Mas agora são horas de almoço, tenho que ir andando.
Fulano – E vamos continuar esta conversa noutra ocasião?
Eu – Por mim, encantado. E deixo já um mote para que, entretanto, vão vendo o que diz o Google sobre «Exegese». Até breve!
Fulano – Até brreve!
Beltrana – Beijinhos!
Outubro de 2020
Henrique Salles da Fonseca