CLAUSURA – 6
Hoje, nestas viagens na minha casa, dei por mim no Reino da Semântica a pensar nas endorfinas.
Descobertas em 1974, as endorfinas são hormonas produzidas no cérebro e que condicionam os impulsos eléctricos entre as sinapses. São 20, as conhecidas e produzem um efeito positivo no comportamento da pessoa. Positivo?
- Oh vizinha! Cuidado com o vírus. É muito perigoso, está a matar centenas de italianos.
- Sim, prima! Morrem às centenas todos os dias e já está em Espanha.
- Colega, venha para casa que isto é mesmo um surto pandémico descontrolado.
- Parece que vamos ter que beber o remédio p’rós piolhos…
- Vão morrer todos! – os outros, ela não.
E as pressurosas rodeiam a vítima já quase estrebuchante com artes de aviso protector mas, na realidade, querendo apenas o protagonismo de super informadas e muito amigas. Deliciam-se com a morbidez, tremem de pavor depressivo, enchem-se de negatofinas, as endorfinas de efeito negativo que eu acabo de inventar e de mandar para a Semântica.
Mas há que salvar a vítima do assédio mórbido e do estado caótico em que, entretanto, caiu. Chamo de lado a pressurosa mórbida mais próxima e digo-lhe: - Oh minha Amiga! Venha cá que eu tenho uma história para lhe contar. Então, quando ela se chega, pego-lhe na mão, ponho-lhe o braço pelas costas e damos três ou quatros passos de dança ao som da música que soa em fundo. Desprevenida, solta um AAHH! e logo ali as negatofinas se evaporam e dão lugar à adrenalina, à naftalina ou mesmo à músicofina. Felizmente, a música acabou.
Fim do drama, salva a vítima, cai o pano rapidamente.
É isso: assim como Judas foi denunciado na Quarta feira Santa, também este terrorismo tem que ser abanado e transformado em música.
Amanhã há mais
(continua)
Abril de 2020
Henrique Salles da Fonseca