CLAUSURA – 4
Autênticas chacinas, os flagelos que estão em curso em Itália e em Espanha. Todos os crepes que possamos vestir são de menos para expressar o peso que nos vai na alma.
O que é que eles fizeram ou deixaram de fazer para terem chegado a tal descontrole? E nós, o que é que fizemos ou deixámos de fazer para não termos (ainda) descontrolado a nossa situação? Espero que os técnicos de saúde pública saibam e que concluam com precisão onde se localiza a fronteira entre as boas e as más políticas.
Entretanto, à falta de melhores procedimentos, fiquemos em casa por muito penoso que isso possa ser.
Na situação actual, há duas coisas que não consigo fazer: humor e uma leitura tecnocrática das ocorrências.
A primeira é axiomática mas a segunda carece de explicação.
Há quem diga que esta desgraça é regeneradora da Humanidade pois mata os velhos e o confinamento provocará um «baby boom» lá por Dezembro-Janeiro.
Poderá ser que sim mas à custa de quantos dramas pessoais, de quanta perda de afectos familiares, de quanta sabedoria perdida? Quanto ao acréscimo da natalidade, acho que todos devemos saudar os concepturos e os nascituros assim como louvar os autores do acontecimento.
Não perco a minha visão humanista.
Mas há duas coisas que considero positivas: a aceleração científica na busca da vacina e da terapêutica de combate ao mal; o recrudescimento da produção de tantos bens transacionáveis que nós (portugueses e demais europeus) nos habituáramos a mandar vir da China.
Temos que voltar a…
- produzir o que consumimos,
- criar (finalmente) a transparência nos mercados,
- racionalizar a formação dos preços,
- acabar com a sino-dependência em que estávamos a cair desde a compra de quinquilharia aos tão importantes ventiladores, à electricidade, aos seguros…
… sob pena de perdermos esta oportunidade para corrigirmos alguns dos erros que sucessivamente nos têm levado à bancarrota.
(continua)
Abril de 2020
Henrique Salles da Fonseca