CLAUSURA – 15
A minha mãe dizia que se estivesse uns tempos sem ler - entenda-se um livro de substância e não «de cordel» - se sentia embrutecer. E, livro sim–livro não, procurava alternar entre português e francês com o Paris Match à mistura. O inglês reservava-o para o National Geographic Magazine.
A inteligência humana e o seu contrário têm tudo a ver com a funcionalidade cerebral e, dizem os entendidos, com a densidade da malha neuronal e com a qualidade dos impulsos eléctricos trocados entre as sinapses. É claro que as endorfinas andam pelo meio disto tudo.
Da conjugação dos dois parágrafos anteriores, dá para perceber que a «máquina» tem que ser ginasticada e que deve haver diferenças substanciais entre o cérebro de um adulto analfabeto e o de um professor universitário. No meio destes polos, a massa humana comum. E é nesta média que se poderão medir as influências do ambiente social, da qualidade da comunicação, dos hábitos culturais e da sua ausência, do tipo de alimentação e bebidas, sei lá mais quê… Hábitos de sobriedade criarão um ambiente cerebral necessariamente diferente do que acontece com hábitos de alcoolémia.
Neste tipo de circunstâncias, poderá dizer-se que um povo é mais ou menos inteligente que outro? Creio que já não pois, embora os condicionalismos inerentes ao isolamento geográfico e de desenvolvimento cultural condicionem o desempenho cerebral, a globalização tem promovido a uniformização dos parâmetros civilizacionais e, daí, que já não possamos dizer que os chineses urbanizados são mais inteligentes que os urbanizados suecos ou australianos.
Tudo isto para dizer que todos temos direito à vida e que ninguém tem o direito de se sobrepor aos outros. O colonialismo já lá vai com todas as virtudes e vícios que teve.
Eis por que, no novo mundo pós viral, deveremos apostar na solidariedade internacional, sim, mas sem gigantismos avassaladores dos de menor dimensão. Até porque, mais do que a famosa expressão small is beautifull, devemos admitir que small may also be usefull.
(continua)
Abril de 2020
Henrique Salles da Fonseca