CLAUSURA – 12
À pergunta do porquê escrever curto, respondo que o faço por várias razões sendo que a primeira tem a ver com o facto de escrever para gente culta e inteligente e, daí, não serem necessários muitos prolegómenos. Se a isso somarmos o estilo enxuto que cultivo com perda para os adjectivos, resultam textos curtos. Mas também escrevo curto para não dar largas à ignorância – definir parâmetros gerais e quem quiser que se dedique aos pormenores e às excepções. Não gosto de repisar um mesmo tema até à náusea; há mais temas à espera de serem abordados.
Escrevo curto porque faço frases curtas, apenas com sujeito, predicado e complemento directo, raramente com um complemento indirecto e, aí, sim, com alguns parêntesis ou travessões. Mas estes são isso mesmo, apêndices que não pertencem propriamente à frase. Podia transformá-los em notas de pé de página mas já estou a imaginar os leitores a blasfemar por terem que desviar a atenção para o fim da página ou, pior, para o fim do texto.
É fácil escrever curto: basta saber exactamente o que se quer dizer e, sobretudo, antes de pegar na caneta ou de atirar os dedos para cima do teclado, saber como acaba a história. Isso permite ir direito ao objectivo final em vez de andar a vaguear sem rumo ao longo das páginas e da paciência do leitor.
Escrevo curto porque os meus leitores têm muito mais que fazer do que perderem tempo com floreados literários.
Finalmente, escrevo curto porque concedo a Immanuel Kant o monopólio de meter cinquenta ideias numa só frase e assim se tornar ilegível por gente normal.
(continua)
Abril de 2020
Henrique Salles da Fonseca