CITANDO...
... Ernest Gellner in PÓS-MODERNISMO, RAZÃO E RELIGIÃO, ed. Instituto Piaget, pág. 95 e seg.
Durante a época colonial, a (...) governação indirecta consistira em privar o rajá ou o emir locais de uma parte do seu poder encorajando-o, todavia, a aumentar e acentuar a pompa e o ritual que o caracterizavam por forma a tornar ainda mais visível a estrutura ritual. Se assim é, então a descolonização fez, com certeza, deslocar o poder de atracção para a vertente cultural em detrimento da dimensão social, encobrindo-a, a fim de que fosse estabelecida uma ligação concreta entre a descolonização e a viragem hermenêutica.
(...)
O estado pós-colonial é, com frequência, um estado ideológico vinculado a aspirações absurdas no que diz respeito à sua sociedade - o tribalismo foi superado, as classes antagónicas e as minorias irredentistas deixaram de existir, tendo aderido de bom grado ao grupo dominante. O novo Oficial de Distrito mostra-se, na realidade, muito inseguro assegurando um equilíbrio delicado entre as pressões locais e as intrigas da hierarquia a que pertence e lhe confere imensos privilégios que deseja conservar a todo o custo. A última coisa que deseja é um investigador [antropólogo] estrangeiro imiscuindo-se no seu território, minando a sua autoridade com o seu flagrante estatuto independente em relação à mesma - uma vez que não pode ser impedido de regressar à sua sociedade de origem, nem de visitar quem muito bem lhe aprouver - pondo assim em perigo a imagem oficial ao relatar eventualmente que o tribalismo grassa, que as diferenças de classes são enormes e sentidas de modo incisivo e que as minorias étnicas revelam um descontentamento preocupante.
CONCLUINDO
Eis por que muitos Estados pós-coloniais se fecham em casulo numa tentativa de esconderem - aos outros e sobretudo a si próprios - o fracasso do idealismo apregoado e para que vinguem o heroismo decretado e a mentira não piedosa.
E PERGUNTANDO
De quanta mentira é feita a História?
Henrique Salles da Fonseca