CASSANDRA
Sacerdotisa de Apolo, Cassandra era bela a ponto
de o próprio deus por ela se apaixonar e de lhe
conferir o dom da profecia. Mas recusando-se ela
a ceder aos avanços do apaixonado, este lançou
-lhe a maldição de ninguém acreditar nas
profecias que fizesse.
Assim estão os econometristas que se entretêm a construir modelos matemáticos que supostamente representam a economia de um país e com base nos quais profetizam o que vai suceder no futuro económico. Só que a distância entre as previsões e a realidade medida quando o futuro se transforma em presente é vulgarmente tão grande que já pertence à gíria dizer-se que «os econometristas são muito bons a prever... o passado». Cassandras em toda a linha!
E para que servem então essas declarações tão solenes em periódicas conferências de imprensa de que o PIB de tal país vai crescer tantos por cento ou o emprego vai decrescer outros tantos pontos percentuais? A resposta só deveria ser uma: para nada! Mas infelizmente não é assim. Na realidade, servem para justificar a manipulação da informação e esta serve para provocar oscilações bolsistas tanto em títulos de rendimento variável ou fixo como nas taxas de juro dos mercados de capitais, etc. E se a especulação é a base natural do funcionamento bolsista, a manipulação da informação é uma infâmia.
E onde está a origem do mal? Nas profecias em que ninguém de boa-fé acredita: acabemos com a manipulação; acabemos com a má fortuna de Cassandra.
Sim, os modelos econométricos são muito interessantes como instrumentos académicos mas muito perniciosos cá fora das Universidades.
Mandemos calar quem se puser por aí a dizer que a economia vai crescer, decrescer ou manter-se porque seguramente não sabe o que diz e pode não ser tão bem intencionado como nós gostaríamos que fosse.