CASA DO GAIATO
Há cerca de um mês (final de Março) a SIC e outros órgãos de comunicação, em Portugal, escreveram e divulgaram na TV uma matéria “malhando” na Casa do Gaiato, a Obra de Rua, que eu conheço bastante bem e que defenderei sempre que achar oportuno.
Burrice do jornalista que fez a matéria porque mal informado, sentadão na sua cadeira de maledicência, irresponsável. Porque o jornalista não se foi informar? A resposta é simples: ou porque não é jornalista ou porque decidiu politizar o impolitizável!
É fácil ter uma caneta nas mãos e escrever sobre o que se desconhece, e, pior, ficar impune.
Um dos padres desta GRANDE obra, indignado, escreveu no magnífico jornal “O Gaiato”, que eu leio todos os meses com um prazer imenso, o texto abaixo que reproduzo, e vejam algumas fotos do que se passava em Moçambique há 15 anos!!! E muito tem progredido.
Pontos nos ii
Padre Acílio – Casa do Gaito de Setúbal
De vez em quando a comunicação social, por meio dos seus jornalistas, lembra-se de, confusamente, atacar a Casa do Gaiato e isto obriga-me a por os pontos nos ii.
As Casas do Gaiato nasceram da situação miserável dos pobres, na alma do Padre Américo e só se devem chamar assim, enquanto tiverem à sua cabeça, um padre pobre, isto é: que não ganhe nada, come à mesa com os rapazes, vista e calce do que lhe dão ou lhe entregam para dar aos pobres, vive na Casa do Gaiato com os rapazes e nela trabalha todos os dias e fins-de-semana, sem folgas e muitos anos a fio sem quaisquer férias.
Refeitório para os 160 gaiatos mais os responsáveis – Moçambique
Dá a sua vida aos rapazes e aos pobres como qualquer pai zeloso, se entrega aos seus filhos, tantas vezes num silêncio doloroso que só Deus avalia.
É um homem pobre, sem carro, sem casa, sem família e sem amigos. É homem dos pobres na sequência de Jesus de Nazaré que não tinha uma pedra para reclinar a cabeça. Não tem reforma, nunca descontou, não tem idade para se jubilar e dá a sua vida até ao desgaste final.
Esta é a situação real dos padres da Casa do Gaiato que por isso se chamam Padres da Rua.
As Casas do Gaiato são igualmente Obras que têm como mães de família. Senhoras Consagradas à vida de Jesus, não ritualmente, mas na realidade, nas vicissitudes diárias dos rapazes com a atenção e o desvelo de uma diligente mãe de família, como os padres da Casa do Gaiato. Sem Sábados nem Domingos e alguns anos sem férias nem retiros numa oferta contínua, heróica e silenciosa a gerações e gerações de rapazes.
Estas são SÓ parte das camisas acabadas de lavar.
E faltam aqui as calças, cuecas, pijamas, meias e agasalhos!
As Casas do Gaiato são instituições pobres, sem qualquer apoio do Estado, onde se aproveitam e promovem todos os valores e qualidades dos rapazes sem menosprezar técnicos das diversas áreas da ciência educacional como psicólogos, pedopsiquiatras, neurologistas e outros, mas onde os rapazes são encaminhados, a viverem um auto-governo, como Obra de Rapazes, para Rapazes, pêlos Rapazes.
Uma instituição que não goze destas características não pode e não deve ser chamada de Casa do Gaiato. É uma mentira a reclamar para si este nobre nome.
Compete a quem de direito repor a verdade e não andar a mentir.
Se, por desgraça, alguma das actuais Casas do Gaiato da Obra do Padre Américo deixar de ser assim, já não é uma Casa do Gaiato, terá de ter outro nome como casa de rapazes, de crianças, de adolescentes, de famílias ou qualquer outro, nunca este célebre nome tão português e cristão que pertence à Obra da Rua e a mais ninguém.
As Casas do Gaiato, são essencialmente instrumentos apostólicos ao serviço do Evangelho e não meras casas de assistência, ainda que meritória.
Creche. Construída e sustentada pela Casa do Gaiato – Moçambique
Chegam onde os Bispos e os Padres não alcançam e fazem-no em Nome do Bispo e da Igreja Católica, por Amor de Deus, dos Rapazes e dos Pobres.
Não será insensatez da minha parte fazer este esclarecimento sobre um assunto que os nossos Leitores bem conhecem, mas que os media mais pesados e mais poderosos teimam em pôr em causa.
Os jornalistas destas empresas, pagos para escandalizar o povo, com meias verdades, nem de longe sonham a dureza da vida dos Padres das Casas do Gaiato; e então, de forma ambígua, dão notícias, pisando as regras mais elementares da lógica para confundir todos e vender o seu peixe que é quase sempre demolidor e raras vezes construtivo.
Já estou habituado, mas à essa pobre gente também quero dizer, com as devidas distâncias, como Paulo na 2a Carta aos Coríntios. No princípio e para levantar esta Casa, passei fome e frio.
Nalguns Invernos enrolava-me num cobertor para vencer a noite e conseguir o sono. Felizmente esta carência está hoje largamente ultrapassada e distribuímos muita roupa aos pobres.
Comprei, uma vez, um cinto para segurar as calças. Fiz cerca de um milhão de quilómetros numa motorizada, em duas lambretas e duas vespas e em motos emprestadas, de Inverno e de Verão à geada e à chuva.
Com a camioneta da Casa, carreguei, da Secil, toda a pedra oferecida para construir as nossas oficinas e as nossas escolas, que agora, também por virtude das mentiras e calúnias, estão fechadas.
Enchi com os rapazes, à pá, milhares e milhares de sacos de cimento, no meio de muito pó dele, de tal modo que os encarregados da Secil, com pena de nós, ofereciam máscaras para taparmos a boca e o nariz.
Várias vezes caí nos motociclos, fazendo em certa ocasião um buraco numa perna e perdendo os sentidos. Noutra altura a lambreta avariou em Lagos e não tendo dinheiro para reparação, fui pedi-lo ao pároco que me deu cama, mesa e pagou a dívida.
Ceifei arroz à mão, muitos anos, com os rapazes e debulhei-o até altas horas da noite para com o dinheiro dele pagar as dívidas feitas ao longo do ano.
Agarrei no tractor, lavrei, gradei, semeei, sachei e colhi vários alimentos ao longo dos anos.
Casas para viúvas que tudo perderam com uma catastrófica cheia
Se saí para o estrangeiro foi para o meio dos pobres de Angola, São Tomé e Moçambique, e, por lá, sempre trabalhei para os ajudar e não ser pesado a ninguém.
Por duas vezes, tive viagens e hotéis pagos, oferecidos para ir a Roma e à Terra Santa, e nunca tive tempo.
Não me devia gloriar, antes estar calado, mas essas pessoas sequiosas de atacar quem faz o bem, precisam de saber que uma Casa do Gaiato, é uma realidade séria com que não se deve brincar e muito necessária no tempo em que foi criada — e ainda hoje, com tanta miséria escondida e tão desoladora indiferença.
Se é preciso gloriar-me da minha fraqueja, gloriar-me-ei, mas Deus, que conhece os corações, sabe que não minto.
A Ele peço perdão desta amostra, o resto é com Ele!
A vida dos Padres das Casas do Gaiato da Obra da Rua é toda ela, semelhante e nalguns muito mais heróica que a minha.
Quem achar de interesse, por favor, divulgue.
E o jornalista que faça mais e melhor! Ou então cale a boca.
29/04/2016
Francisco Gomes de Amorim