CARTA
Quando te escrevo, meu amor
e nunca escrevo
vai a minha alma inteira
nessas linhas
e escrevo palavras comezinhas
sem encanto, sem esplendor
sem poesia
palavras
sem prata de luar
sem luz do dia
palavras
onde a noite principia
nas sombras que dou
a qualquer carta;
quando te escrevo, meu amor
nada te digo
da saudade de ti, de nós
do mundo
nem falo
do luto profundo
que habita cá dentro
em minha voz
nas palavras que calo
que não canto;
ah meu amor
como dói tanto
calar
nas cartas que não escrevo
as notícias que tenho pra te dar!
Mas sei
que as cartas que não escrevo
o vento tas irá levar!... Maria Mamede