CARPIR É PERDA DE TEMPO
Sim, todos estamos fartos de saber que o 25 de Abril de 1974 foi um golpe de Estado comunista cujo objectivo foi o de pôr o Império Português na subordinação do Império Soviético e de instalar em Portugal um regime que não fosse hostil à União Soviética.
Depois de, pelos nossos próprios meios, termos impedido a concretização das veleidades comunistas em Portugal, não vale a pena continuarmos a carpir sobre o leite derramado, não vale a pena continuarmos a dizer que Mugabe é um malandro e os de Angola e Moçambique – que fizeram precisamente o mesmo que o dono do Zimbabwe – são uns heróis, não vale a pena continuar a sonhar com um regresso a um passado que, por muito confortável que fosse para uns quantos, não podia, globalmente, continuar como estava e tinha que evoluir. Só que com uma evolução que não passasse por mais flagelos, que fosse democrática no sentido humanista, não no sentido soviético, essa fraude.
Eu tive uma forte esperança em Marcello Caetano e indigno-me quando me lembro de que foram os ultra-conservadores do Estado que ainda se dizia Novo que impediram a evolução no sentido da Democracia em Portugal e no da autodeterminação das Colónias. Simultaneamente, nunca acreditei no General Spínola como chefe alternativo que nos conduzisse no sentido que eu julgava ser o necessário. A minha solução exigia o afastamento político do Almirante Américo Thomaz e de quem o apoiava, os tais ultras, passava pela criação de Partidos, pelo fim do policiamento político, pela extinção da Censura, etc., tudo aquilo que a União Soviética não queria que acontecesse em Portugal.
Mas tudo isso já lá vai, não vale a pena carpir. Para trás é a burra que age.
Eis por que não comemoro o 25 de Abril de 1974 e desdenho quem o comemora e porque comemoro, sim, o 25 de Novembro de 1975 e quem o executou.
Não perco, pois, o meu tempo com saudosismos balofos e antes me entusiasmo com o que tenho pela frente. O quê? A concretização das relações de paz e em total equidade com todos aqueles povos que alguma vez na História próxima ou longínqua foram governados por nós, a quem legámos valores que eles por lá ficaram a defender tantas e tantas vezes rodeados de hostilidade ou apenas por desdenhosa indiferença. São esses que fazem o meu futuro e creio que muitos de nós, serenamente, havemos de construir uma pluri-nacionalidade lusófila, harmónica, equitativa, de paz.
Quem não concordar comigo, brade pelas «mais amplas liberdades»; quem concordar comigo, defenda a liberdade, essa que, ela sim e só ela, é unicitária.
Lisboa 24 de Abril de 2016
Henrique Salles da Fonseca