CAMINHO DA INFELICITAÇÃO – VI
Viagem a fases pretéritas do nosso
(de)crescimento económico
em companhia do
Prof. José da Silva Lopes
No século XXI (Silva Lopes já reformado), a conjuntura político-económica piorou consideravelmente. A «elite» europeísta descobriu o maná do betão e conseguiu fazer de Portugal o único país do mundo que tem mais quilómetros de auto-estrada do que de via-férrea. Tudo feito à base do endividamento. A divida externa atingiu o nível estratosférico de 220% do PIB e a soberana portuguesa foi classificada lixo pelas agências de rating.
Terminadas as obras, o índice de desemprego continuou a subir. Caímos de novo sob a pata do FMI (agora troika) que agora nos tratou com crueldade. Conseguiram os novos controladores externos pôr a careca à mostra a alguns dos prevaricadores internos, mas não conseguiram (ainda) estancar o crescimento da divida externa, dar solução ao desemprego, nem melhorar o nível salarial e respeitar as pensões de reforma.
Interrogado na sua última entrevista (Dezembro, 2004) Silva Lopes disse: "A situação tem-se degradado nos últimos dez anos. E aqui já entra o meu pessimismo. O nosso crescimento económico tornou-se progressivamente mais fraco. E desde 2001 está abaixo da média europeia. Estamos a divergir da Europa. Pode dizer-se que é uma flutuação cíclica, que vamos sair da crise. Mas acho que é mais do que isso. À escala europeia as perspectivas também não são brilhantes. O mundo tem um fenómeno novo: a China e a Índia. Os europeus avançados podem refugiar-se em indústrias de ponta ou em produtos e marcas reconhecidas mundialmente. Os chineses ainda vão demorar algum tempo a chegar lá. Mas já chegaram a onde nós estamos: vestuário, calçado, plásticos. Acresce que as nossas condições estruturais para crescer são assustadoras. Com destaque para o problema da educação. Apenas 20% da população activa tem o 12.º ano de escolaridade. O normal na Europa é 80%. Temos um abandono escolar até ao 12.º ano superior a 40%. Mesmo que se faça alguma coisa, que não se está a fazer, daqui a 30 anos estaremos com uma qualificação da mão-de-obra inferior à média europeia de agora. Assim não podemos pensar em ter o mesmo crescimento económico que o resto da Europa. É completamente impossível. E o que mais me revolta quando falo de educação é que as pessoas em Portugal sabem isto e não há capacidade para fazer seja o que for. Anda-se a fingir que se faz reformas educativas. Temos também o problema da Justiça. Talvez custe 2% ou 3% do PIB em custos de ineficiência".
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Já agora, se me é permitido adicionar curto comentário, diria que as deficiências que a nossa economia revelou ao longo deste meio século – e ditaram o seu declínio acelerado a partir dos anos 70 – são irmãs: têm todas a mesma mãe e esta é a falta de confiança, pressuposto básico da economia de mercado na qual temos que nos inserir. Enquanto não conseguirmos criar confiança entre nós e as nossas instituições, a começar pelas políticas, não privilegiarem a fidúcia e a autenticidade, continuaremos condenados a trilhar o caminho da infelicitação.
FIM
Estoril, 10 de Maio de 2015
Luís Soares de Oliveira