BOM DIA
Hoje, desci à parada
para ouvir
o acordar da passarada
e do meio de tanta algazarra
saltou uma ordem de não sei quê
a que se seguiu um instante de silêncio.
«Rapaziada» bem mandada,
pensei eu.
Mas logo de seguida
volta a gritaria da alegria de viver.
São eles melros, pardais e outros que tais…
E o Sol nasceu, a passarada, acordada, voou
até que o último «piu»
se confundiu com o «mio»
do gato local que por ali passou.
Deste, não lhe ouvi as pégadas a bater na calçada
nem sequer o restolhar nos canteiros das flores
mas vi-o e senti-o quando
me veio cumprimentar
a roçar-se nas minhas pernas
e a agradecer a cama nova
que lhe pus na casota ali ao canto do jardim.
E foi assim,
nesta paz serena de limites definidos,
que me lembrei de que nem sempre
os pássaros cantam livres,
os gatos se roçam nas nossas pernas
e o homem cofia os bigodes tranquilamente
sem pensar que possa estar
na mira da espingarda de alguém.
E o gato lá foi às sopas da vizinha…
E eu, bigodes cofiados,
dei meia volta,
subi a escadaria
e fiz-me ao dia.
BOM DIA!