BALBÚCIOS E TRISMOS
Desengane-se quem pensa que os tribunos da esquerda – depois da débâcle a que nos conduziram – se limitam a balbúcios e apenas se contorcem em trismos populistas. Não, eles não hesitam na retoma das suas grandes parangonas que travestem de alguma dignidade «pour épater les bourgeois» ou talvez mesmo «pour les tromper».
Por exemplo, insistem na criação de milhares de empregos pelo relançamento do consumo que têm como motor do desenvolvimento. Mas numa economia aberta com fraca produção instalada, isso só pode provocar a derrocada dos saldos externos, nomeadamente da Balança de Bens. O Turismo – serviço transacionável por excelência – não é suficiente para compensar a nossa tradicional e enorme (se não mesmo recordista internacional) propensão marginal à importação.
Já bastaram experiências de modelos errados que nos levaram por três vezes a estender a mão à caridade internacional. E, mesmo assim, essa caridade vence juros.
A produção de bens e serviços transacionáveis, sim, é o modelo de desenvolvimento em que temos que apostar e os Bancos terão que ser penalizados pelo Banco de Portugal se não cumprirem um máximo de endividamento sobre os mercados interbancários de 50% dos seus capitais próprios.
E nós, os que acreditamos no modelo produtivo, não temos o direito de nos ficarmos por balbúcios e trismos.
Agosto de 2015
Henrique Salles da Fonseca