AVIGNON - 3
ou
«MALGRÉ PARIS»
«ACH…!!!» e «BUFFF…!!!» - eis duas expressões que os franceses usam a esmo já mesmo sem saberem porquê. Mas, na origem, ambas expressam o enfado (para dentro) e o desprezo (para fora) de terem que ouvir estupidezes quando ditas em surdina ou de modo mais veemente se o «ofendido» sentir que lhe estão a coarctar os seus sacrossantos e inalienáveis direitos. A este tipo de expressões (que nem sei se se podem classificar como omanotopaicas) eu chamo grunhidos.
Então, a institucionalização do grunhido como instrumento verbal de comunicação humana, começou com a queda dos Valores religiosos e, daí, a queda dos correlativos Valores morais – tardou a implementação da Moral Laica (Republicana); queda dos Valores Éticos de inspiração religiosa – deficiente implementação de um Código de Ética Republicana com prevalência dos Direitos e algum esbatimento dos Deveres de Cidadania, assumpção do «carpe diem» com voracidade.
Eis o pós-modernismo exaustivamente dissecado por Gilles Lipowetsky, eis o urbano-comprimido amoral, aético, associal, o titular de todos os direitos a quem tudo é devido e que bufa constantemente desprezíveis «BACHs…!!!» e «BUFFFs…!!!».
Foi esta a França que NÃO vi!
Perguntados, o Senhor Cheminot e a Senhora Cheminée apressaram-se a dizer que isso é o que acontece na região de Paris. O resto de França continua em paz consigo própria, as pessoas são cordatas, a vida flui docemente…
Ao que respondi: - VIVE LA FRANCE (malgré Paris).
E assim saudámos o ano novo.
3 de Janeiro de 2022