AS DUAS FACES DA MOEDA
ou
O GRANDE TEATRO DE CAPITAIS
Personagens e intérpretes por ordem de entrada em cena:
«Dinheiro barato» - Mário Draghi; «Dinheiro caro» - Christine Lagarde.
ACTO 1
- CENA 1 – Economia europeia lenta
- Para obrigar o investimento a saltar para a frente do desejado desenvolvimento, Draghi desenvolveu a política dos juros tão baixos que chegaram a negativos levando também o BCE a entrar no mercado primário das dívidas soberanas;
- As poupanças sairam do entesouramento (que passara a ter rentabolidade negativa)e (como Draghi queria) optaram por aplicações mesmo que de modesta rentabilidade;
- A política dos juros negativos conduziu à remuneração negativa das dívidas públicas e, daí, a avultados ganhos dos Estados devedores e a elevadas perdar dos respectivos credores.
No cenário do «Dinheiro barato»…
- … os investimentos de modesta TIR puderam ver a luz do dia porque os custos de capital eram baixos e porque os capitais preferiam uma remuneração modesta em vez de uma negativa;
- …aos projectos de elevada TIR também não faltavam (obviamente) os capitais necessários.
CENA FINAL DO ACTO 1
Com Draghi, a economia europeia «mexeu» porque os capitais eram baratos.
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INTERVALO – as pessoas dirigem-se ao «foyer» e conversam…
… o negócio bancário lida mal com dinheiro barato e pessimamente com juros negativos, há que mudar o cenário (de genericamente protector do devedor para assumidamente protector do credor; de defensor dos países perdulários do Sul para defensor dos frugais do Norte europeu) e também o intérprete.
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ACTO 2
CENA 1 – Sai Draghi e entra Lagarde.
- Sem solavancos, começam «murmúrios à navegação» de que os juros deixarão de ser negativos e de que as «facility easings» estavam num verdadeiro estado de moribundez,, que a Reserva Federal estava a aunmentar a taxa de juros «para «segurar a inflação» e que nós não podíamos continuar a política draghiana…
- Até que a Rússia invade a Ucrânia e disparam os preços da energia e dos cereais.
- E Lagarde esfrega as mãos de contente pois é necessário aumentar as taxas de juro «para conter a inflação».
- CENA FINAL DO ACTO 2
- Francesa, Lagarde dirá para com os seus botões «Merci, Monsieur Putin!»;
- Ao fundo, ouve-se um coro de frugais entoando carinhosos e agradecidos «VIVAS À CRISTINA!».
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Como se mete pelos olhos de qualquer leigo, a inflação resulta da escassez (ou da putativa escassez) dos produtos inflacionados e nada a move que não sejam as causas que a provocaram, Os juros são consequência e não controlam nada a não ser uma eventual redução do investimento (carestia dos capitais), redução da produção, escassez da oferta, mais pressão inflacionista.
PERGUNTA: - Então, qual é a solução?
RESPOSTA: - Esvaziar o Kremlin de licenciados pela «fábrica de monstros» que é o KGB; acabar com a guerra; integrar a Ucrânia na EUE e respectivos métodos de formação de preços, nomeadamente agrícolas; deixar de mentir sobre a política monetária.
Se as taxas de juros activas para os titulares dos capitais (passivas para a banca) forem inferiores às taxas da inflação, ocorrerá a desvalorização dos capitais postos à guarda do sistema bancário, Ou seja, regressamos à situação draghiana do primeiro acto deste teatro.
BAIXA O PANO
Pelos vistos, esta moeda só tem uma face.
Lisboa, 24 de Setembro de 2022
Henrique Salles da Fonseca