AREIAS DO GUADIANA
Espanha nunca aceitou de bom grado a conquista portuguesa do Algarve com base numa herança de um avoengo qualquer
. Mas a «uti possidetis» vingou por antecipação à inclusão dessa figura (posse efectiva de uma região) no Direito Internacional e o Algarve é português e ponto final na discussão.
Contudo, durante o Consulado Pombalino, correram ruimores de que os espanhóis se preparavam para tomar conta de toda a foz do Guadiana. E o Marquês mandou construir à pressa uma cidade sobre as areias da nossa margem do Guadiana. Chamou-lhe Vila Real de Santo António e mandou os habitantes de Monte Gordo transferirem-se para a nova cidade. As hesitações foram dirimidas com espingardas apontadas às costas.
Antes desta tomada de posse pela força, aquelas areias na margem direita do Guadiana eram esparsamente ocupadas por choupanas de pescadores que tanto podiam ser portugueses como não. Eram transfronteiriços e viviam onde melhor lhes aprouvesse. As areias eram conhecidas por «arenillas» (areiazinhas), nome que, uma vez aportuguesado, se transformou em «arenilhas». Mas o povo logo se encarregou de deitar a baixo o «e» e o nome do local passou a ser Arnilhas.
Nome bem mais apropriado que Vila Real de Santo António que ali foi pespegado por Decreto, não por sentimento. E o sentimento é tal que os vila-realenses ainda hoje se auto denominam arnilhas.
Bem seria que as placas toponímicas nas entradas da cidade ostentassem essa designação entre parênteses por baixo do nome oficial.
Setembro de 2020
Henrique Salles da Fonseca
FONTE – José Pedro Queioga, Tavira