ARÁBIA FELIX – 9
Já faz alguns anos quando, passeando pelo Nordeste brasileiro, cruzei uma localidade que não consegui levar muito a sério por causa do nome que algum pândego lhe fez aprovar: Itapipoca. Bem sei que «ita» significa «pedra» nas línguas tupi-guarani (?) mas a «pipoca» tira-lhe condição para entrar com um mínimo de prosápia na Academia Brasileira de Geografia.
O mesmo se passou agora quando me preparava para arribar a Salalah (صَلَالَة) mas tenho que dar a mão à palmatória pois que ela foi a capital do Sultanato até 1970 quando Qaboos se mudou para Mascate (a hora e meia de avião) com a sua corte e, o mesmo é dizer, com o Governo.
No último recenseamento (2010), tinha cerca de 160 mil residentes mas a guerra no Iémen fechou a fronteira que dista curtos (estrada boa) 170 km e, vai daí, falhou a vocação de grande cidade fronteiriça. Resta uma abertura não garantida na fronteira de Al Mazyunah a relativamente longos (estrada assim-assim, segundo me disseram) 258 km.
Mas o interland salalaiano tem petróleo em abundância e é também a região onde existem as «florestas» de Pittosporum undulatum que produzem o muito valioso incenso. Não nos referiram se também há ouro ou mirra mas fiquei a matutar se os Reis Magos não seriam omanitas. Aceito sugestões alternativas.
É também naquela região que se faz a criação extensiva de camelos de corrida e é na cidade que se localiza a única fábrica de cimento do país. E, claro está, é também lá que funciona a refinaria de petróleo que abastece o consumo interno. Ou seja, a cidade mexe e, não se expandindo em altura, tem avenidas largas e condomínios algo misteriosos com muros a trás dos quais se avistam casas que devem ser boas à séria.
Admito que o incenso possa ser um bom negócio mas a «floresta» que nos foi mostrada, dá uma ideia muito sui generis
E como se sabe da geografia económica, um interior desenvolvido implica quase sempre um litoral desenvolvido (o vice-versa não é garantido), a cidade tem no porto marítimo a sua grande motivação.
Praia da Salalah - o turismo está a crescer e a costa é aprazível já que o interior…
E tudo isto, sem contar com S. Joaquim que esse, no estado fúnebre em que se encontra, não se importa nem se exporta.
Tudo visto e gozado, zarpámos pela hora de jantar rumo à pirataria.
(continua)
Abril de 2019
Henrique Salles da Fonseca
(praia de Salalah)