ARÁBIA FELIX – 5
Zarpando do Dubai um pouco antes da meia noite, navegámos lentamente contra uma ondulação que nos fez afocinhar mais do que o desejado por muitos dos nossos companheiros de viagem e acordámos atracados a Khasab, no exclave omanita na Península de Musandam, o mesmo é dizer que na margem árabe do Estreito de Ormuz.
Dizem os folhetos turísticos que se trata dos «fiordes» de Omã mas… vou ali e já venho. Sim, há penhascos que descem quase na vertical até ao mar mas nada da imponência norueguesa. Também nada que tenha impedido a construção das estradas por que circulámos confortavelmente. Sinuosas, sim, mas nada que assuste turistas experientes em alturas e planuras.
E qual não foi o meu espanto quando o passeio matinal tinha (e teve) como objectivo a visita a um forte português numa das praias a que hoje se acede com facilidade mas que no século XVI só se alcançaria por mar ou pelos penhascos que ainda lá estão.
Então, o mais curioso é que a parte mais «forte» do forte é a que está virada para terra já que do mar não esperavam os portugueses qualquer perigo.
Foi com alguma emoção que constatei o respeito com que em Omã se referem aos portugueses e ao esmero com que preservam a nossa memória edificada.
Perguntado sobre outras memórias da presença portuguesa, o nosso guia (um dos vários egípcios que para ali foram depois de o turismo ter caído a pique no seu país devido à instabilidade provocada pela Irmandade Muçulmana) referiu que há diversas localidades na região de Musandam e algumas ilhas no Estreito cujos habitantes – maioritariamente pescadores - se dizem portugueses e que falam um dialecto próprio.
Talvez um dia haja um operador turístico que se preocupe com este género de ocorrências históricas e proporcione visitas a estes (e outros) «portugueses abandonados». Talvez…
(continua)
Março de 2019
Henrique Salles da Fonseca
(no forte português de Khasab, Omã)