ARÁBIA FELIX – 14
Alvorada pelas 6 da manhã, pequeno almoço pelas 7, início da excursão a Petra pelas 8. Rodas à viagem para fora de Aqaba pelas 8,30 em estrada relativamente boa, paralela ao caminho de ferro, vale acima por onde Lawrence da Arábia veio por ali a baixo.
Aridez seguida de mais aridez, mesmo assim topei com 4 ou 5 muros de contenção das chuvas e respectivos aluviões, antes que assolem a cidade lá no fundo. Noutros locais, chamaríamos represas ou mesmo mini-barragens mas ali não passam de muros de contenção de lamas. Mas estão cheios pelos aluviões anteriores e que, caso aí venha nova chuvada, servirão mais de trampolim do que de retenção. Perguntado, o guia não me respondeu sobre há quanto tempo por ali não chove; já não lhe perguntei sobre a previsão meteorológica porque ele vive em Amman, não deve saber destas particularidades do extremo Sul e estava ali para receber as comissões dos lojistas, não para nos responder a curiosidades não previstas no programa que lhe tinham consignado na agência de turismo.
Jordânia – no caminho de Aqaba para Petra
Até que o vale subiu, subiu e se transformou num planalto onde há vida com aldeias e seus minaretes, culturas (de sequeiro, claro) e animais por aqui e por ali.
Miséria? Não no conceito que eles próprios possam atribuir à condição de miserável mas, para nós, aquela é por certo uma vida muito contida. E, mesmo assim, o grau de insatisfação leva aquela gente a emigrar com uma certa militância. Vê-se o investimento feito pelos emigrantes que ali vão construindo casas algo desenquadradas das outras construções, como aquelas a que no nosso Norte chamamos as «casas tipo maison».
Foi também por causa deste afluxo de capitais que admiti que o câmbio da moeda jordana, o Dinar, equivalente a cerca de USD 1.50, não seja assim tão absurdo como de início me pareceu. Absurdo, sim, mas não tanto como pensei antes. É que a Jordânia – à semelhança de outros que bem conhecemos… – vem sendo apoiada financeiramente por várias instituições tais como o FMI e a UE. Em 2016, o pretexto para o apoio foi o acréscimo de custos que o país teve com os refugiados sírios. Mas, porquê aquele câmbio? Não me vou deter mais no tema pois que estou em turismo, não numa conferência sobre finanças internacionais ou de mercados de capitais. De uma coisa tenho a certeza: aquele câmbio não resulta das forças económicas naturais mas apenas de algum Decreto.
Assim meditei durante as cerca de duas horas de viagem por meio de paisagens lunares ou marcianas, até que chegámos a Petra, cidade enclausurada num desfiladeiro que os jordanos actuais não resgataram assim tanto lá das profundezas em que os nabateus se enfiaram nos tempos idos. Porquê tão fundo? Água, certamente.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca
(junto a um neo-nabateu que cobra € 1,00 por foto)