(*)
Trago os olhos naufragados
Em poentes cor de sangue...
Trago os braços embrulhados
Numa palma bela e dura
E nos lábios a secura
Dos anseios retalhados...
Enrolada nos quadris
Cobras mansas que não mordem
Tecem serenos abraços...
E nas mãos, presas com fitas
Azagaias de brinquedo
Vão-se fazendo em pedaços...
Só nos olhos naufragados
Estes poentes de sangue...
Só na carne rija e quente,
Este desejo de vida!...
Donde venho, ninguém sabe
E nem eu sei...
Para onde vou
Diz a lei
Tatuada no meu corpo...
E quando os pés abram sendas
E os braços se risquem cruzes,
Quando nos olhos parados
Que trazem naufragados
Se entornarem novas luzes...
Ah! Quem souber,
Há-de ver
Que eu trago a lei
No meu corpo...
Alda Lara
(*) Augusto Penteado