ANDA COMIGO – 25
Chegada a Toulouse à hora de um almoço tardio, assim como que à espanhola. E, já que em occitano (a língua do sul de França) esta cidade se chama Tolosa, que fique claro que nada tem ela a ver com Navas de Tolosa onde em 1212 se travou «a batalha» de que resultou o princípio do fim do Califado almóada. Muito interessante, sim, mas nada disto tem a ver com Toulouse. Adiante…
Foi aqui que me lembrei dos visigodos que assentaram nesta região durante muito tempo, do pastel (que foi o antepassado do índigo) e do Caravelle, o avião. Para além, claro está, do famoso Lautrec.
Eram horas de partida, seguiríamos pelo sopé francês dos Pirinéus, passaríamos à margem de Pau, a cidade onde nasceram os grandes prémios automobilísticos franceses mas para nós, gente de cavalos, aquela era a cidade do comerciante que enviou muitos trotadores para Portugal. Portanto, bem ou mal, para mim, Pau era a capital dos trotadores. Vimo-la ao longe, pela nossa esquerda. ´Tomámos o caminho de Hendaye onde pernoitaríamos ao fim de uma jornada com 350 quilómetros.
Nas redondezas da fronteira, aproveitámos um camping em França pois não tínhamos visto nenhum do lado espanhol. Já nos sentíamos quase «em casa» e, como os cavalos, estávamos «com a crença na cocheira».
No dia seguinte, entrando pela Espanha dentro, esperavam-nos alguns esticões quilométricos pelo que havia que dividir as etapas tão bem quanto possível para que o nosso Conducător não se martirizasse muito.
Levantado arraial ao mesmo tempo que o Sol, passámos a fronteira e fizemo-nos à estrada por ali fora… San Sebastian ficou-nos à direita e vá de pormos Vitória à frente do tablier. Chegámos cedo, eram só 180 quilómetros desde a fronteira. Mas como desta vez iríamos por Madrid, não era justo pedir mais 250 quilómetros. Ficámos em Burgos num local que, em princípio, não teria vacas por perto. Contudo, o nosso Comandante já estava impaciente por chegar a casa e a meio da noite deu ordem de levantamento do arraial. Chegámos a Madrid pela alvorada e, sem pararmos, lembrei-me da «Alborada del Gracioso» de Ravel. Calei-me, não assobiei nem cantarolei, lembrei-me apenas. E assim foi que nos atirámos a mais 400 quilómetros até Badajoz. E, aí, faltavam 40 quilómetros para chegarmos ao fim da nossa viagem, Stª Eulália, herdade de Font’Alva.
Chegámos pela tardinha e quem mais mereceu louvores foi o fidelíssimo «pão de forma», essa formidável carrinha Volkswagen que ao longo de 7660 quilómetros apenas pediu que se lhe desse algum combustível.
E é chegado o momento de dizer que sempre que citei o «nosso Comandante», era ao meu saudoso tio Engenheiro Fernando Sommer d’Andrade que me referia. Depois desta viagem, foi ele que trouxe para o nosso hipismo o modelo de certificação desportiva que encontrámos na Alemanha, foi ele que fez construir o picadeiro coberto (que tem o seu nome) na Sociedade Hípica Portuguesa, em Lisboa, assim dando o arranque para a constituição do maior centro hípico português e foi ele que nos proporcionou, aos rapazes, uma visão inicial do mundo para além dos curtos horizontes que tínhamos até então.
Passados 59 anos, deste grupo de viajantes, também já nos falta o Nan, o mais novo de nós, os rapazes.
Aos dois Fernandos, pai e filho, eu digo: – Adeus, encontrar-nos-emos de novo, esta é a nossa fé.
FIM
Maio de 2020
Henrique Salles da Fonseca
Quilómetros na volta, de Ivrea a Stª Eulália (Elvas):
Ivrea– Grande São Bernardo ~ 120 kms
Grande São Bernardo – Montreux ~ 80 kms
Montreux – Genève ~ 80 kms
Genève – Grenoble ~ 145 kms
Grenoble – Avignon ~222 kms
Avignon – Cannes – Nice ~260 kms
Nice – Cannes - Monpellier ~ 330 kms
Monpellier – Carcassonne ~ 150 kms (litorl)
Carcassonne – Toulouse -~95 kms
Toulouse – Pau ~ 200 kms
Pau – Hendaye ~ 150 kms
Hendaye – San Sebastian ~ 30 kms
San Sebastian – Vitória – 100 kms
Vitória – Burgos - Madrid ~ 360 kms
Madrid – Badajoz ~ 410 kms
Badajoz – Stª Eulália ~ 35 kms
TOTAL DO REGRESSO ~ 2767 Kms
TOTAL DA IDA ~ 4893
TOTAL DA VIAGEM ~7660 Kms