Ambliopia - 2
ANTANHA TUPI
Wagner, Mahler, Strauss (o alemão, o sério, o Richard, não os valsantes), Schönberg – todos iguais, todos diferentes. Inconfundíveis, mas cada um a fazer-me lembrar os outros. Sonoridades não longínquas, acordes e dissonâncias, todas primas e primos uns dos outros. Só os dramas os distinguem na mesma saga a que o neto da avó tupi se referiu ao chegar a Nova Yorque para o auto exilio a que se votou, Thomas Mann, dizendo “onde eu estiver, está a Cultura Alemã”.
Wagner e a mitologia germânica trazida à boca de cena para o refulgir da glória dos hiperbóreos – debalde, o Kaiser caiu; Mahler e as convulsões sócio- politicas da aproximação da decadência austro-húngara, o bluff a chegar ao fim e nem a “Canção da Terra” levou aquela gente a pôr os pés no chão e a perceber que o mundo já não era aquele em que ainda se imaginavam; Strauss, o compositor do infinito, aquele que em desespero, faz a flauta trinar no final da última das quatro canções, a dizer que a vida continua para além da morte…
…da morte da própria da Nação Alemã.
Schönberg, a confirmar que havia esperança na ressurreição, um halo do passado sobre o futuro que se abria…
Segue-se Alban Berg mas esse, atonal, está noutra escola, numa sonoridade com que a avó de Thomas Mann nada tinha a ver. E com os outros também não.
Maio de 2019
Henrique Salles da Fonseca