AMAZÓNIA – 5
O «IBEROSTAR Grand Amazon» é um belo navio com 72 cabines, o que equivale a uma capacidade de hospedagem para 144 passageiros.
Ideia inicial de um brasileiro a quem terão faltado os «meticais», foi o projecto posto à venda e procurado quem o comprasse. Saiu vencedora a empresa espanhola IBEROSTAR que é proprietária de uma rede hoteleira de certa dimensão que introduziu algumas alterações no projecto (consta que para poder dizer que se trata de um projecto espanhol, o que é totalmente discutível) e mandou-o construir em Manaus[1].
Concebido para navegar nos rios que o viram nascer – o Negro, o Solimões e o resultante Amazonas – é suposto não ir ao mar pois só tem 2 metros de calado. E não tem nada que ir ao mar pois é ali que ele pertence com enorme vantagem para a economia amazónica.
O cruzeiro tipo implica zarpar de Manaus, passear 5 dias no Solimões, aportar de regresso a Manaus e zarpar de novo mas agora para um passeio também de 5 dias no Negro. Há quem faça só uma das duas partes mas nós fizemos o programa completo e ficámos com pena quando tudo chegou ao fim. Da primeira parte transitámos 12 foliões para a segunda e foi nesta que a lotação praticamente fez o pleno.
Logo no primeiro dia fomos visitar uma família cabocla que nos mostrou a sua casa, o seu modo de vida, a culinária típica, enfim, o seu mundo. Vivem numa casa de madeira relativamente ampla no topo de uma margem a salvo das cheias cíclicas mas, na dúvida, erigida em palafita.
Caboclo[2] (caboco, mameluco, caiçara, cariboca ou curiboca) é o mestiço de branco com índio, ribeirinho que vive nas margens dos rios, mas também era a antiga designação do indígena brasileiro. Pode também ser sinónimo de caipira.
Posto flutuante de abastecimento de combustível
Os caboclos formam o mais numeroso grupo populacional da Amazónia entrando na contagem dos cerca de 44% de pessoas consideradas pardas no Brasil, grupo que também inclui mulatos, cafuzos e várias outras combinações da mistura de negros ou índios com outras raças, como negro e oriental, índio e oriental, etc. Economicamente, são pequenos produtores familiares que vivem da exploração dos recursos da floresta e da pesca.
O caboclo vive próximo do igapó (floresta alagada) e navega pelos igarapés que são as passagens para as canoas por dentro dos labirínticos igapós. Imagine-se o nosso espanto, turistas desprevenidos, quando constatámos que, naquela casa erigida em local tão remoto, havia luz eléctrica, arca frigorífica, TV satélite, etc.
Igapó – foto feita quando navegávamos num igarapé
Foi Lula da Silva que lançou o programa «Luz para todos» e não nos podemos agora admirar que esta gente tenha por ele uma admiração certa. “Roubou mas fez” – ouve-se dizer. Mas eu, estrangeiro, tive mais que fazer do que me imiscuir na política brasileira.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca
(no jardim da casa do caboclo)
[1] Informações que me foram dadas pelo próprio Comandante numa das curtas conversas que tivemos.
[2] A palavra "caboclo" procede do tupi kari'boka, que significa "procedente do branco"; não confundir com “carioca” que significa “casa do branco”.