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A bem da Nação

A VIDA É JOGO

 

 

“É sonho”, disse Calderon, que o livre arbítrio ajuda a definir,

Comandado pelo destino, como Édipo bem sentiu,

Entre o ser e o nada do silêncio aterrador

Que Hamlet definiu ao morrer,

“Ai que mal soa” no lirismo de João de Deus,

E “o vento a levou”, como elegiacamente o exprimiu…

Mas o mais sensato é viver-se sem se pensar

No sentido definitivo da nossa efémera condição

E fazer da vida um jogo de ambição.

Com cuidado, todavia,

Porque o pagamento é sagrado,

Como Florian dizia,

No caso de ser mal jogado:

 Post image for Panic Stains Tsarnaev’s Apprehension

«Pan e a Fortuna»

 

Um jovem grande senhor perdeu

A sua última pistola nos jogos de azar.

E depois, forçado pela sua honra,

Foi-lhe preciso pagar

Sem tardar.

As dívidas de jogo são sagradas.

Pode-se fazer esperar

O mercador, um operário, um indigente

Quem nos adiantou o alimento.

Mas um escroque? Exige a honra

Que seja pago no momento,

E muito polidamente.

A lei foi assim feita

Pela seita.

O nosso jovem senhor, para se desquitar da dívida

Ordena um corte de mata.

Logo os ulmeiros, os freixos,

As espessas faias, e os carvalhos antigos,

Caem uns sobre os outros, simultaneamente.

Os faunos, os silvanos, os arvoredos abandonam,

As dríades, em pranto, as suas sombras lamentam.

E o deus Pan, no seu furor, percebendo

Que só o jogo foi causa da destruição,

Atira-se contra a Fortuna: “Oh mãe da desgraça,

Fúria infernal,

Tu desgraças ao mesmo tempo

Mortais e imortais,

Tu gozas com o mal

E a tua raiva importuna,

Inimiga…”

Ele falava ainda quando, nesse lugar

Aparece a deusa, de repente.

“Acalma, responde ela a Pan,

A fúria que te consome

Tão vilã;
Eu não causei a tua infelicidade:

Mesmo nos jogos de azar,

Com certos jogadores, eu nada posso fazer.

- Quem é que faz tudo? - a habilidade.

 

E aqui andamos nós, nesta nossa jogatina,

Numa dança e contradança de expiação,

Levados ao sabor dos jogadores

Que pegaram nos destinos da Nação.

O muito que se conseguiu

Mal gerido nas vasas da imprudência,

Exigiu

Pagamento posterior, sem cedência.

E a Justiça desapareceu,

O horizonte ensombreceu,

O trabalho não é mais considerado

Um direito humano como fora destacado

Numa tal

“Declaração Universal”

Já sem peso actual.

E a boa da Fortuna bem ponderou,

Junto a Pan, deus dos rebanhos de antanho,

Que para o jogo se ganhar

A habilidade é o meio principal.

Assim não aconteceu.

Pelo menos na questão

Do governo da nação.

Mas no jogo pessoal

Não direi que não.

 

 Berta Brás

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