A TRÁS DE MIM VIRÁ…
… quem bom de mim fará
Perguntam-me se o “A bem da Nação” se pronuncia sobre as declarações que o Dr. Rui Rio terá proferido há dias de que «a dívida portuguesa é a terceira maior da Europa e uma das maiores do mundo».
E a resposta é: - Sim, pronuncia-se.
Começo por informar os Caros Leitores de que não assisti ao debate em que o Dr. Rio terá feito a afirmação em apreço pelo que me louvo na transcrição ficando sem saber a que dívida se referiam os dialogantes. Seria a dívida pública, a privada, a externa, a total? Não sei e actualmente os meus olhos não estão em condições de me permitirem grandes investigações.
Parto, pois, do princípio de que se referiam à dívida total, ou seja, pública e privada, interna e externa.
Também não fui verificar se é a terceira maior na Europa e uma das maiores no mundo. Se o Dr. Rio o afirmou publicamente, é porque estudou o assunto e sabia o que dizia.
A dívida pública – interna e externa – é a que mais preocupa os órgãos da comunicação mas a dívida privada externa é um «buraco» muito grave e quase não se fala dela.
Centremo-nos na dívida pública.
Assim, temos que a dívida é razoável, grande, muito grande, enorme ou escandalosa em função da viabilidade e da maior ou menor dificuldade em a servir. Sim, a necessidade de pagar o que se deve não é «coisa» que recolha a unanimidade das opiniões. Sem nos imiscuirmos na análise da hombridade de quem acha que as dívidas não se pagam, assentemos que só tem crédito quem honra os seus compromissos. Ou seja, a dívida (qualquer dívida) é para ser servida e não há mais discussões.
O serviço da dívida é definido pelos capitais, pelos juros e pelos prazos.
Os capitais são os que pedimos emprestados porque não gerávamos as receitas públicas suficientes para suportarmos os «vícios» do nosso bem-estar. Sim, é óbvio que estamos a viver a cima das nossas capacidades. Quanto a cima? O montante dos capitais pedidos de empréstimo, esses que nos faltaram ao longo dos tempos… cujo somatório (chamado o stock) já ultrapassa o total da riqueza produzida anualmente, o PIB.
É claro que dá para nos arrepiarmos todos quando vemos os parlamentares a decidirem pelo aumento da despesa pública como se tivessem uma rotativa ali perto a imprimir moeda nova ao estilo de Mugabe e de outros «experts» que tais.
A nossa sorte tem-se chamado Mario Draghi que praticou uma política monetária europeia favorável aos devedores, apesar da oposição dos credores. Essa política traduziu-se na compra pelo BCE de dívida dos Estados em aflições (as chamadas quantitative easings) e pela política de baixa permanente das taxas de juro que o BCE foi pagando aos Bancos que nele depositavam poupanças até chegar aos juros negativos (serem os Bancos a pagar ao BCE para lá terem as poupanças depositadas). Como quem diz: - Ponham o dinheiro a circular, a criar riqueza, nada de entesouramento “à la Tio Patinhas”.
Mas Mario Draghi chegou ao fim do mandato e vai ser substituído por Christine Lagarde, ou seja, com muita probabilidade, a política de defesa dos devedores vai transformar-se na política de defesa dos credores: juros positivos e alto à compra de dívidas soberanas pelo BCE.
Se a esse cenário somarmos a subida do preço do barril de petróleo que há dias começou com o ataque às instalações da Aramco na Arábia Saudita, vêm por aí tempos em que Draghi poderá dizer que «a trás de mim virá quem bom de mim fará».
Manda, assim, a prudência dar ouvidos ao Dr. Rio no sentido de que é urgente reduzir o stock da dívida pública.
Quanto à dívida externa privada, só me pergunto quais serão os próximos bancos a serem sugados pelo turbilhão que se avizinha.
Setembro de 2019
Henrique Salles da Fonseca