A SAGA DE UM REI QUE NÃO FOI
Pergunta: - Como teria sido se não tivesse sido como foi?
Resposta: - Essa pergunta é um disparate pois só pode conduzir à especulação sobre os resultados alcançados por uma experiência não experimentada. E a questão objectiva é a de imaginarmos como teria sido se na batalha de Alfarrobeira as forças do Infante D. Pedro tivessem saído vitoriosas e o próprio Infante tivesse sobrevivido à dita batalha.
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Apesar da evidência da resposta acima, tentemos…
… imaginar D. Duarte e D. Pedro, esses dois membros da Ínclita Geração.
Do reinado de D. Duarte, destaco da minha memória a «Lei Mental» (8 de Abril de 1434) que deve ter sido escrita por ilustres sucessores do Doutor João das Regras (1357-1404) e o «Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela» que, este sim, tenha sido escrito pelo próprio D. Duarte, já Rei.
Sobre o grande mérito da referida obra legislativa não restam quaisquer dúvidas, mas sobre o livro de equitação, tenho sérias dúvidas porque…
… produzir um escrito na Idade Média sobre equitação é praticamente o mesmo que compor hoje um manual de instruções para uso de um carro do topo ou da base de qualquer gama. E não imagino o nosso Professor Marcelo a ocupar os seus tempos (mesmo livres, se os tem) numa tal tarefa.
Como podemos facilmente imaginar, a dita obra sobre equitação está completamente desactualizada.
- Duarte padecia de melancolia, esse mal a que actualmente chamamos depressão. Como é sabido, trata-se de mal que pode chegar a extremos incapacitantes e, quiçá, fatais. O reinado de D. Duarte sofreu directamente as consequências dessa grave enfermidade real apesar de o Infante D. Pedro, Duque de Coimbra e que ficou conhecido como «o Infante das Sete Partidas» (por viajar muito) lhe ter endereçado a famosa «Carta de Bruges», verdadeiro «vade mecum» para a boa governação.
Na sua condição de filho segundo, não lhe caberia subir ao trono a menos que o primogénito varão morresse sem descendência. Tal não aconteceu e D. Afonso V foi entronizado ainda criança ficando o seu tio, o Infante D. Pedro, como Regente.
Foi então a hora de pôr em prática os princípios da «Carta de Bruges» tendo o Reino beneficiado de um período da melhor governação da História de Portugal.
Está claro que a melancolia de D. Duarte deve ter possibilitado todos os abusos e é óbvio que o Regente D. Pedro deve ter tido algum trabalho a fazer cessar os desmandos. Eis como os povos se puseram ao lado do Regente e os que se tinham visto usurpados de mordomias imorais alinharam com o jovem D. Afonso V, então apenas Rei «in nomine».
Azedado o ambiente, deu-se a Batalha de Alfarrobeira – em Vialonga, Concelho de Vila Franca de Xira, onde actualmente se situa a fábrica da cerveja «Sagres» - donde resultou a morte do Infante D. Pedro.
Assim começou a desdita dos que pretendem servir Portugal e tomou rédea o «self service» patenteado diariamente pela comunicação social.
Esta, a saga de um País que teve um Rei que não foi.
Janeiro de 2023
Henrique Salles da Fonseca
NB – Logo que a encontre, publicarei na íntegra a «Carta de Bruges»