A REVOLUÇÃO COMUNISTA EM PORTUGAL E A CONTRA-REVOLUÇÃO PARTIDÁRIA – 4
Socialismo espalhado com o aroma dos Cravos
A revolução tinha outras intenções com o seu golpe de estado. Os seus realizadores queriam, como se pode verificar nos governos provisórios, a mudança do regime autoritário para outro regime ainda mais autoritário mas de caracter popular. Encenavam-se como heróis tornando-se autoridades morais em nome duma consciência socialista internacional pronta a sacrificar a própria nação.
Dos livros de ensino começam a substituir-se textos de portugueses consagrados por textos da internacionalidade. A própria constituição deve ser a mais progressiva e mais internacional possível. Celebravam por toda a parte a salvação dum estado de sonho, dum povo liberto das heranças do passado. Um povo que esperava liberdade foi amarrado à manjedoura da ideologia por dançarinos do poder que de pacientes passaram a salvadores. Organizam-se programas de reeducação popular no sentido de ideários socialistas que queriam resgatar Portugal, expurgá-lo da pátria para o tornar internacional e popular. Apresentam-se como vítimas legitimadoras duma nova identidade a criar. Não chega lamentar e remediar o autoritarismo da ditadura anterior; precisa-se de um fascista grande para argumentar e para isso comparámos Salazar com Hitler. Com um Salazar monstro não precisamos de mudar a nossa conduta; apenas a ideologia. Por mais que os erros da nova classe se levantem, nunca chegarão àquela gravidade! E o povo acreditou nas promessas seguindo a voz do novo canto. Um povo de abelhas vai seguindo o cantar da cigarra. Queria em nome do marxismo criar uma nova sociedade com novas amarras. Os espíritos do velho regime instalam-se com mais convicção no novo. A vergonha dum antigo regime apressa a identificação com o socialismo internacional. Chega a cor para nos dar o sentimento de pertença.
O impasse em que vivemos hoje deve-se a uma liberdade gratuita, prometida e que se quer atingida sem o suor do próprio rosto. Uma libertação de tudo mas sem saber para quê. Um mundo de abrilistas torna-se pioneiro da liberdade prometendo felicidade. Em nome da liberdade dá-se oportunidade ao novo oportuno: novos senhores exploradores ocupam agora o lugar dos antigos. Dá-se também uma democratização da exploração, sendo agora possível um número maior de exploradores do que antes. O Golpe de Estado efectuado não se orientava pela realidade das pessoas e da nação mas seguia apenas ideologias mais ou menos internacionais de fardas engomadas.
Portugal passou a albergar, especialmente no Alentejo, muitos peregrinos e “refugiados” da civilização ocidental.
A revolução ao ser feita em nome da esquerda tornou-se sua propriedade; este foi o seu busílis ao esquecer que o Homem consta de uma parte esquerda e outra direita, uma parte inferior e outra superior. A revolução tinha boas intenções mas ao polarizar-se desrespeita a pessoa e a nação, tal como fez o regime anterior. Este foi um grande erro na estratégia de educação popular. Por isso hoje já não é o povo quem festeja, quem festeja é o partido ou os funcionários do Estado. A vivência da nova era sente-se no acto da compra no supermercado e no sexo. Cai-se no vício de uma liberdade sem vontade.
O "movimento 68" resume a sua doutrina na frase “depois de Ausschwitz não se pode acreditar mais num Deus bom e amoroso” quando a conclusão lógica a tirar seria: depois de Auschwitz não se pode acreditar mais na bondade natural do Homem. A primeira frase leva à desculpa e à ideologia, a segunda compromete e responsabiliza cada pessoa.
Tal como uma árvore precisa de estrume no seu solo assim uma cultura precisa do húmus da tradição para poder desenvolver-se e do sol da esperança que constrói o presente com uma panorâmica gratificante. A liberdade precisa de um horizonte e o húmus de que ele se alimenta é o cristianismo e o idealismo (idealismo pensado na alternativa de pensamento alemão ao iluminismo francês). Para o cristianismo cada pessoa é um ser singular único com uma consciência pessoal com uma dignidade humana que o torna responsável e transcendente.
(continua)
António da Cunha Duarte Justo
Formado em Ciências da Educação (Português e História)
Conferência proferida na sede da ARCADIA a 4 de Abril de 2014