A QUEDA DO CRUDE
Maryam, senhora Iraniana conhecedora e interessada na geopolítica da sua região natal ouviu-me questionar os astros sobre as causas e significado da queda do preço do petróleo e foi descartando com meros gestos de mão tanto as minhas conjecturas de natureza tecnológica como os raciocínios fundados na estatística da oferta e procura, na recessão global por um lado e no regresso da Líbia à produção, por outro. Estabelecido o vazio de razões, assim falou:
- Pensei muito sobre o assunto e concluí que a baixa do crude é manipulação americana (aproveitando, claro, a auto-suficiência que o xisto betuminoso proporcionou). De um só golpe, deixaram Putin e Hassan Rouhani sem vintém para prosseguirem com políticas hostis aos interesses americanos. No Irão (5º maior produtor mundial), os proveitos do petróleo representam 70% da receita orçamental e cobrem a totalidade do orçamento de Defesa. Os cálculos orçamentais para 2015 foram feitos na previsão do barril a $120. Veja em que situação fica o Governo e o Exército com o barril a $60 ou menos. Ao contrário do Irão, Rússia, Angola e Venezuela que estão fortemente endividados, os países árabes aliados dos americanos – Sauditas, Bahrein, Emiratos, etc. – têm reservas de activos financeiros suficientes para suportarem o choque. O afluxo de capitais aos mercados internacionais poderá ressentir-se imediatamente desta queda de rendimentos mas os EUA, mediante artifícios de política monetária, podem restabelecer o nível conveniente de liquidez.
- Muitos coelhos de uma só cajadada, comentei e ela observou:
- Mas há ainda mais; a baixa do preço do crude visa também (ou principalmente) mostrar à Senhora Merkel que a Rússia não é mercado alternativo. E ela que é sagaz decifrou a mensagem e decidiu que se a Rússia não é, a China será.
Será ou não será, o tempo o dirá.
26-12-14
Luís Soares de Oliveira