A PROPÓSITO DE SALAZAR
A propósito do vídeo que circula na Internet com um discurso do Doutor Salazar proferido em cerimónia comemorativa do 20º aniversário do seu Governo, ocorre-me dizer que o meu apoio ou a minha oposição ao Doutor Salazar se definiam em função das políticas específicas que ele seguia.
Nunca pondo em causa a seriedade da sua atitude nem a firmeza e integridade do Estado de Direito que confirmou e moldou, concordei com o seu posicionamento no que respeitou à política externa e às políticas de cariz financeiro mas quanto à política de desenvolvimento, já não pude prestar-lhe grande aplauso.
No que se refere ao Estado de Direito salazarista, tratava-se de um Direito autocrático mas não caprichoso, um Direito imbuído de uma lógica conhecida por todos e aplicado a todos, ou seja, o contrário do fascismo que esse, sim, se baseia no improviso e no capricho do ditador.
Eis por que entendo que, não sendo o Doutor Salazar (nem pretendendo ser) um democrata, não era fascista apesar de dispor de um instrumento como a PIDE que, obviamente, merecia a minha estranheza.
Mas como opor-se ao então NKVD, antecessor do KGB?
É que continuo a crer que o grande objectivo do Doutor Salazar era impedir que a URSS apertasse a Europa entre a Cortina de Ferro e uma Península Ibérica controlada pelo PCP e pelo PCE como a Guerra Civil espanhola (numa primeira tentativa) e o 25 de Abril de 1974 (na segunda) demonstraram.
Por isso, à PIDE competia impedir as movimentações dos comunistas; quanto aos democratas provenientes da I República, julgo que o Doutor Salazar os considerava uns românticos inofensivos mas que, sendo muito palavrosos, os queria moderar.
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Ainda a propósito, é agora a vez de tudo me levar a observar cuidadosamente o que se perfila com os populismos emergentes.
Como alerta Madeleine Albright no seu livro «Fascism: A Warning», não estará o fascismo iminente?
Novembro de 2018
Henrique Salles da Fonseca