A NAÇÃO E O SEU CONTRÁRIO
Cosmopolitismo
A passagem do «eu» ao «nós» é sobretudo uma experiência mental em que a consciência de si próprio se transforma no reconhecimento de pertença a qualquer coisa superior, maior.
De Montaigne a Kant, o cosmopolitismo significa um «ponto de vista» que tomamos sobre nós próprios e que suaviza a nossa fidelidade nacional.
In Revue Esprit, Junho de 2008
O cosmopolitismo despreza as fronteiras geográficas considerando que a humanidade segue as leis do Universo em que os homens formam uma única Nação, não vendo diferenças entre as mesmas, avaliando o mundo como uma Pátria.
Na actualidade o termo é bastante associado a uma ideologia que vê com desprezo a História e os acontecimentos do passado, valorizando apenas o mundo moderno, tanto na área da urbanização — como as metrópoles, as megacidades, as megalópoles, etc. — além de outros factores, a maioria incluindo a moderna alta tecnologia.
Dos dicionários se extrai que cosmopolitismo é a atitude ou doutrina que prega a indiferença ante a cultura, os interesses e soberanias nacionais, com a alegação de que a pátria de todos os homens é o Universo.
Nação
Nação, do latim natio e natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, falando a mesma língua e tendo os mesmos costumes, formando deste modo um povo, trazendo consigo as mesmas características étnicas e mantendo-se unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional.
Mas, a rigor, os elementos território, língua, religião, costumes e tradição, por si sós, não constituem o carácter da nação. São requisitos secundários, que se integram na sua formação. O elemento dominante, que se mostra condição subjectiva para a evidência de uma nação assenta no vínculo que une estes indivíduos, determinando entre eles a convicção de um querer viver colectivo. É, assim, a consciência da sua nacionalidade, em virtude da qual se sentem constituindo um organismo ou um agrupamento, distinto de qualquer outro, com vida própria, interesses especiais e necessidades peculiares.
Nesta razão, o sentido de nação não se anula caso seja esta fraccionada entre vários Estados, ou porque várias nações se unam para a formação de um Estado. O Estado é uma forma política, adoptada por um povo com vontade política, que constitui uma nação, ou por vários povos de nacionalidades distintas, para que se submetam a um poder público soberano, emanado da sua própria vontade, que lhes vem dar unidade política. A nação preexiste sem qualquer espécie de organização legal. E mesmo que, habitualmente, seja utilizada em sinonímia de Estado, em realidade significa a substância humana que o forma, actuando aquele em seu nome e no seu próprio interesse, isto é, pelo seu bem-estar, pela sua honra, pela sua independência e pela sua prosperidade.
Conclusão
Como se vê, somos cosmopolitas porque temos como nossa uma civilização (processo facilitado pela poliglotia) mas não abdicamos de promover o bem-comum da nossa própria Nação como a essência das nossas especificidades e, nesse sentido, somos nacionalistas.
Henrique Salles da Fonseca
(em Afrodisias, Turquia, Nov14)