A MISTERIOSA TOPONÍMIA DE LISBOA
Todos sabemos onde é o Cais do Sodré mas passamos no Largo Duque da Terceira e julgamos que tudo aquilo é o «cá xi dré».
A estátua que podia estar no jardim do Largo de Santos – dos mártires Veríssimo, Máxima e Júlia cujo martírio terá ocorrido em 303 da nossa era – não existe e por isso lá puseram Ramalho Ortigão.
Na Praça D. Luís está uma estátua imponente do Marquês de Sá da Bandeira cuja avenida se localiza bem longe, nas chamadas Avenidas Novas.
O Jardim da Estrela, denominado oficialmente “Jardim Guerra Junqueiro”, tem uma estátua de João de Deus enquanto a estátua do patrono oficial do jardim se encontra bem longe, na Praça de Londres.
Ninguém saberá onde se localiza o Jardim 5 de Outubro mas se lhe chamarmos o «Jardim da burra», então já haverá muita gente que sabe tratar-se do pequeno jardim ao lado nascente da Basílica da Estrela. Mas, em compensação, ninguém sabe que o autor da estátua dos saloios e da burra é Costa Mota (Tio) – pelos vistos houve um escultor homónimo que seria sobrinho do da burra – e que a adorável escultura, inaugurada em 1909, representa a Sagrada Família. E ninguém sabe porque nada lá está escrito e para eu saber tive que me dirigir à autarquia onde, felizmente, dei com alguém culto que me informou com um pedido de desculpas pela inexistência de uma placa explicativa porque a Câmara Municipal, requisitada para o efeito, não se dignou sequer responder à Junta da Freguesia e esta não tem competência administrativa para suprir a lacuna.
Será assim tão difícil pôr ordem na barafunda?
Lisboa, Fevereiro de 2016
Henrique Salles da Fonseca