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A bem da Nação

A LUTA DO DIA-A-DIA

 

 

Talvez seja mais fácil dar a vida toda de uma vez só, como no caso do mártir, do que o martírio da paciência de ter de fazer, um dia e outro, sempre a mesma coisa

 

Há, na nossa vida de todos os dias, um enorme conjunto de pequenas coisas que acabam por não nos ferir com intensidade, mas a sua persistência magoa-nos. A sua incansável sucessão chega a ser uma angústia, num coração que quase nunca consegue chegar a perceber a razão de tamanha dor.

 

É estranha a forma como o quotidiano nos consegue envolver ao ponto de, sem nunca fazer esforço... nos arrastar para baixo ao mesmo tempo que nos sufoca, sem que tenhamos sequer capacidade de reagir... acreditamos ser apenas um percalço e que, logo de seguida, voltaremos ao melhor.

 

A grandeza de alguém não está na importância social das funções que desempenha, mas na perfeição e devoção com realiza cada uma das suas tarefas. Um porteiro que recebe cada pessoa como se fosse o rei; uma senhora que limpa cada degrau da escada como se fosse um altar... assim são os que conhecem a verdade da vida. Colocando cada gesto seu ao serviço do que é sublime.

 

As grandes obras, como as catedrais ou os castelos, manifestam-se não tanto pela amplitude dos espaços, pela enormidade das dimensões, mas em cada uma das suas pedras, em cada pequena forma... em cada mínimo detalhe.

 

Tudo quanto na nossa existência não faz parte do nosso sentido da vida funcionará sempre como um peso, grão de areia na engrenagem, semente que se há de fazer raiz de tristeza.

 

É preciso ser capaz de aceitar que o maior dos bens ao nosso alcance, a felicidade, se conquista aceitando e integrando na nossa vida os pequenos trabalhos que nos cansam tanto ou mais que os grandes... é preciso compreender que o heroísmo autêntico se revela nas tarefas quotidianas. Talvez seja mais fácil dar a vida toda de uma vez só, como no caso do mártir, do que o martírio da paciência de ter de fazer, um dia e outro, sempre a mesma coisa. A felicidade premeia mais a perseverança do que a genialidade.

 

Os grandes tesouros fazem-se tostão a tostão.

 

É preciso compreender que os mais pequenos sofrimentos podem e devem ser parte da essência da nossa vida. Qualquer dor a que não consigamos dar sentido torna-se uma crueldade contra nós. Cuidemos pois de dar atenção a cada dia, a cada gesto... colocar cada peça no seu lugar, construir... sabendo que cada sofrimento sem sentido é uma brecha.... e que pelas mais pequenas fendas se afundam os maiores navios.

 

É uma prova constante à nossa fé seguirmos o nosso longo caminho sem que nunca cheguemos a contemplar a terra prometida no horizonte diante de nós... seguimos sempre rumo a algo que há de aparecer... um dia veremos.

 

Viver para sempre significa aproveitar cada um dos dias, cumprindo cada hora com devoção ao que somos e ao que queremos ser.

 

O martelar da espada do ferreiro prepara-lhe o braço para a utilizar... como guerreiro. É com determinação, atenção e constância que se forja e afia uma espada... também será assim que se faz um homem.

 

A vocação do homem é criar. Completar a criação, criando-se, num esforço constante onde cada gesto é uma obra única...

 

Caminhar para o campo de batalha faz já parte do heroísmo do guerreiro. Lutar contra o inimigo que vive dentro de si, nas dúvidas por onde a falta de fé se instala e nos tédios das aparentes insignificâncias, será o maior dos combates... a prova derradeira do que somos e do que queremos ser.

 

Uma vida sem nada pelo qual valha morrer, não terá nada pelo qual mereça ser vivida.

 

Ninguém é como nasce, mas sim o que faz para ser o que sonha.

 

5 de Abril de 2014

 

 José Luís Nunes Martins

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