A LUSOFILIA NUMA PERSPECTIVA DE FUTURO
II
Eis ao que andamos: a puxar as gentes para cima.
O fulgor da Lusofilia poderá ser provocado se cada um de nós, os lusófilos, decidir interceder nesse sentido desenvolvendo acções pessoais, locais e regionais para que numa fase mais globalizadora possamos definir as tais complementaridades e estabelecer uma rede de cooperação que promova a língua portuguesa no âmbito duma lusofilia que se irá progressivamente definindo e afirmando.
Essencial é que todos saibamos o que cada um faz para que possamos transmitir inspiração, evitar incompreensões e optimizar a acção.
Na certeza, porém, de que a língua portuguesa só poderá assumir a relevância que para ela desejamos se for o veículo dos originais de temas que mobilizem a sociedade globalizada, nomeadamente de relevância científica, tecnológica e artística. A divulgação deste tipo de trabalhos é urgente e fundamental para a nossa afirmação no mundo.
Noutra dimensão, tenho como fundamental lançar um apelo para a construção de uma Ética Lusófila e para a exigência de um imperativo Sentido de Estado.
Herdeiros de um processo de regulação moral da conduta humana necessária ao bem-estar colectivo, deitámos quase tudo a perder e eis-nos chegados à filosofia do poder, aquela em que o objectivo mais elevado é o poder e que resulta claramente de um espírito de permanente competição.
Como cada vitória tenderá a elevar o nível dessa mesma competição, o final lógico de tal filosofia é o poder ilimitado e absoluto. Aqueles que buscam o poder podem não aceitar as regras éticas definidas pelos costumes e a tradição enquanto, pelo contrário, adoptam normas próprias e se regem por outros critérios que os ajudam a obter o triunfo. Tentam mesmo convencer as outras pessoas de que são éticos no sentido do objectivo supremo por eles definido tentando conciliar o poder e o reconhecimento da moralidade. Assim foi que se sentam na cadeira do poder muitos daqueles para quem a ética é palavra vã. Daí ao poder absoluto, à ausência de regras consensualmente (leia-se democraticamente) construídas, à ausência de Direito e à dissolução do Estado de Direito, vulgo o fascismo, não dista muito ou não dista mesmo nada. Ignorados os princípios que definem o bem-comum, instala-se o “salve-se quem puder”, sobrepõe-se a razão da força à força da razão.
Globalizada a competição e sacralizados os critérios da competitividade, não mais resta qualquer esperança de sobrevivência aos que não sejam campeões. E a alternativa para os não campeões – em que o 2º classificado mais não é do que o 1º vencido – é unicamente a de serem servos. Servos mais ou menos mitigados, mais ou menos engravatados, numa gaiola mais ou menos dourada mas servos e apenas isso.
Todos os direitos aos poucos campeões; todas as obrigações ao mar de vencidos.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca
(algures no Sri Lanka em Novembro de 2015)