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A bem da Nação

A LIBERDADE UNIVERSAL OU O DIREITO À VIDA

 

AML-TERROR.jpg

 

 

O blogue ARROZCATUM (arrozcatum.blogspot.pt), de Zito Azevedo, postou uma imagem elucidativa dos atentados terroristas cometidos na Bélgica ontem, 22 de Março, contendo a seguinte legenda:

 

PRIMEIRO, MADRID... DEPOIS, PARIS...HOJE, BRUXELAS...

NÃO TERÁ CHEGADO O MOMENTO DE COLOCARMOS AS NOSSAS BARBAS DE MOLHO?!

COMEÇO A DUVIDAR, SERIAMENTE, SE VALERÁ A PENA CONTINUAR A HIPOTECAR INDEFINIDAMENTE A SEGURANÇA E O DIREITO À VIDA E À LIBERDADE UNIVERSAL!

 

As palavras do editor do blogue são breves mas são avisadas, contendo a síntese de uma questão verdadeiramente dilemática. Merecem a mais séria e urgente ponderação ao mundo civilizado. É que a liberdade universal não passa de uma abstracção e não pode sobrepor-se ao direito à vida. Ela é, efectivamente, uma abstracção humana, e por isso um valor sempre aferido pelo relativismo, ao passo que a vida é de uma transcendência e concretude tais que não pode ser posta em causa por qualquer outro princípio regulador da nossa convivência comum. Aliás, toda a criatividade humana deve ter como finalidade última o respeito pela vida, a sua dignificação e a sua preservação. Tudo lhe deve ser subordinado.

 

Estamos assim perante um dilema. O inimigo utiliza o espaço das nossas liberdades, direitos e garantias para nos aniquilar. Restringir a fruição desse espaço resulta sem dúvida em prejuízo da comunidade geral, mas facilita seguramente o combate ao inimigo, o controlo dos seus passos, a sua detecção, o seu cerco e a sua captura. Só que os ideólogos de um mundo livre entendem que alterar os nossos hábitos é dar um trunfo ao inimigo. Interessará é saber até quanto é permissível ficar incautamente a mercê das fauces da morte inesperada e traiçoeira.

 

O ideal seria que a liberdade universal cuidasse, antes de mais, de situar a vida humana ao mais alto patamar dos princípios invioláveis, e que esse entendimento fosse partilhado por todas as culturas e credos. Quando as filosofias iluministas foram concebidas há 3 séculos, a esperança era que irradiassem clarividência para toda a humanidade, mais cedo ou mais tarde. Mas o que se tem visto neste século XXI de acelerado progresso material frustra em absoluto qualquer expectativa. É que as luzes da civilização estão a ser desviadas do seu curso por incompreensíveis fenómenos de obliteração, e, por estranho paradoxo, com uma frequência e intensidade mais acentuadas desde que entrámos na era da globalização. A impressão é que não chegou ainda o momento certo para a universalização das regras de vida civilizada. A globalização falhou nos seus propósitos de galgar etapas de progresso, com resultados que até nos colocam perante quadros de autêntico retrocesso civilizacional. Pois outra conclusão não permitem as cenas de selvajaria demencial a que assistimos. Donde é lícito inferir que a globalização parece estar a ser o melhor catalisador da entropia em que o mundo mergulhou desde o início deste século.

 

Insistir em que coabitem connosco os que se instalam convictamente em quadrantes mentais adversos, não passa de uma inutilidade perversa, de um estoicismo sem sentido e que pode até fazer ruir o castelo das nossas próprias crenças e princípios civilizacionais. Se nada se fizer de forma firme e concludente, enquanto for ainda possível, não tardarão a eclodir no mundo energias de sinal contrário tão primárias como aquelas que actualmente ameaçam o mundo civilizado e cristão. E aí o planeta voltará a mergulhar num conflito provavelmente sem precedentes e com consequências imprevisíveis. Para isso, basta conferir mandato a mentes retrógradas do nosso espaço civilizacional como um Donald Trump e outros que provavelmente andam à espreita da sua oportunidade.

 

Dizia o editor do blogue: “Primeiro, Madrid... depois, Paris... hoje, Bruxelas…” Mas pergunto por que só esses países. E o resto, a Síria, o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, onde a barbárie não tem hora marcada, onde se instalou com armas e bagagens? Se não conseguimos espalhar globalmente o bem-estar e a felicidade, ao menos que apreendamos globalmente as dores e as tristezas do mundo. Sem fronteiras e sem delimitações. É que quando a tragédia bate à porta do mundo ocidental, sentimo-la com um impacto mais doloroso e mais angustiante. Iluminamos com as respectivas cores os símbolos emblemáticos dos países atingidos, o clamor da emoção é partilhado irmãmente pelos que são do mesmo credo e cultura. Nada a obstar. Mas porque não generalizar a mesma simbologia expressiva da consternação quando, todos os dias, a barbárie bate à porta dos que se situam em outras coordenadas geográficas e são ainda mais vítimas do que nós? Bem, reconheça-se que seria um procedimento tão repetitivo que acabaria por banalizar o acto simbólico, esvaziando-lhe o significado. Por isso é que chegou o momento de agir para evitar que o avolumar das nossas perplexidades filosóficas nos trave o discernimento e a noção da verdadeira extensão da tragédia.

 

Alguém afirmou que a ameaça terrorista é uma autêntica guerra mundial. Outros admitem que apenas estamos no início do terror. Assim sendo, com justa razão se pergunta por que não se lhe declara guerra total, com todas as consequências que isso implica. Continuar a responder com proclamação de princípios é proceder como a avestruz. É portar-se com a mesma passividade com que se assistiu à ascensão da Alemanha nazi. É uma retórica que fica bem na fotografia mas que não nos protege do mal, como se tem visto.

 

Posto isto, só restam duas hipóteses. Ou o mundo ocidental continua na sua atitude timorata e comedida até que, por via eleitoral, surjam líderes totalitários que entrem pela via da irracionalidade, ou então se tem de enveredar por uma estratégia de intervenção ainda possível dentro de limites controláveis, como sejam:

 

Investir nos meios e nos efectivos de forças de segurança e militares adequados à contenção e/ou destruição da ameaça. Isto porque é sabido que a Europa descurou o investimento na sua defesa e se desarmou psicologicamente;

Suspender sine die o Acordo de Schengen;

Reforçar o controlo da circulação dentro dos parâmetros exigidos pela luta contra o terrorismo global;

Convocar os líderes das comunidades islâmicas dos países de acolhimento para a assunção plena das suas responsabilidades;

Encarar como inevitável a urgente intervenção de uma força militar mundial com mandato das Nações Unidas, orientada para a Síria, o Iraque e o Afeganistão, empenhando especialmente o mundo árabe, e não dar tréguas até à aniquilação total das forças do terror, onde quer que estejam instaladas ou dissimuladas;

Aceitar como incontornável o redesenhar da geografia política do Médio Oriente, já que aí reside a causa remota do problema, o que exige uma acção diplomática de elevada complexidade e mestria.

 

Se alguém rotular de profeta da desgraça quem elenca estas medidas, é porque ainda não acordou para a realidade. Outros, que preferem o idealismo hipócrita e vazio, dirão que a montante de tudo isto está a má conduta política da Europa e dos Estados Unidos, para quem a geopolítica foi e tem sido um fato talhado à medida dos seus interesses. É verdade irrefutável. Mas não é por culpas do passado remoto e mais recente que se tem de enterrar a cabeça na areia. Se não há líderes mundiais capazes, que se arranje uma lanterna de Diógenes para procurar alguém que tenha herdado os genes de um Winston Churcchil.

 

 

Tomar, 23 de Março de 2016

adriano m. lima - sérvia

Adriano Miranda Lima

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