A HISTÓRIA DE UM REI A FINGIR
ou
A VINGANÇA DE AFONSO COSTA
Ferdinand von Saxe-Coburg und Gotha (Viena, 1816 – Lisboa, 1885) nasceu Príncipe austríaco e morreu em Portugal com o título de Rei.
Segundo marido da nossa Rainha D. Maria II foi escolhido por nele se adivinhar a fogosidade capaz de assegurar a sucessão dinástica na Casa Real de Portugal. E o Príncipe-Rei não se fez rogado pois a Rainha engravidou até à exaustão: morreu no seu décimo primeiro parto. Reconheçamos que, se ao Príncipe se lhe pedia descendência, bem mereceu o título de Rei – mesmo que apenas honorífico.
E se a missão de garantir a sucessão ao trono era assunto de Estado a tomar na mais alta consideração, D. Fernando terá querido assegurar-se da sua permanente condição operacional e não se cingiu aos horários de serviço pois ensaiou em horários extra tomando como «partenaires» damas e moçoilas sobre quem os seus olhos descessem.
A Rainha, nem sempre disponível para a fogosidade do Rei, inventava pretextos para o afastar das saias dela ou alheias e assim foi que, certa vez, o mandou supervisionar umas manobras militares no Alentejo. Embarcados no Terreiro do Paço e desembarcados em Cacilhas, instala-se o pânico no séquito real pois Sua Majestade desaparecera. Havia a certeza de que o Rei não saltara borda fora e até fora visto em terra a encaminhar-se para um canto por trás da casa do Chefe local dos Correios no largo donde saía a rua de acesso a Almada para se aliviar de alguma real precisão, mas, depois disso, estava desaparecido. Esfumara-se. E foram três dias de grande aflição sem se saber se se deveria informar a Rainha da sua putativa viuvez e, daí, a eventual vacatura do lugar ao seu lado no trono…
… e as buscas prosseguiram…
… até que ao terceiro dia foram encontrar o Rei em casa do Chefe dos Correios de Cacilhas a dar «lições de piano» á filha do dito Chefe. Pois…
* * *
Elise Frederika Hensler, suiça de nascimento, era actriz de teatro e ficou conhecida como Condessa de Edla. Sim, claro, era «próxima» do Rei e essa proximidade era de tal modo que teve direito a um «chalet» logo ali nas faldas do Castelo da Pena onde a Rainha passava temporadas. Sua Majestade, o Rei, parecia gostar de exercícios de ubiquidade.
Falecida Sua Majestade a Rainha D. Maria II ao seu infausto décimo primeiro parto, fez D. Fernando o luto oficial e o da conveniência social para casar com a Condessa.
Uma vez que D. Fernando mais não era do que um «reprodutor de Estado, Rei a fingir, à Rainha defunta sucedeu no trono o primogénito Pedro, o quinto desse nome no trono de Portugal, que morreu sem que lhe fosse conhecida descendência pelo que o fogosíssimo D, Fernando viu o seu segundo filho varão, Luís, subir ao trono. E foi por escassos quatro anos que não viu o neto Carlos sentado no lugar régio.
Compreende-se que D. Fernando II, Rei (a fingir) tenha tido cabimento no Panteão Nacional, mas que a Condessa de Edla (falecida em 1920, já a República com 10 anos andados) esteja no Panteão dos Braganças, é que me parece uma vingança jacobina de Afonso Costa.
Janeiro de 2023
Henrique Salles da Fonseca