A CAMINHO DO CÉU… (7)
DO CAOS E DA ORDEM
ou
«DA FINNE AL CAPO»
A aculturação das populações pelos grandes meios de comunicação a um modelo standard e globalizado corta o acesso às raízes culturais mais endógenas e isso anula qualquer ética étnica, essência da cultura mais genuína dos povos.
Uma vez desenraizadas e fidelizadas a novas «divindades» tão motivadoras como as telenovelas (e seus complementos, os telejornais), às legiões pseudo desportivas ou aos clubes políticos, as multidões deixam-se esmagar pelo stress publicitário, acreditam na demagogia partidária e sindical que as convence de que a tudo têm direito, usam e abusam do crédito que a banca lhes apresenta como se de mais um direito se tratasse, endividam-se para além dos limites do razoável e, quando menos esperam, vêem-se falidas e perseguidas pelos algozes ao serviço dos «deuses» em que foram induzidas a acreditar.
Se a todo este absurdo somarmos a mentira institucionalizada a que está na moda chamar-se a «pós-verdade» e eufemizarmos a realidade acima descrita chamando-lhe «cenário quântico», então continuaremos na fuga para a frente rumo à completa irracionalidade.
Colhe, assim, perguntarmo-nos como estaríamos agora se as multidões já se tivessem apercebido do ocaso dessa «religião» que dá pelo nome de Hedonismo e do respectivo «deus», o Prazer.
E a questão é: - Como hão-de as multidões erguer-se acima do caos e emergir à luz do Sol?
Então, a resposta é: - Pela reintrodução de significados tão antigos como o bem e o mal.
E lendo D. Manuel Clemente no seu livro “1810-1910-2010 DATAS E DESAFIOS” (pág. 121), «as coisas não são boas ou más porque Deus as mande ou as proíba; antes as manda porque são boas e as proíbe porque são más».
Ou seja, tanto o bem como o mal existem fora da discussão teológica e por isso também é possível erigirmos uma Ética laica. Não ser religioso não é, portanto, desculpa.
E onde está o mal?
O mal está no contrário do bem. Assim, basta encontrarmos o bem para que, no seu oposto, encontremos o mal.
E o que é o bem?
O bem é o que está conforme à ética e à moral sendo esta a questão dos princípios e aquela a dos factos.
A proposta laica (mas enquadrável religiosamente) que aqui endereço a todas as pessoas de boa vontade é a condição ética definida pela síntese do «eu, tu, ele»: o que é que eu quero, posso e devo fazer por ti sem o prejudicar a ele, esse terceiro que pode nem sequer ser nosso conhecido?
Uma atitude inicial que parte do voluntarismo traduzido pelo «quero», que reconhece – com mais ou menos humildade – as limitações pessoais através do «posso» e que se auto impõe o «dever»: altruísmo, humildade, sentido do dever.
E aí está ele, o contrário do bem, o mal representado pelo egoísmo, pela arrogância e pela irresponsabilidade.
Então, passando do singular ao plural na síntese do «nós, vós, eles», chegamos ao bem-comum (a que também poderemos chamar «Sentido de Estado»): o que é que nós podemos fazer por vós sem os prejudicar a eles, esses terceiros que não sabemos sequer quem são.
E assim regressamos à questão estaminal da distinção entre o bem e o mal.
Estes são temas sobre que nunca é demais pensar e sem o que nunca chegaremos ao Céu.
E foi preciso andar tanto para, afinal, regressarmos aos primórdios da Civilização?
Sim, é que, como dizia Hölderlin, o poeta atacado de mansa loucura, «somos originais porque não sabemos nada».
FIM
Henrique Salles da Fonseca
(Setembro de 2018, em Bali, frente ao caos e à ordem)