A CAMINHO DO CÉU… (5)
ESTE MUNDO É UMA ALDEIA
OU
O TRIGO E O JOIO
É quando menos esperamos que nos cruzamos com gente conhecida e assim também acontece com pensamentos nossos, actuais, em escritos alheios muito anteriores.
Foi o caso de andar eu a confabular sobre estas matérias da liderança e tanto da legitimidade como da transparência do Poder e ter começado a ler um livrinho de Karl Popper sobre questões epistemológicas[1] deparando logo no Prefácio com linhas que eu poderia subscrever.
Diz Popper ser naturalmente favorável à democracia, mas não do mesmo modo que a maioria dos seus defensores. Citando de Churchill a célebre frase «A democracia é a pior forma de governo com excepção de todas as outras», reconhece que não temos alternativa ao respeito pelas decisões livremente expressas da maioria mas acrescentando que um governo democrático é responsabilizável sendo que a responsabilidade perdura individual e colectivamente para além do exercício do período do respectivo mandato. Trata-se duma responsabilidade moral e ética, mais do que uma responsabilidade meramente cívica ou mesmo criminal. E essa é a grandeza da democracia – a responsabilidade moral e ética.
Não fora cruzar-me com estes pensamentos de Popper e lá estaria eu a dar razão ao poeta alemão Hölderlin[2] quando dizia que «somos originais porque não sabemos nada». Pior, lá estaria eu a fazer meu o que genuinamente era alheio.
Então, a responsabilidade e possível responsabilização moral e ética fazem a diferença para com os governos que se dizem «do povo» que, no final, provam ser apenas modos de servir os interesses de nomenklaturas frequentemente demagogas e falaciosas. Estas, acabam normalmente julgadas por critérios criminais; e se o não forem no plano judicial efectivo, são-no certamente pela História e perante a Humanidade.
Eis a grande diferença entre as elites que devem liderar pelo exemplo da elevação e as nomenklaturas que devem ser judicialmente responsabilizadas.
É a diferença entre o trigo e o joio.
Talvez não fosse mau darmos uma vista de olhos pelos escritos de Gilles Lipovetsky[3]. Já lá iremos…
Henrique Salles da Fonseca
[1] “A Vida é Aprendizagem – epistemologia evolutiva e sociedade aberta”, Karl Popper – EDIÇÕES 70, ed. de Fevereiro de 2017, pág. 11 e seg.
[2] Friedrich Hölderlin (1770 - 1843)
[3] Gilles Lipovetsky (Millau, 24 De Setembro de 1944) é um filósofo francês, teórico da Hipermodernidade, autor dos livros A Era do Vazio, O luxo eterno, A terceira mulher, O império do efêmero, A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo, entre outros.