A CAMINHO DO CÉU… (4)
AÍNDA COM OS PÉS NO CHÃO
À laia de interregno, deixemos os níveis etéreos e desçamos às realidades terrenas para enquadrarmos a questão portuguesa nessa substituição do ser pelo ter.
Isso de se querer «tudo e já» conjugado com a substituição do ser pelo ter, numa economia pouco produtiva e, mesmo assim, com baixa produtividade, só pode levar ao desastre na balança comercial, na de transacções correntes e mesmo na de pagamentos. Daí à falência perante o exterior foi um passo (como todos sabemos por experiência colectiva própria) e não houve turismo nem remessas de emigrantes que na crise suprema conseguissem tapar o buraco. Tivemos mesmo que pedir ajuda aos credores e passar por todas as restrições que tanto doeram.
E, atenção, não refiro a apropriação indevida de bens e liquidezes que por aí campeou; apenas refiro a falta de capacidade da oferta interna para suprir o consumo também interno. Quando a produção interna é restringida por inúmeros factores (custos de contexto, opacidade dos mercados, vícios na formação dos preços) e o consumo é incentivado, só o cenário da catástrofe se afigura como plausível.
Então, não serão necessárias muitas mais explicações para se compreender que «quem não trabuca, não manduca» e que o verdadeiro motor do desenvolvimento não é o consumo mas sim a produção dos bens transacionáveis que todos tanto gostamos de consumir. Quase diria que Colbert deveria ser desenterrado para nos impor o seu mercantilismo durante uns tempos. E digo impor porque «às boas» não iremos lá. Lá, onde? À racionalidade da auto-sustentabilidade pela via da produção e da competitividade.
E aqui, trago um excerto de um escrito de Francisco Gomes de Amorim no qual se refere à podridão:
O Brasil bateu todos os recordes do mundo em ladroagem e corrupção, tem uma classe política com uma abissal falta de educação, cultura, ética, classe e conhecimentos, mas continua a ser um lugar meio mítico com o seu carnaval, as suas praias e as suas gentes, sempre amáveis.
Corrupção houve desde sempre, sempre. Lembremos só o Bezerro de Ouro, a ter-se passado foi há mais de 3.500 anos, os 30 dinheiros que o pobre Judas recebeu, os presentes que davam a Khrushchov quando premier dum mundo eufemisticamente chamado comunista, o governo do general Grant no EUA, considerado o mais corrupto de toda a história daquele país (incluindo Bush) e centenas, milhares de outros, entre eles o Príncipe Bernardo da Holanda que recebeu mais de um milhão de dólares para que usasse sua influência junto ao governo neerlandês na aquisição de aviões de combate americanos!
Olhemos à nossa volta e meditemos. Mas não olhemos de mais para não cegarmos com tanta vergonha nem meditemos de mais para não ensandecermos ou entrarmos em curto circuito neurológico.
Ponto final no interlúdio terreno, regressemos à elevação.
Henrique Salles da Fonseca