A CAMINHO DO CÉU… (1)
DA NATUREZA HUMANA
O crescimento não é um mero pormenor na ideologia do mercado livre. É toda a sua essência.
Jonathan Franzen, in «Liberdade», ed. D. Quixote, 4ª edição, Setembro de 2015, pág. 442
É da natureza humana ambicionar para o futuro algo melhor do que o presente já que ao presente lhe cumpre mostrar ser melhor que o passado.
E ao que não decorra deste modo se lhe chama contra-natura.
Dando-se a circunstância de a vocação da política ser precisamente a de desenhar o caminho entre a situação presente e a situação futura que se pretende melhorar, não há programa político que não refira o objectivo do crescimento como instrumento para se alcançar um determinado tipo de bem-comum. Até porque o decrescimento está associado à recessão, à perda de qualidade de vida.
Então, é na definição do bem-comum e no caminho para lá se chegar que diferem as diversas propostas partidárias, as quais, em democracia, são ciclicamente postas a referendo popular.
Ganha o melhor? Não propriamente; ganha o que melhor souber «vender o seu produto». Mais concretamente, ganhará aquele que fizer as promessas mais apetecidas pelos eleitores. E assim tem sido desde que a ditadura do número – a que chamamos democracia - passou a ser o melhor regime que se nos oferece. Contudo, as forças políticas que tradicionalmente (desde o final da II Guerra Mundial) têm dominado o cenário europeu, vêm ultimamente sofrendo sérias ameaças e até rudes golpes por parte de novas forças a que os «velhos» se apressam a apelidar de populistas. E esses «novos» não são apenas de direita (a Alternative für Deutschland, o francês Front National, o Freiheitliche Partei Österreichs, etc.) mas também de esquerda (o Bloco de Esquerda em Portugal, o Podemos em Espanha, o Sirysa grego, etc.). E nas bocas dos «velhos», todos estes novos passam por populistas… como se eles, os tradicionais, não tivessem sempre sido isso mesmo. A essência da democracia é o populismo e dizer o contrário é ser elitista, platónico.
E se já nos cenários tradicionais o que para uns era positivo e para outros podia ser negativo, actualmente, as diferenças radicalizaram-se. Ou seja, as variáveis dos diversos modelos económicos (e sociais) têm interpretações diferentes conforme o campo político a que pertençam os observadores e quanto mais actores buscarem o protagonismo, mais essas diferenças tenderão a acentuar-se.
Aos eleitores são apresentados leques mais profusos de alternativas e resta saber se o eleitorado distingue o trigo do joio, ou seja, o plausível do utópico.
Há quem considere a produção como o grande motor do desenvolvimento mas outros há que consideram que o grande motor é o consumo; há quem aposte na indústria a há quem aposte nos serviços; há quem queira erradicar o analfabetismo mas também há quem considere que a felicidade está na ignorância… Mas todos apregoam que querem o crescimento.
Crescer até onde? Tem o crescimento um tecto ou pode ir até ao Céu infinito? Se não tem, tudo bem, o modelo político pode continuar; se tem, o discurso político extingue-se. E depois?
Depois, teremos que mudar de políticos.
Henrique Salles da Fonseca