Algo que me parece merecer voltar a ser tratado é o que se refere às designações de "esquerda" e "direita" em política, dadas as confusões que continuo a ver, mesmo em pontos que se me afiguram claros.
Um desses casos é o das pessoas que dizem que tais designações já não fazem sentido e que devemos esquecê-las.
Como é sabido, esses termos nasceram, com significado político, na Assembleia Nacional francesa, em 1789, em que, à direita do Presidente se sentavam os nobres e a defesa de privilégios e à esquerda o povo, lutando por igualdade, contra os privilégios.
Creio que hoje, a lutar pela "igualdade" haverá muito poucos pois as diferenças humanas são motivo suficiente para que tal não seja possível. Contudo, entre a igualdade absoluta e uma desigualdade enorme há toda uma gama intermédia onde, nuns mais, noutros menos, mas sempre longe dos extremos, se situam os países mais desenvolvidos, os de mais alto nível de vida e onde, pelo menos, não existe ou é uma ínfima minoria, os que vivem muito mal, graças a governos competentes e honestos.
Pelo contrário, onde encontramos grandes desequilíbrios, com uma pequena minoria com largos proventos e um número avultado (ou avultadíssimo) de pessoas vivendo com dificuldades e até passando fome, é nos países subdesenvolvidos, governados por indivíduos sem escrúpulos.
É óbvio que nos primeiros há um elevado número de acções de esquerda que, no entanto, não impedem que haja pessoas com largos proventos, que pagam impostos elevados, que permitem financiar a educação, a saúde, a protecção na velhice, etc. Nos segundos é normal que a carga fiscal caia principalmente nos de poucos proventos, além de se incidir mais nos impostos indirectos como o IVA, do que nos directos, a que muitos de largos proventos arranjam maneira de fugir.
Ninguém, nem nenhum governo, é "de esquerda" porque se declara como tal. São as acções que pratica que definem o ponto onde se situa, na linha que se estende entre a extrema esquerda e a estrema direita. É preciso que as pessoas compreendam que tudo o que favorece os que têm mais e prejudique os que têm menos são acções de direita e, se são em larga escala, são de extrema direita.
Chamar de "esquerda" a um governo que assim procede é alardear enorme ignorância das mais elementares regras de política que, diga-se de passagem, qualquer cidadão devia conhecer.
Miguel Mota
Publicado no "Linhas de Elvas" de 16 de Dezembro de 2010
“Pode um pensamento ter estilo sublime, e não ser pensamento sublime; e pode achar-se um pensamento sublime, com estilo simples”.
Luís António Verney, Verdadeiro Método de Estudar, Carta VI.
Calhou que a série de textos de Teologia da Economia sucedesse entre eleições europeias, legislativas e autárquicas e um feriado nacional: o 5 de Outubro (de 1910!) Daí, eu ter optado por abordar as questões relacionadas com este período recente, sendo matéria mais viva, polémica e menos árida do que aquela sobre a qual venho discorrendo. Do 5 de Outubro apenas digo que é uma comemoração ligada a um acto repugnante de homicídio (neste caso, regicídio), quando a verdadeira comemoração devia ser a do 5 de Outubro de 1143! Nesta data, subscreveu-se em Zamora o tratado [1] que está na génese da nacionalidade portuguesa. E sobre isto mais não digo.O recente período eleitoral foi rico em informação e eventos. Aconteceu que ouvimos muita coisa e que, metade ou dois terços do que ouvimos é, infelizmente, demagogia pura. No linguajar do marketing político, nas campanhas que antecederam os sufrágios, o objectivo foi sempre o mesmo: a venda do produto político! E tivemos de tudo um pouco na tentativa de nos impingir um produto quase sempre deteriorado – o que não merecíamos Em primeira análise é esta a questão que se põe. Merecemos os políticos que temos ou não? A resposta não é fácil. Partidos houve que insistiram em forçar nas suas listas a presença de pessoas a contas com a Justiça. É uma questão de ética política. Vieram contar-me a história de que sem haver prova há presunção de inocência. Tudo bem, só que as suspeitas que recaem sobre os presumíveis inocentes, já são de per si um ónus que devia impedir a participação em qualquer acto político [2]. A ideia errada que alguns têm de que o voto tem o poder de branquear a acção da Justiça preocupa-me por que Democracia não é isto, não queremos que seja isto. O voto não pode criar nos que dele beneficiam a imunidade com o consequente efeito de impunidade. O conceito que se tem de que Política é uma coisa e Justiça é outra, é desastrado e perigoso e só interessa a quem tem culpas no cartório; quem ganha uma eleição pretende-se criminalmente branqueado por força da vontade popular [3]. Uma visão anárquica dos conceitos que regem a Política e a Justiça em sociedades evoluídas e organizadas. Admito que um cidadão objecto da acção da Justiça e condenado, cumprida a sua pena, se possa sujeitar, de pleno direito, a sufrágio dos seus concidadãos, porque já prestou contas dos seus erros e já cumpriu a punição que lhe foi imposta. Voltou, por isso, a ser senhor da sua cidadania. Mas, a responsabilidade de quem assim procede, arrostando, teimosamente, com a Ética Política e atirando-a para o lixo, não é desses espertos, porque a Lei é permissiva e, de facto, perante a Lei não estão a praticar crime algum. À luz da Lei podem fazê-lo e fazem-no. A responsabilidade é daqueles que, no exercício parlamentar, ao longo de todos estes anos, vão fazendo Leis às pinguinhas, pouco claras, pouco enérgicas, sempre com o receio incompreensível de pôr na ordem as coisas que estão mal; em resumo, do legislador. E nós, lusitanamente, vamos indo. Somos um Povo de Fado (destino?) e Toiradas. Pegamos o touro de caras, mas curiosamente, sempre com o barrete enfiado na cabeça. Mas, estes anos e, particularmente, nos três últimos sufrágios, os eleitores já foram tirando o barrete. Se repararem, as europeias foram votadas de uma maneira; as legislativas já tiveram um voto diferente e nas recentes autárquicas o voto foi diferente da Câmara Municipal para a Assembleia Municipal e destas para Assembleia de Freguesia. É isso que faz com que a lusitanidade já não seja sinónimo de ingenuidade e credibilidade perante a patologia política da psicopatia social que nos cerca agoirentamente. Vamos caminhando firmemente em direcção à maturidade política. Estamos a varrer lentamente esta inércia assustadora e, simultaneamente, encantadora que nos caracteriza; este tem-te não caias; este dolce far niente genético. No rescaldo eleitoral sobraram-nos os que, desde o nascimento da democracia nunca perdem; os que perdem de quando em vez e os que ganham sempre, mesmo quando está na cara que perderam. Mas todos usam os mesmos sofismas, que se vão desgastando e perdendo a credibilidade perante eleitores cada vez mais atentos, salvo algumas deslocalizadas desatenções. O último sufrágio que deveria ter sido um acto de liberdade e consciência cívica, ficou manchado pela brutalidade de um acto criminoso que teve como progenitora a intolerância e a arrogância de quem se julga com direitos superiores aos dos outros, exercendo pequenos poderes geograficamente limitados. Estranha era esta que vivemos... Esta 11ª legislatura que agora se inicia, espero que, tal como a crise que nos assombrou, e que já começou a dar sinais de recuperação, seja o regresso à dignidade perdida; ao sistema de Saúde humano e livre de burocracias; à Educação para todos e em melhores condições de trabalho para alunos e professores; à Justiça célere, eficiente e eficaz; à política de Segurança sem hesitações, em resumo, à sociedade responsavelmente livre e justa que nos faça sentir felizes e orgulhosos de nós mesmos e a que nós temos direito. Esperemos pelo diálogo e que a vontade de todos, sem excepção, seja sublime e não de transformar este desiderato em conversas de surdos e monólogos ininteligíveis. Parafraseando Verney: “Pode o diálogo ter um estilo sublime, e não ser uma vontade genuína; e pode achar-se uma vontade sublime, com estilo mais sincero e menos barroco”.
Luís Santiago
[1] Tratado de Zamora – Acordo celebrado em 5 de Outubro de 1143, entre os primos Afonso Henriques, pelo Condado Portucalense e Afonso VII pelo Reino de Leão que estabeleceu a paz e definiu as fronteiras do Reino de Leão e do Reino de Portugal, designação pelo qual passou a ser conhecido o Condado Portucalense;
[2] “Quem estiver a contas com a Justiça não se pode candidatar a cargos públicos nem tem direito a voto” Henrique Salles da Fonseca, em 14 de Outubro de 2009, em texto deste blog “DESCULPEM OS MAIS SENSÍVEIS... ...MAS EM DEMOCRACIA DEVERÁ SER ASSIM”;
[3] Ouvi espantado uma pessoa que até considero esclarecida, que, convictamente, me declarou que um político, mesmo condenado, sem sentença transitada em julgado, e que fosse eleito com grande e expressiva quantidade de votos devia ver a sua sentença anulada. Fiquei horrorizado com a confusão que vai naquela cabeça. Retorqui-lhe que as pessoas que exercem esses cargos já são remuneradas (algumas substancialmente) pelos cargos para que forem eleitos e que enriquecerem à custa dos negócios mercê das funções que exercem e são remuneradas pelos impostos que todos nós pagamos, constitui prática ilegítima e imoral que é classificada na lei por enriquecimento sem causa, se, entretanto, não for crime.
A directora do Liceu Döstberg de Berlim tinha proibido um aluno muçulmano de rezar no corredor da escola. Fundamentava a recusa com a neutralidade da escola. O aluno utilizava um tapete de oração usando a pausa para rezar.
O educando, que não queria abdicar do seu direito de rezar cinco vezes ao dia, incluindo o horário escolar, meteu a questão em tribunal. Este decidiu expressamente sobre este caso particular dando razão ao muçulmano.
Os juízes argumentaram que o aluno podia escolher uma esquina para rezar, não implicando isso a perturbação da paz escolar nem a neutralidade do Estado. Embora a decisão não tenha sido de carácter geral, outros crentes podem basear-se nesta decisão para fazer valer o seu direito.
Os juízes consideram a liberdade religiosa como um acto interior que implica a possibilidade da sua expressão pública também através da oração.
O Senado de Berlim já manifestou a intenção de apelar para o Tribunal Superior contra esta decisão.
A decisão do tribunal deixa lugar para muitos medos. A luta de tapetes de oração muçulmana por um lado e a luta contra cruzes na escola serão temas propícios a aquecer mesmo ânimos pacatos!... Quem tiver mais força reprimirá os outros. Afinal, também aqueles que se empenhavam contra o ensino da religião nas escolas, vêem-na agora surgir pelo lado que não esperavam.
O governo socialista em Portugal expulsou as cruzes das escolas. Será que se algum muçulmano manifestar a mesma coragem em Portugal como os muçulmanos mostram na Alemanha, o direito português lhe dará lugar para a oração? O medo duma escola devota será proporcional à náusea dos preservativos socialistas na escola portuguesa!!!...
Parece um caso bicudo de resolver para a sociedade secular. Se os muçulmanos conseguirem impor um lugar para a oração na escola, será que os outros crentes não terão o mesmo direito?
Mas quem era tão tolerante criando a pausa dos “fumadores”, ou a esquina dos fumadores, certamente também conseguirá a suficiente tolerância para possibilitar na escola um espaço discreto, um espaço do silêncio. Os muçulmanos marcam personalidade e a presença a que os cristãos já não estavam habituados. As exigências de uns acordam as dos outros!
Os muçulmanos, duma maneira geral, não fazem distinção entre o cidadão e o fiel, só conhecem o homo religiosus. A sociedade laica ocidental já começa a ter insónias ao imaginar nas suas escolas genuflexórios, tapetes de oração e outras práticas ligadas a necessidades que não as laicas.
Quem como o PM Sócrates instrumentalizou a escola para a distribuição de anticonceptivos gratuitos e para a indoutrinação sexual, certamente não terá dificuldade em colocar também genuflexórios e tapetes de oração. Uma outra componente da tolerância e uma saída airosa para muitos problemas que surgirão, inerentes a uma sociedade avançada com necessidades cada vez mais individualizadas, seria a promoção e financiamento do ensino privado gratuito.
Liberdade de religião e tolerância são valores significantes, o mesmo se dizendo da neutralidade da escola.
Uma solução pacífica passará talvez pela criação nas escolas duma sala do silêncio onde todos, independentemente de credos, poderão retirar-se por alguns momentos para reflectir.
Reflexão é uma mercadoria rara na nossa corporação!
Se razão sem fé é deserto, fé sem razão é pântano!
A Tolerância da Intolerância um Sinal da Decadência?
Afinal, a frase evangélica, “no caso de te darem uma bofetada na face põe a outra face à disposição do inimigo”, só parece ser própria para afirmar no rosto dos outros! A dinâmica e relevância dos grupos mais fortes da História têm dado razão aos militantes sociais e não aos pacíficos.
O autor Henriyk M. Broder no seu novo livro “Kritik der reinen Toleranz” (Crítica da Tolerância pura), censura a política da tolerância perante imigrantes intolerantes. Broder é conhecido também pela crítica da violência de motivação islâmica e doutros males sociais. Critica o abuso de certos grupos que abusam do recurso à assistência social à custa dos trabalhadores. Entre muitos casos de abuso, relata o exemplo dum islamista de origem egípcia que nunca trabalhou, adquiriu a nacionalidade alemã, vive em Berlim e recebe pelos os seus 7 filhos 2300 euros por mês, além da complementação da renda de casa e outros apoios. Até aqui nada de especial, o problema é que ele conseguiu impor o nome de Dschiad (Guerra Santa) para o filho, através do tribunal. O processo que ganhou em segunda instância foi subsidiado pela assistência social.
Broder não consegue compreender que haja alemães com trabalhos precários e por outro lado muita gente a servir-se descarada e arrogantemente dos impostos dos trabalhadores. Para ele constitui problema o facto de muçulmanos se encontrarem sempre no centro dos acontecimentos. Enquanto que Hindus não se queixam da Alemanha pelo facto da comida de carne de vaca; em Berlim muçulmanos “queixam-se que a grelha dum recinto de encontros para grelhar está contaminada pela carne de porco e exigem a colocação dum grelha só para muçulmanos. Tal coisa ainda não ouviu dizer de Hindus que não comem carne de vaca nem de Judeus que têm nojo de carne de porco”. Os turcos e muçulmanos têm uma grande lóbi e os cidadãos nativos são abandonados a si mesmos pela política. Até já chegam a exigir um espaço nas escolas para rezarem.
O jornalista sente-se inquieto porque “onde hoje há conflitos sociais, quase sempre se encontra lá uma minoria muçulmana activa. Quando se fala de problemas de cidadãos de fundo migrante, trata-se sempre dum grupo determinado. São sempre turcos ou cidadãos muçulmanos de países árabes”.
Broder tem uma explicação para o facto: “… são grupos socialmente problemáticos e que dão nas vistas…isto deve-se a diferenças culturais, de que não queremos tomar conhecimento”. Na Alemanha, segundo estatísticas, 34% dos jovens turcos já cometeram um acto criminal e 30% das mulheres turcas apanham porrada dos seus maridos.
Até ao atentado de 11de Setembro de 2001 tinham “liberdade de loucos” porque a sociedade não se preocupava com os seus verdadeiros problemas no sentido duma “capitulação preventiva”.
Para o jornalista existe na sociedade um medo real sob os bastidores da ameaça, tal como aconteceu no caso de Salman Rushdi e das caricaturas dinamarquesas de Maomé. Os bastidores da ameaça “funcionam até no caso de não serem activados”.
Broder interpreta o fenómeno da sociedade apática e medrosa a um sentimento de sociedade do bem-estar, que se quer esquecer e se odeia a si mesma. Uma sociedade que já não conhece exigências existenciais. Vive-se numa sociedade farta refugiada na fartura e que “no caso de ser confrontada com desafios autênticos, já os não pode confrontar e procura a culpa sempre em si mesma”.
O problema da Alemanha e da Europa não está em ter imigrantes a mais mas sim em ter perdido a sua ética, a sua integridade e a sua responsabilidade individual e colectiva. O problema não está na tolerância a mais mas na falta de personalidade cívica e cultural dos cidadãos ocidentais.
O político é uma pessoa que afirma que tem razão, e mais não diz: - tem sempre razão. O cultor da Ciência Política, por seu turno, é uma pessoa que sabe que erra e procura aprender com os seus erros. A preocupação de ter sempre razão não é científica. O cientista sabe que o erro é a única forma de aprender e assume-o. Quer saber o que é insuficiente ou deficiente na sua metodologia. Aquele que apregoa a sua certeza poderá ou não convencer os outros mas acaba inevitavelmente por se convencer a si próprio. O exercício da política traduz-se pois por um exercício de auto-sugestão e, como tal, é perigosíssimo. O auto-enganado tem nas mãos alavancas de comando por vezes poderosíssimas. (exemplo: Bush/ Iraque).
Dizia Sun Tzu que o que melhor governa é o que menos governa. Será assim talvez porque o que menos governa é o que menos se engana.
As coisas evoluem porém ao arrepio da sabedoria do estratega chinês (se é que ele existiu). O Estado apodera-se gradualmente dos centros decisórios da sociedade civil. Até na livre América, a saúde pública está em vésperas de estatização, os bancos estão cada vez mais submetidos a apertado controlo estatal, e a General Motors, símbolo dos símbolos da capacidade dinâmica da iniciativa privada, pede ao Estado que a salve da falência! Lá vai o tempo em que um político proposto para Secretário da Defesa declarou no Congresso que se recusava a cumprir a praxe de vender as acções de General Motors, fornecedora do Departamento da Defesa, porque, alegou, «o que é bom para General Motors é bom para os Estados Unidos». Agora, dá-se o contrário. Só os EUA podem salvar a General Motors. E será bom que salve?
A dimensão do governo cresce e o peso da a sociedade civil reduz-se constantemente. E nós, os comuns dos mortais, privados de alternativas, ficamos nas mãos de gente que se engana e nada aprende com seus erros, ou seja, os políticos.
O orçamento deve ser equilibrado, o Tesouro aprovisionado, a despesa pública reduzida, a arrogância dos dirigentes moderada e controlada e a ajuda externa condicionada de modo a que Roma não vá à falência. As pessoas têm que reaprender a trabalhar em vez de viverem da assistência pública.
Com a agonia do Império Otomano, e a conseqüente desagregação das regiões e países/povos a ele submetidos, no século XIX o médio oriente era quase totalmente dominado (administrado?) pela Inglaterra e França.
Após a conquista pelo Egipto da Síria e Anatólia, a Rússia acabou por intervir e a Turquia tornou-se uma espécie de protetorado da Rússia. Os ingleses apoiavam a reestruturação do império Otomano e os franceses tomaram o partido dos rebeldes egípcios.
Todo o Magreb, a Síria, Iraque, Palestina, a maior parte da Arábia e do Irão, e até o Egipto conquistado com dinheiro, ficaram sob a custódia da França e Inglaterra, deixando à Itália a Cirenaica.
Em meados do Século XIX surgem, com esta confusa situação, os oportunistas pensadores-historiadores judeus, rebuscando passagens na Bíblia, para se autodenominarem um povo, uma etnia unida pelo sangue, e não um povo unido por uma crença ou religião e, em face da humilhação e desunião em que viviam os povos árabes, a exigirem a criação dum estado judaico.
Judeu passou a ser unicamente o descendente de Abraão, através de Isaac. Ismael, filho da escrava Hagar tinha, de acordo com as antigas leis, o mesmo direito que o irmão, e era o primogênito, mas Sara, invejosa, obrigou o velho Abraão a expulsar o que não saíra do seu ventre! Começa aqui a mentalidade racista! (Já fora a Eva que dera cabo da vida de Adão!)
Em época de grande fome, Isaac e sua linda mulher, Rebeca, foram recebidos e muito bem agasalhados pelos filisteus, os palestinos!
Diz a Bíblia que após regressarem, Rebeca, estando grávida e passando mal, consultou a Deus que lhe terá dito que ela aguardava dois filhos! Ela sentiu os fetos agitarem-se no seu corpo e logo determinou que eles já estavam lutando antes mesmo de nascer. (Alguém acredita que Deus terá falado com Rebeca?)
Mais tarde, Isaac a morrer, Rebeca engana o moribundo fazendo-o abençoar a Jacob, secundogénito apesar de gêmeo, em detrimento de Esaú, o que mostra uma vez mais como as lutas e as traições começam, cedo, no meio daquela gente.
Entretanto os judeus, que em vários milhares de anos se havia espalhado o judaísmo pelo mundo, pelas regiões mais ricas e comerciais, sobretudo a bacia mediterrânea, começam a querer acreditar na propaganda do grande exílio a que teriam sido submetidos quando da destruição do segundo templo de Jerusalém, em 70 d.C., pelos romanos. Alguns escritores chegam a afirmar que os romanos terão morto um milhão e cem mil judeus além de noventa e sete mil feitos prisioneiros! Jerusalém nessa época, talvez nem tivesse oitenta mil habitantes, e a maioria dos que lá vivia... lá continuou.
Reclamam a terra de seus ancestrais! Um dos primeiros passos foi começar a recolher dinheiro de askenazi e mandar comprar terras na Palestina. Compraram muita, e assim foram empurrando povos palestinos para fora de suas terras.
Paralelamente dedicaram-se, e ainda hoje, ao princípio de que judeu é uma etnia e não uma religião. Só os descendentes diretos de Abraão, via Isaac, são os autênticos judeus, os que têm direito a ocupar a terra de Canaã, e a desenvolver todos os esforços possíveis para concretizar a volta a Sião.
Tão ferozes foram nas suas intenções que, dentro da Alemanha se declararam um povo aparte, quando o germanismo, também feroz e racista, criava o principio do arianismo a que tão fortemente Hitler se agarrou. Consideravam-se judeus alemães e não alemães judeus! Foram cutucar em ninho de jararaca!
A insensatez chegou ao ponto de um professor judeu israelita, que já vivia em Tel Aviv, ter ido a Berlim consultar um dos piores carrascos de Hitler, no princípio dos anos 30 do século XX! O carrasco defendia a teoria da pureza da raça germânica e sua origem ariana, e o judeu a judaica em linha direta, desde Abraão! Sem se entenderem, nem discutirem qual a melhor, concluíram que se um estava certo o outro não estava errado. O professor judeu saiu do encontro feliz com a sua crença! Não tardou a começar na Alemanha a limpeza étnica. Os primeiros a pagarem essa criminosa loucura foram os ciganos, de quem aliás ninguém fala, porque lhes falta força política e financeira. Logo a seguir os próprios judeus!
Um outro intelectual, tornou-se admirador e seguidor das práticas de Hiltler. Quando este transferiu um milhões e meio de poloneses e judeus e os substituiu por alemães, escreveu: O mundo se acostumou à idéia de migrações em massa e quase se pode dizer que passou a gostar delas. Hitler por mais odioso que seja para nós, deu excelente reputação a esta idéia! Apesar de, como diz, ter odiado o louco nazi, ainda teve o desplante de afirmar que um acordo voluntário entre nós (judeus) e os árabes da Palestina (não falou em Israel) é inconcebível, atualmente ou num futuro previsível, precisamente porque eles não são um mero ajuntamento mas uma nação viva!
Com todo o seu poderio financeiro e a imensa propaganda que lhes valeu o holocausto, e porque os Estados Unidos não queriam aceitar mais imigrantes judeus, decidiu-se procurar uma terra para onde pudessem ir. Foi-lhes oferecido uma parte da África do Sul, Uganda ou Madagáscar, sem ninguém levar em consideração os nativos destas terras. Mas eles queriam Canaã. A Palestina.
Na confusão do final da II Guerra Mundial, os ingleses capitularam perante a insistência sionista e a ONU concedeu uma área grande de terra, para se criar o Estado de Israel. Fácil foi oferecer algo que não lhes pertencia!
Logo de entrada, na própria constituição israelense, se declara que são cidadãos do Estado de Israel todos os judeus de sangue de todo o mundo. Os prosélitos, os convertidos, diz a Tora, são como psoríase! Quer dizer, podem praticar o judaísmo, mas são nojentos!
Se assim pensam em relação a outros judeus imagine-se o que pensam em relação aos palestinos a quem roubaram as terras!
A certa altura, com falta de mão de obra para os kibutz, Israel lembrou-se dos seus irmãos negros, os falachas da Etiópia. Com a miséria secular que reina neste país, logo de entrada largos milhares se ofereceram para imigrar. Mas nem todos foram aceites. Ainda hoje há uma espera angustiante daqueles que acreditando ser judeus não conseguem seguir para a Terra Prometida, onde nunca se integram, porque etíope negro, de certeza não será descendente de Abraão. Pode ser de português. Das centenas destes que no século XV por lá ficaram a tentar ajudar o rei cristão e criaram famílias.
Hoje Israel, dependente de mão-de-obra barata e de maciças subvenções externas, continua a não olhar para os verdadeiros nativos da Palestina. Afasta-os, despreza-os, não lhes dá o direito de voto nem de cidadania.
O que esperam que aconteça? Um milagre do Deus do Antigo Testamento, feroz e vingativo? Que os judeus do resto do mundo se cansem de subsidiar um estado racista? Que os árabes fiquem mais 100 anos com aquele espinho atravessado na garganta?
Morrer na Jihad é uma honra e uma bênção para qualquer muçulmano. Por isso os ataques idiotas do Hamas com bombinhas.
Se não se olhar para o Outro com olhos de irmão... o conflito continuará a eternizar-se!
Ao começar a escrever estas linhas é bom deixar bem claro que não estou a defender nem a atacar quem quer que seja.
De acordo com uns quantos «especialistas» políticos, mais ou menos isentos, a paz no próximo oriente, o famigerado conflito na Palestina, a que chamam, indevidamente o conflito Israel-Palestina, mas que deveria chamar-se Judeu-Palestino, está longe de terminar, mesmo de abrandar, sobretudo depois destas últimas eleições.
Por razoável diferença, a líder do Kadima não conseguiu formar governo, que propunha entre outras medidas o estabelecimento das indefinidas fronteiras do Estado de Israel, o que seria um passo positivo, acabando o governo na mão dos retrógrados Likud e pior, muito pior, na coalizão com o partido do racista, extremista anti-árabe, Lieberman.
Se até hoje os palestinos não conseguiram aceitar a partilha do seu território, a tendência é piorar com a insistência do não reconhecimento pelo novo governo, ao pleno direito de todos os cidadãos, os não judeus, que vivem nas áreas «oferecidas» pela ONU, além das conquistadas pela força.
De acordo com o Corão, que estabelece num dos seus princípios fundamentais a jihad, a luta pela conversão dos infiéis, a invasão e a conquista de terras palestinas e a teimosia racista em não considerar todos os habitantes iguais, independente da sua etnia ou religião, são condicionantes a impedir o estabelecimento da paz. E enquanto não houver paz naquele pequeno espaço do mundo, não vai sossegar o Afeganistão, Indonésia, e sobretudo as relações do mundo árabe com o ocidente.
Pode o Irão e a Coreia do Norte produzirem a bomba atómica, mas ninguém é tão idiota que se atreva a declarar guerra aberta a Israel, que tem tudo isso e, militarmente, muito mais.
A solução não está em convencer o Hamas a deixar de mandar bombinhas para Israel, ou a enviar alguns suicidas carregados de explosivos, irritando, e com razão, o poderio militar dos inimigos, mas em convencer Israel a se limitar à área que lhe foi oferecida pela ONU em 1947. O Hamas nega-se a reconhecer o Estado de Israel, e até hoje ninguém teve coragem, nem a ONU (que ninguém sabe bem para que existe), de declarar a Palestina como um estado de direito, com assento nas Nações Unidas, usando para aquele território dilacerado, o termo enganatório, e racista, de Autoridade Nacional Palestina! Nem o Fatah, que volta e meia faz acordos com Israel, reconhece a situação, sabendo todos os intervenientes que tudo aquilo é fachada. E do mesmo modo não aceita ver a Palestina espoliada.
Já não estamos em época de aumentar fronteiras através de operações militares. O último dos «conquistadores» foi Hitler e ninguém, sobretudo os judeus, querem o regresso desse tipo de gente.
A situação actual não pode eternizar-se. Tal como está é uma bomba relógio. Um dia acabará por explodir, e as consequências serão muito graves. Os EUA ainda têm uma palavra que podem dar sobre o assunto. Vão ter que exigir que o Hamas fique quieto por algum tempo para poderem apertar com Israel. Mas... será isto viável?
Acabei de ler um livro extremamente interessante: Comment le peuple juif fut inventé, escrito por Shlomo Sand, um judeu israelita, professor de história na Universidade de Tel-Aviv, publicado em Setembro de 2008, primeiro em hebreu, em Israel e logo a seguir em francês. Foi um sucesso de vendas nos dois países. Não será fácil comentá-lo sem parecer estar a tomar partido, mas as declarações nele expostas, com base científica, não parecem deixar grande margem a dúvidas. No próximo texto falarei sobre o assunto.
Por hoje fica só a tristeza de ver que quando os homens não se querem entender, e não conseguem olhar nos olhos do outro, e ver um semelhante, seja ele judeu, ateu ou budista, alguma catástrofe se adivinha.
O cínico compõe-se de comédia e sátira; o estóico de tragédia e epopeia; o impostor de mentira; o sábio de dúvidas; o ignorante de certezas.
Historicamente, o cínico começa por ser um asceta e termina por ser um gozador.
Antístenes de Atenas (444 a.C. - 365 a. C.)
Não crê em nada: os deuses, o Bom, o Verdadeiro, o Justo, as convenções sociais, o prestígio, tudo para ele são palavras vãs. Em casos extremos, o cínico ignora o dinheiro, a cultura. Na generalidade, nega em absoluto qualquer arranjo do Império Universal, ou seja, agnóstico, tende para o ateísmo. Alheio ao sentido da verdade e incrédulo das certezas, o cínico conta apenas consigo próprio no que se refere à lucidez, ao voluntarismo, à força do desprezo a que vota tudo e todos. Ao grupo social normalizado contrapõe o individualismo, a auto-suficiência; fere de morte qualquer ideal e substitui-o pela concretização imediata dos seus próprios desígnios e pela imediata satisfação dos instintos. Desprendido, exibe atitudes provocadoras, manifesta múltiplos inconformismos, cria a sua verdade e define o seu próprio conceito de felicidade. As suas armas, a lucidez e o radicalismo que esgrime num meio que considera prenhe de ignorantes, de retóricos sem pensamento próprio, de poetas apenas preocupados com rimas por evidente falta de imaginação. A esse ambiente que despreza reage isolando-se progressivamente deixando à sua sorte –
mas sempre sob a sua distante e satírica crítica - uma sociedade formada por burocratas, politiqueiros, intriguistas, grandes proprietários e incríveis agiotas.
E, afinal, aquela sociedade imediatista, ímpia, desprendida dos conceitos éticos da bondade, verdade e justiça de que ele próprio se reconhecia partidário, foi essa mesma sociedade que o cínico alcandorou à sua própria crítica acérrima e da qual se isolou. E isso aconteceu quando reconheceu que a soma de todos os seus grandiosos «contra» não resultou sequer num ínfimo «pró». Derrubou, não construiu; ajudou a edificar o monstro de que teve que fugir assim confirmando a sua zanga com o mundo.
O estóico é o homem da lógica, da acção, da coerência, da razão pura e prática. É, sobretudo, o homem da virtude.
Crisipo de Solis (280 a.C. - 208 a. C.)
Virtude no sentido da firmeza de ânimo, elevação sobre as contingências, serenidade nas tempestades, voluntarismo a favor do próximo, identificação com o mundo que o rodeia. O estóico pratica a ética do seu tempo, não hesita em arcar com os «pecados do mundo» para identificar os problemas e lhes encontrar uma solução compatível com o bem-estar social. Dá o exemplo positivo, procura construir. A sua epopeia serve para dar fim à tragédia alheia. Não pede a paga, pensa no longo prazo, aproxima-se da eternidade.
O impostor pretende fazer a ilusão passar por realidade.
Paulo VI e o impostor
Para construir o seu «castelo de nuvens» não olha a meios para atingir objectivos. Mente e de tanto repetir a mentira acaba por se convencer de que ela é a verdade. Mas a mentira é viciosa e uma vez caído no vício da mentira tem que mentir cada vez mais para não ser apanhado em flagrante nas mentiras anteriores. Como o alcoólico, recusa a verdade que denuncie o cenário de ficção imaginado e reage agressivamente como se ofendido detentor de verdade duvidada. O impostor não é, por definição, um gatuno mas não tardará muito a recorrer a esse tipo de ilícito se esse for o meio para ostentar o estatuto que imaginou. A partir do momento em que já não controla a teia dos enredos imaginados, inicia um processo de revolta contra o mundo envolvente e se necessário apresta-se a construir a via que lhe garanta a inimputabilidade.
O sábio vive na intemporalidade, não necessita, não imagina o possível da indeterminação. Assistindo à realidade, dá-lhe uma justificação perene, intemporal, tendencialmente eterna.
Immanuel Kant ((1724 - 1804)
As coisas não são inventadas; as coisas já existiam, os homens é que não as conheciam. Todas as dúvidas sobre a finitude dos factos, das coisas, dos conceitos. Busca constante da essência dos conceitos, das coisas, dos factos.
O ignorante, espécie comum, sabe tudo e portanto não reunimos as condições necessárias à sua definição.
Sim, eles andam todos por aí, na praça pública – no Rossio, na Concorde, na Djema el Fna, na Cibeles e nos Parlamentos de quem os tem...
Lisboa, Novembro de 2008
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA:
CÍNICOS E ESTÓICOS, ONTEM E HOJE – Antunes SJ, Padre Manuel, BROTÉRIA – Junho de 1966