Finlândia, Dinamarca e Suécia fecham as fronteiras a refugiados
A Alemanha abriu as fronteiras, sem controlo, aos refugiados da guerra e da pobreza. Muitos refugiados usavam a Alemanha como país de passagem para outros países. Na convenção europeia de Dublin o país de entrada do refugiado é o responsável pela organização do processo de asilo. Como nas fronteiras alemãs deixou de haver controlo e grande parte dos refugiados entrados não era registada, países como a Polónia e a Hungria começaram a protestar estando dispostos a receber apenas perseguidos cristãos uma vez que eram perseguidos por regimes muçulmanos e, na sua lógica, os muçulmanos xiitas e sunitas deverem encontrar refúgio nos seus correspondentes países muçulmanos, coisa que estes não fazem.
A Dinamarca, a Finlândia e a Suécia introduziram controlo nas suas fronteiras para impedirem o acesso a refugiados vindos da Alemanha. Os países nórdicos agravam as leis de asilo condicionando a concessão de benefícios sociais aos refugiados que frequentem cursos de língua e dificultando o reagrupamento familiar.
UE pretende impor novo Direito de Asilo aos Países da Periferia
A União Europeia, ao criar a Zona euro, levou em conta a destruição das economias dos seus membros da periferia. Agora os países de economia forte, como a Alemanha, atraem os refugiados da guerra e da pobreza e não querem assumir, sozinhos, as consequências da situação criada em África.
A Alemanha por razões humanitárias, de mercado de trabalho e de envelhecimento da população, abriu as fronteiras aos refugiados sem consultar os parceiros europeus provocando uma corrosão do direito que até então regulava a entrada livre, sem controlo de passaportes, só para os países da comunidade. Agora sente-se invadida por mais de um milhão de refugiados em 2015. Como motora da UE, pressiona os seus parceiros no sentido de abdicarem do poder soberano nacional em questões de direito de asilo e fortalecer as fronteiras dos países limites da UE sem compensações para os países em situação precária também devida à sua posição geográfica e à reduzida população.. Querem ver o direito de asilo centralizado, que seja regulado pela UE e não pelos estados nacionais. Na lógica de atenção aos grandes, o direito de asilo, a criar, deve salvaguardar excepções para a Inglaterra e para a Dinamarca.
Agora que as potências europeias ricas sofrem as consequências, da sua má política, no êxodo de povos para os seus países, pretendem distribuir os gastos da sua integração pelas “aldeias” tentando elaborar um compromisso que implicará novas regulamentações e também a obrigação de cada país membro aceitar um contingente de refugiados a determinar anualmente por Bruxelas na sua política de colonos. Pretende-se alcançar um compromisso até finais de Junho.
Países distraídos e subservientes (devido à corrupção da classe política comprometida que têm) costumam aceitar, em troca de um “prato de lentilhas”, à margem do povo, as regulamentações de Bruxelas sem precaverem as consequências que com elas acarretam para o país.
Enquanto os portugueses se esgotam numa discussão pública partidária esgotante que se pode resumir no mote “o meu partido é menos corrupto que o teu” ou na presunção pessoal “o meu é maior que o teu”, os países ricos da UE trabalham no seu interesse implementando leis que Portugal assina sem discussão e depois o povo e bem pensantes ainda têm a arrogância de dizer que o governo da Alemanha é egoísta por ter olhado pelos seus interesses enquanto a política portuguesa e a opinião pública se contenta com o cantar da cigarra!
Por um lado assiste-se à emigração de pessoal jovem qualificado dos países da periferia (que gastaram imenso dinheiro na sua formação académica) para os países ricos da Europa e estes, que ganham com a guerra e a miséria do povo das regiões muçulmanas, querem, por outro lado, impor aos países carenciados que aceitem o pessoal desqualificado vindo daquelas regiões.
As grandes potências europeias, em colaboração com os USA, fazem o negócio com a exportação de armas em lugares de conflito e com a exploração das matérias-primas africanas, provocando, juntamente com os contraentes regionais muçulmanos sunitas e xiitas, o êxodo de milhões de cidadãos.
A Alemanha, com o caos inesperado dos refugiados em casa, procura defender-se, com Bruxelas, e tentar distribuir os males pelas aldeias, tentando para isso implementar medidas e directivas que imponham os interesses estratégicos, políticos, económicos e geográficos dos países do núcleo contra os da periferia; interesses económicos e estratégicos do centro norte que são antagónicos aos da periferia e que esta mais tarde pagará caro.
Infelizmente, cada país procura na UE as suas vantagens e quem dorme perde o comboio. O núcleo criou o alargamento do seu mercado de alta tecnologia e máquinas para países como a China à custa de estes poderem concorrer com os seus produtos com as economias fracas periféricas. Antes os países fortes em tecnologia recebiam têxteis, peixe, manufacturados e produtos agrícolas de Portugal e de outros países da margem em troca da sua maquinaria para depois com o mercado aberto da UE passarem a receber esses produtos directamente da China por serem mais baratos do que os portugueses; as pequenas e médias empresas portuguesas foram destruídas por não poderem concorrer com o mercado barato chinês. Quem pagou, em grande parte, a factura da entrada dos alemães no mercado chinês foram os portugueses e os países da periferia. Agora com a política de imigração em via, a Alemanha e outras potências preparam-se para ganhar a próxima guerra da concorrência social entre as camadas desprotegidas dos países membros.
Uma sociedade não pode ser governada apenas por interesses económicos; uma UE que se preocupa apenas com os interesses imediatos das suas potências fortes não é digna da cultura europeia donde nasceu; precisa de voltar a uma ética de base cristã que defenda o amor ao próximo, ao estrangeiro e a misericórdia para com todos. Uma política imposta, de cima para baixo, por interesses estratégicos de algumas potências europeias fomenta o cepticismo e ameaça a coesão dos 28 países.
Já tratei deste assunto anteriormente mas, como o problema continua a existir, parece-me justificado voltar a ele.
Na anterior ditadura, o Estado Novo era acusado de ter a Assembleia Nacional com a função de dizer “Aprovo“ a tudo o que o governo desejava. Ou seja, o governo tinha-se, abusivamente, apropriado do Poder Legislativo, juntando-o ao seu normal Poder Executivo. Lembro que, como se aprendia na escola, a governação de um país assenta em três poderes, Legislativo, Executivo e Judicial.
Esse facto era consequência de os eleitores, que podiam candidatar-se a deputados, sofrerem grandes limitações durante a campanha e de eventuais manipulações dos resultados, não conseguirem ser eleitos. Só era eleito quem o ditador indicava. Isso era considerado um dos graves males, mais grave, para muitos, que a incomodativa Censura, que alguns conseguiam ludibriar. Até o “Avante”, embora clandestinamente, continuava a ser publicado e a circular.
O que se passa actualmente em Portugal e em quase toda a Europa? Com a ditatorial partidocracia – para a qual cunhei a palavra “partidismo”, para estar de acordo com os nomes das outras ideologias políticas – o sistema em que o poder reside nos partidos e não nos cidadãos, que ficam limitados a eleger quem os chefes dos partidos decidem, vemos ressurgir essa morte do Legislativo, apropriado pelos governos, que passam a acumular, às suas funções de Executivo, as do Legislativo, reduzindo os parlamentos à função de dizer “Aprovo” a todas as leis que o governo determinar. Isto é, a Europa concorda com Salazar.
Se não for assim, diz-se, um país é “ingovernável”.
Nos Estados Unidos o sistema de governo é presidencial e o Presidente da República é o chefe do governo, funções que, noutros sistemas, são exercidas por um primeiro ministro. Actualmente – Dezembro de 2015 – o Presidente e o seu governo são do Partido Democrata. No Congresso, tanto no Senado – a câmara alta – como na Câmara de Representantes – a câmara baixa – a maioria é do Partido Republicano. De acordo com as ideias vigentes na Europa, deveríamos estar a ver o Presidente Obama declarar que o país era ingovernável.
Nos Estados Unidos os partidos não têm nem o poder nem o fanatismo que vemos na Europa. Se o Congresso não aprova tudo o que o Presidente deseja, aprova muitas das suas propostas. O país está muito acima dos partidos.
É um sistema democrático e os partidos políticos não são órgãos de poder, ao contrário do que acontece em vários países europeus.
No partidismo, que domina na Europa, vive-se para o partido e não para o país. A norma, para os partidos continuarem a ter o poder é: tudo o que é do nosso partido é óptimo e aprovamos; tudo o que é de outro partido é péssimo e reprovamos. O país está abaixo dos partidos.
Alguém acredita que a Europa, com o sistema vigente, vai sobreviver durante muito tempo antes de explodir... ou implodir?
Publicado no "Linhas de Elvas" de 23 de Dezembro de 2015
Um artigo de Vasco Pulido Valente que dá que pensar.
Quando estudávamos História e Geografia no liceu, conhecíamos a Europa, alguns cabos e cidades do litoral, alguns rios e montanhas, e uma rede de países, e ficávamos às portas da 2ª Guerra Mundial, depois de um percurso mais profundo pelos factos e nomes mais marcantes de uma história europeia na sua formação merovíngia e carolíngia, e umas peregrinações à Terra Santa, a Reforma e a Contra-Reforma com os massacres de São-Bartolomeu e as defenestrações de Praga – que imitámos atirando o nosso traidor Miguel de Vasconcelos pela janela do Paço, embora já morto - prova de desprezo sim, mas de brandura também, nos nossos costumes - e o Édito de Nantes da pacificação religiosa, embora continuássemos nós com a Santa Inquisição em toda a sua bestialidade. E aprendíamos Mazarino e Richelieu mais o Rei-Sol, a Revolução Francesa e a guilhotina e Maria Antonieta com o Petit Trianon e Luís XVI, e as batalhas do Napoleão pela Europa e a Ilha de Elba com, finalmente, Waterloo. E Bismarck… Mal se tocava no assassinato da família imperial russa, mas sabíamos do atentado de Sarajevo e da batalha de La Lis, para o nosso túmulo do Soldado Desconhecido. Sabíamos de nomes terríficos como Hitler, Mussolini, mas de Lenine e Staline mal se falava. Éramos crianças quando vivemos o racionamento dos produtos, sem percebermos os motivos, mas a história, no liceu, ficava-se às portas da Segunda Guerra, do comunismo não se falava, os que sabiam disso eram apanhados nas suas leituras. Pela Pide. Conhecíamos os países bálticos e as suas capitais e as gentes altas e loiras, mas Roménia, Polónia, Checoslováquia, Hungria, pareciam distantes, centrados que estávamos na Inglaterra nossa altiva aliada, a França, a Espanha, a Suíça, a Itália. E, naturalmente, a Grécia do passado, não a posterior europeia.
Este artigo de Vasco Pulido Valente esclarece-nos, como sempre. Conta do que fora essa Europa vaga da nossa ignorância, mostra como se forjou um novo conceito de Europa solidária, e refere que esse também está condenado a desaparecer, sobretudo com as novas invasões afro-asiáticas, que os dirigentes da solidariedade entendem tornar-se esta imprescindível para a definição dessa nova Europa, que se afirma democrática e não quer ser apelidada de racista, aceitando os lenços artisticamente postos nas cabeças femininas invasoras, mas que os povos que tanto sofreram aquando dessas guerras, joguete menosprezado que foram, entre as forças altivas do ocidente e da Rússia, dificilmente aceitarão nas suas terras, construindo inóspitos muros de arame farpado.
O que é certo é que a Europa, com vontade ou sem ela, vai sendo agarrada nos tentáculos desse polvo, aparentemente fugindo da fome e da guerra, pedindo misericórdia e de ventosas sugando. E ferindo.
Berta Brás
O artigo de Vasco Pulido Valente:
Lição de coisas
Vasco Pulido Valente
Público 25/09/2015
A “Europa” fazia sentido quando era a pequena Europa Ocidental, que o império russo limitava e, limitando, protegia. O alargamento sucessivo só podia trazer a desagregação e a impotência.
Muita gente fala por aí de olho arregalado nos “valores” que a União defende. Mas que valores? Nenhum dos países de leste que se absorveram partilha no fundo a civilização que se convencionou declarar comum. O Oriente, como disse Metternich, ainda hoje começa à porta de Viena. Não há entre as duas partes que se juntaram na UE nada, ou quase nada, de comum. Não fazem parte da mesma história, da mesma religião ou da mesma cultura. E nunca partilharam desde a queda de Roma o sentimento primário de pertencer a uma única comunidade, como até ao século XVI a Igreja Católica “universal”.
A crise dos refugiados mostra bem a fractura que divide a suposta União. A Hungria, a Roménia, a Eslováquia e a República Checa não aprovaram o mirífico “plano” de repartir entre os 28 a gente que ininterruptamente chega da Síria, do Levante, do Egipto e do Afeganistão. Isto talvez pareça de uma crueldade gratuita a quem não conhece, nem por ouvir dizer, o trágico passado desses quatro países. Não só nasceram de uma guerra de morte entre a Rússia, a Áustria e a Prússia pelo domínio da Europa Central, do Mar Negro e, eventualmente, de Istambul, mas sempre os trataram como gado que se dispunha segundo as conveniências de quem era na altura mais forte. Em 1989 continuavam por toda a parte os trabalhos de “limpeza étnica” e de correcção de fronteiras, que a “liberdade” tinha permitido.
A Hungria, a Roménia, a Eslováquia e a República Checa herdaram as desgraças da expulsão ou liquidação de minorias, que nunca inteiramente digeriram e que permanecem, as mais recentes, na memória viva da população. E também a “intensidade” do nazismo aumentou para Oriente e diminuiu para Ocidente. Estados de anteontem não vêem com equanimidade a criação de um novo grupo étnico – ou religioso – dentro das suas fronteiras. Nem deles, nem dos Balcãs se deve esperar a tolerância e a solidariedade que o Ocidente invariavelmente lhes recusou, a não ser na retórica do radicalismo, igual à que em 2015 a televisão despeja em nossas casas. A “Europa” não existe ou existe apenas sob forma de “subsídios”, que diminuem de ano para ano. A utopia não resistiu à realidade.
A União Europeia não é uma nação federal, como o Brasil ou os USA. Os que tal pretendem parece que não conhecem as diferenças entre as nações que a compõem, a sua história, os seus povos, as suas línguas, as guerras e as tendências hegemónicas de alguns. Muito diferente de nações jovens, como as duas citadas. A União Europeia é uma associação de nações que decidiram abdicar de alguns pontos da sua soberania em troca de outras vantagens.
Para a União Europeia sobreviver é necessário que haja mecanismos que impeçam que algum dos seus membros assuma – aberta ou veladamente – a hegemonia. Como já mostrei, os valores dos critérios de Maastricht, para condicionar a entrada no euro, parece terem sido determinados para servirem à Alemanha, segundo os valores previstos para aquele país na data da entrada em vigor do euro.
No entanto, a Comissão, o executivo, tem vindo, ao longo de décadas a interferir cada vez mais nos estados seus associados, muito mais do que o governo dos USA, uma nação federal, interfere nos seus estados membros. Pretendem uma Europa toda igual!
Não existe nos Estados Unidos a fúria de tornar tudo igual que aqui vemos estar a existir agora. O governo federal, instalado em Washington DC, repito, interfere muito menos nos 50 estados membros do que a Comissão – que não é o governo de uma nação federal – está a interferir nos seus 28 Estados.
Nos Estados Unidos há muitas leis que diferem de um estado para outro, mesmo em matérias de grande importância. Nalguns a pena de morte é legal, noutros não. As diferenças de salários e custo de vida são grandes. Há estados em que os casinos com jogos de azar são permitidos e outros onde não são. Recentemente foi reactivado o problema do perigo de falar ao telemóvel quando a conduzir um automóvel e sugeridas leis a proibirem essa prática. Tanto quanto sei, até agora apenas alguns estados estabeleceram leis sobre essa prática. Outros legalizaram a marijuana. A maioria não. E há muitas mais diferenças importantes.
Comparem-se essas diferenças com os pormenores que a União Europeia está a impor a todos. Penso que é urgente impedir tal intervenção e seria bom que os países membros acabassem com tal situação. As consequências podem ser terríveis, especialmente porque não pararam, com a criação da União Europeia, os apetites de alguns países para hegemonias altamente perigosas. É incompreensível que muitos que, em Portugal, se queixam do centralismo de Lisboa, aceitem este super-centralismo de Bruxelas.
Nos Estados Unidos, uma nação federal de 50 estados, o poder legislativo é exercido pelo Congresso. Este é constituído por duas câmaras, o Senado – a câmara alta – que tem 100 senadores, dois por cada um dos 50 estados, e a Câmara dos Representantes – a câmara baixa – com 435 representantes, num total de 535 congressistas.
Na União Europeia, o Conselho é constituído pelos governos dos países membros, cuja função é, essencialmente, decidir e aprovar a legislação que a Comissão executará. Uma dúvida me surge: porquê, então, a existência de um Parlamento? Como o governo dum país é quem, legalmente, o representa, não me parece lógico haver um órgão legislativo para a UE. Gostava que me explicassem a razão da existência desse órgão.
Além disso, o Parlamento Europeu, duma associação de 28 nações, tem 766 membros! Gostava de saber as razões para tão alto número, que constitui um enorme encargo financeiro.
Na minha opinião, de uma excelente ideia original, fez-se um verdadeiro aborto, por acumulação de muitos erros.
Os que pretendem uma Europa toda igual, a obedecer rigidamente às mesmas leis, não compreendem as tensões que estão a criar e que mais tarde ou mais cedo explodirão. Se essas leis forem feitas à medida de uma nação membro, o problema pode ser muito grave.
União Europeia dividida em Europa do Norte e Europa do Sul
Em termos de mentalidade e de economia a Europa encontra-se dividida em duas: a Europa do Norte e a Europa do Sul como podemos constatar a partir da luta cultural iniciada no século XVI pela reforma protestante e em parte na maneira como o império romano desabou. A norte predomina a mentalidade da cultura protestante (mais capitalista e técnica) e a sul a mentalidade católica (de caracter mais rural e natural); a primeira tem uma perspectiva mais individual (elitista) e a segunda uma perspectiva mais comunitária (popular).
Com a tragédia da segunda guerra mundial os países centrais e nórdicos começam por criar uma união económica integradora das economias. Com a queda do muro de Berlim resultante do colapso do comunismo pensou-se na organização de uma Europa económica e política sem fronteiras (1). Finda assim a época das guerras militares entre países europeus para surgir um outro tipo de guerra: a guerra económica com sanções e servidões entre as nações.
Antes as nações usavam a força dos exércitos para derrubarem principados e nações; actualmente, com uma estratégia adequada à democracia, as potências usam o seu poder financeiro internacional (Bancos) para derrubarem soberanias de economia mais fraca e para humilharem democracias. De facto, os bancos são os novos exércitos avançados das nações.
Por outro lado, os soldados mercenários da guerra foram substituídos pelos trabalhadores migrantes…
A estratégia pós-guerra da França de condicionar a União da Alemanha à criação da Moeda Única (Zona Euro) para, deste modo, a amarrar e criar uma zona de paz duradoura na Europa não parece frutificar. A Alemanha perdeu a guerra político-militar mas ganhou a guerra económico-política; e esta é a guerra do globalismo.
Como se vê da Grécia e de Bruxelas, da disputa entre o norte e o sul da Europa, as hostes avançadas e discretas da economia não arredam pé. Não há uma política económica para as nações. Em vez de uma Europa confiante vive-se numa sociedade europeia de medos. A europa do norte compreende-se como trabalhadora arrecadando para o seu celeiro e sofre do medo de ter de distribuir o que de todos arrecadou com suor e inteligência: A Europa do Sul teme pelo seu estilo de vida: uma existência do bom viver; “não só de pão vive o Homem”; por isso se reage veementemente não querendo ser reduzida a homo faber.
A forma como tem evoluído esta crise europeia, alguns artigos publicados em jornais e muitas declarações a que assisti na TV provocaram a necessidade de eu também participar nesta espécie de circo.
Para começar, recordo-me de nas duas vezes que precisei de recorrer a crédito, além de pouca utilização de compras a prestações, tive que provar ter condições de pagar a curto prazo o empréstimo realizado. O que aconteceu.
Agora, nesta dita crise europeia “de repente” aparece a Grécia com uma dívida enorme e simultaneamente também enorme descrição de desvarios da gestão deste país que originaram esta trágica situação que logo várias sumidades da economia previram poder causar grande perturbação na Comunidade Europeia e até provocar a saída deste país dado o seu comportamento, dos políticos aos cidadãos, ser incompatível com as normas rigorosas seguidas por esta comunidade.
No entanto, analisando os acontecimentos ocorridos nestes últimos vinte anos, podemos recordar os volumes elevados de fundos que foram enviados por ela para os países agora mais afligidos pela crise para ajudar o seu esforço para se reorganizarem de forma a se aproximarem dos níveis dos outros mais avançados e os elevados empréstimos com que esses mesmos países se iam comprometendo teoricamente com esse mesmo objectivo.
No entanto, verificava-se ano a ano que o seu PIB não melhorava, as tais reformas não se faziam e os défices cresciam sistematicamente. Em Portugal, por exemplo, se a Constituição fosse cumprida no que respeita à obrigação dos Órgãos de Soberania zelarem pela soberania e pela independência do País, os Orçamentos do Estado deste período não deveriam ter sido considerados constitucionais pois a evolução da nossa economia ia declaradamente contra aquela obrigação constitucional.
Mas os actuais credores, agora tão zelosos no cumprimento das regras, foram emprestando sempre mais e obviamente também cobrando os respetivos juros que entretanto os tais países mal governados iam pagando, com a natural satisfação das entidades credoras onde parece terem os seus responsáveis tido boas recompensas pelos lucros obtidos.
Entretanto, em 2008 rebenta uma crise, não só europeia mas mundial, em grande parte consequência de todo este ambiente desregulado e à mercê dos grandes especuladores que acelera a queda fatal daqueles que tinham perdido o rumo correcto da sua vida económica e se tinham deixado embalar pelo dinheiro fácil.
Portanto, esta fatalidade neste momento dita grega e que se for mal resolvida poderá ser seguida por uma fatalidade portuguesa, e eventualmente outras mais, é principalmente também europeia porque a responsabilidade dela ter acontecido é da Europa que não foi capaz de assumir eficazmente a sua existência como comunidade e não apenas como uma colecção de países com alguns acordos entre si.
O que é válido para as formigas muito dificilmente o é para as cigarras. E vice-versa. Os conceitos de vida são de tal modo diferentes que só por mero acaso pode haver interesses comuns. Eis por que a União Europeia começa por não o ser plenamente: europeia, sim; união, de todo.
Neste cenário, o sentido do dever perante o formigueiro nada tem a ver com o desenrascanço, a trapaça corriqueira, o «dolce fare niente», a «nonchalance», o «não te rales» das cigarras cantadeiras.
O sentido kantiano do dever perante o bem comum resulta no conceito de que o trabalho é uma obrigação social; o individualismo, pelo contrário, assenta no princípio de que a felicidade platónica é um direito natural em que o trabalho não passa de um instrumento descartável – tão precário quanto possível e tanto melhor quanto mais precário ele puder ser - para alcançar essa felicidade. Conceitos, portanto, opostos, o de viver para trabalhar e o de trabalhar para viver.
Outra diferença também importante: o conceito de que o trabalho é um dever; o conceito de que o trabalho é um direito.
Ao empenhamento individual na prossecução do bem comum subjazem razões morais (a questão dos princípios, que pode inclusive ter fundamentação religiosa ao estilo luterano) e éticas (a questão dos factos, que muito naturalmente se traduz num enquadramento jurídico construído adrede durante séculos); ao individualismo subjazem outras razões - que divergem largamente dos conceitos luteranos e kantianos – e conduzem a situações de todos nós, sulistas, bem conhecidas tais como essa de enjeitar responsabilidades («eles» é que são os culpados), de viver à custa do próximo (os ricos que paguem a crise), de recusa do risco (um emprego na Repartição Pública é que é bom).
Tudo, afinal, uma questão de educação.
E que cenários tão diferentes temos na instrução e formação profissional. Nem vale a pena aprofundar a análise: basta comparar os níveis médios de habilitações nos países nórdicos e nos países do Sul da Europa. A Internet tem informação estatística mais do que suficiente para que todos, sulistas, nos enchamos de vergonha. Eu não a vou compulsar mais enquanto tivermos em Portugal um único adulto analfabeto, desses que só sabem desenhar o nome.
Daquele empenho generalizado de contribuir individualmente de modo instruído para o bem comum das sociedades «formigueiras» resulta uma notável dinâmica económica produtiva; nas sociedades «cigarreiras» há quem insinue a falácia de que o consumo é motor do desenvolvimento.
De nada valem invectivas contra os que são competitivos, poupam e emprestam dinheiro aos que se habituaram à função esmoler. É politicamente incorrecto fomentar a inveja e a burocracia; é crime navegar na corrupção; é lastimável que se construam pesados cenários legais e regulamentações constrangedoras só porque o legislador sempre desconfia de quem é empreendedor.
Não acredito que o Walhalla tenha monopolizado todas as virtudes para os seus povos apenas deixando problemas para os seus «colegas» do Olimpo mas acredito que todos esses Deuses tenham grandes dificuldades de relacionamento.
União Europeia? Je m’en doute!
No dia em que os Deuses do Olimpo mandam os seus devotos a referendo.
Sexo e Poder a servir a Excitação – Diferença entre Gregos e Germanos
Os gregos embrulham o poder com papel couché de sexo enquanto os germanos embrulham o poder com a serapilheira do trabalho! Isto provoca excitação numa sociedade sem capacidade de interpretação mas em que o escândalo é negócio.
A Alemanha e a Grécia encontram-se em luta justa mas parcial porque cada uma aposta na sua razão esquecendo que a solução viria de uma recíproca complementação.
Dinheiro, poder e sexo prometem o que não podem dar mas lisonjeiam a liberdade que, à sombra deles, perde a dignidade/virgindade.
A ambição do poder e o desejo sexual movem homens e mulheres dando-lhes uma áurea acrescentada pela prostração das massas. O poder sexy dos Varoufakis, dos Sócrates e até dos Berlusconi torna-se num elixir irresistível que move admiradoras e admiradores pelo facto de unirem o poder ao sexo e deixarem um cheirinho a dinheiro.
O poder corrompe, mas vestido de eros adquire um brilho inocente que atrai a alma e ilude o desejo de liberdade. À sombra dos poderosos, a cimentar o seu desejo de conquista, abunda também a fantasia de Cinderelas que, para subirem a escada do poder, fazem uso da sua força erótica. Ao seu desejo corresponde, por vezes, a necessidade dos poderosos solitários que, na aridez da sua ocupação, procuram, também eles, a suavidade da fêmea que lhes dá brilho e gera autoconfiança.
Sexo e poder dão brilho à tentação e movem as massas, porque garantem a contínua excitação, especialmente, se não vestidos nos fatos engravatados da tradição que dessexualizam o desejo.
O inocente sexo ajuda a vender o produto, ao mover a tentação. Na vida pública e na fachada do poder, a mistura de sexo e autoridade ainda se torna mais atractiva e deslumbrante quando a ela se junta o rastilho da esquerda. O ingrediente esquerdo torna a coisa mais atractiva porque ao sexy acrescenta a ideia da fecundidade que promete dar sustentabilidade ao progresso.
Por estas e por outras, o génio grego sente-se melindrado e o espírito protestante engravatado sente-se agravado; ao alemão frontal habituado a andar por caminhos direitos e bem rasgados custa-lhe a entender a mistura que o pacote grego encobre e porque teima tanto em andar por curvas e atalhos.
Tal disparidade de formatos leva o germano a concluir que o que o grego tem para oferecer é lábia erótica quando o germano só negoceia com produtos. Para o germano o eros não vai para a rua nem faz parte da exortação à guerra, para ele a rua é batalha e o sexo é sigilo que reforça, mas fica em casa.
Por isso a dança de gregos e germanos se torna monótona e repetitiva porque toda ela se dá em torno do cavalo troiano: uns em torno do cavalo de Atenas, outros em torno do cavalo de Bruxelas.
Todo o alarido e discórdia vêm de diferentes performances. O poder torna os instintos educados mas o sexo dá-lhe o brilho que não se quer disciplinado. O nosso mundo é todo assim, feito de políticos e poderosos que atraem mulheres e seguidores; tudo pronto a dar cambalhotas como gatos aos pés dos donos, num bulício à volta do bezerro de ouro. O dinheiro tem em si algo oculto que faz brilhar os olhos mas apaga a mente.
Também é de reconhecer que uma vida sem tentação seria vida chata e abafada em mel a que faltariam as maviosas modulações dos cânticos da cigarra.
Para não ser injusto e à maneira de conclusão, cito o sociólogo Johan der Dennen que constata: ”Também mulheres poderosas têm um apetite sexual acima da média”. Se observarmos Ângela Merkel vemos como é verdadeira e forte a excepção à regra.
O problema na UE não vem do papel couché nem da serapilheira, o problema vem do que embrulham e o que embrulham é poder a encobrir o poder!
A União Europeia nasceu da solidariedade e está em risco por falta de solidariedade. Esta parte é evidente; as dificuldades vêm das estranhas propriedades desta diáfana substância que une e anima a Europa.
A solidariedade é muito especial: só funciona em ambos os sentidos e quando todos participam. Assim é fácil pedir solidariedade, exigir solidariedade; difícil mesmo é ser solidário. Isso leva a mal-entendidos, como reclamar solidariedade esquecendo o próprio contributo ou pretender promovê-la ralhando com os parceiros não solidários.
Pior, a Europa enfrenta uma das doenças mais terríveis da solidariedade: o proverbial problema da "ovelha ronhosa". O futuro da unidade depende de todos os membros confiarem naquele que mais violou a confiança. Este facto simples, evidente, gritante até, anda muito omisso das conversas sobre o longo drama que devasta o sacrificado povo grego e ameaça a unidade europeia.
A União exige que Estados membros e autoridades comunitárias emprestem mais uns largos milhões ao governo grego, para lá de todos aqueles que ele não pagou. Isto apesar de tudo o que os sucessivos governos desse país fizeram para minar a confiança dos parceiros, e de o actual levar o desafio e atrevimento a níveis inauditos. A verdade é que ninguém mostrou menos solidariedade comunitária do que a Grécia, a mesma que agora reclama solidariedade dos parceiros.
Por outro lado, esta compreensível desconfiança conduziu a Grécia a uma situação incrível, o único país desenvolvido a sofrer uma grande depressão desde os anos 1930. Com economia devastada e desemprego explosivo, o sofrimento atingiu níveis inaceitáveis, o que torna compreensíveis a insolência e a rebeldia do governo grego. Assim o resultado é o impasse.
A Grécia é horrivelmente mal gerida há décadas, com uma recorrente subversão do interesse público, sempre capturado por inúmeras formas de corrupção, aproveitamento e oportunismo de grupos instalados. As disfunções sociais do país são evidentes para quem quiser abandonar os mitos e olhar para a realidade.
Esta constatação não nos deve levar a uma forma de racismo, atribuindo o problema ao carácter grego. Não é preciso ir à Antiguidade para ver realizações espantosas desse povo. Quando em 1981 o país aderiu à Comunidade, o mais pobre que até então o conseguira, fê-lo de pleno direito, devido às excelentes prestações económica e financeira das décadas anteriores. Tal como Portugal anos depois, a adesão pretendia assegurar a democracia num país com conturbada experiência política mas impressionantes realizações produtivas.
O mal não está nos gregos, mas nos hábitos políticos que a integração trouxe consigo. Desde cedo que os ministros helénicos se habituaram a aproveitar todos os ganhos que a Europa concedia, evitando as exigências que a integração trazia consigo. O mal da Grécia é a sua recorrente falta de solidariedade europeia.
É inegável que o país se tornou o protótipo do oportunista endividado e abusador, mas também que a Europa tolerou os atropelos e alimentou os abusos. Esta é a razão por que os credores em geral, e a Alemanha em particular, apesar do horror dos últimos anos, não conseguem confiar na Grécia, por ela não mostrar a mais elementar das solidariedades: cumprir regras. E a história não começou ontem; foram quase 35 anos de recorrentes transgressões e esbanjamentos.
A crise desde 2008 atingiu o limite e, mesmo aí, confirmaram-se as desconfianças. Enquanto o país se arruinava, muitos grupos conseguiram defender privilégios pagos com dinheiro alheio. É verdade que também noutros Estados as reformas ficaram aquém do planeado; mas ali, ao contrário de parceiros como Portugal, não se cumpriram os mínimos que permitissem às autoridades europeias mostrar benevolência, apesar de o povo sofrer horrores.
A recente arrogância do Syriza, por muito compreensível que seja, aumentou a dificuldade. Negar o problema e ralhar com os credores não é forma razoável de ganhar a sua indispensável confiança. Afinal esta última colheita de dirigentes, apesar de livre dos vícios das anteriores e com orientação política radicalmente diferente, mantém a atitude de fundo: o governo grego está menos preocupado com o interesse nacional do que com a satisfação de certos grupos ou princípios ideológicos.
Décadas de erros mútuos trouxeram a situação ao ponto limite. Mas a Europa e a Grécia têm de se lembrar de que a matéria de que é feita a Europa é a solidariedade. Se a conseguirem reencontrar, a União não só ultrapassa a crise, como fica mais forte.