As diferentes inteligências
Quando uma criança nasce, os pais, avós, tios, todos enfim, perguntam num misto de apreensão e alegria:
-Ela é perfeita?
Os anos passam, a criança cresce e desenvolve capacidades, personalidade e habilidades que vão formar o perfil do futuro adulto. Porém, todos os indivíduos acalentam um mesmo desejo: serem um dia ricos, inteligentes ou bonitos, virtudes que abrem as portas da sociedade, da mente e dos corações.
Mas dentre essas qualidades há uma em que se deposita as maiores esperanças, a inteligência. Até algum tempo atrás, ser inteligente era ter a chave do sucesso. E tanto isso era levado a sério que se chegava a rotular as pessoas como inteligentes ou não inteligentes, usando como base o famoso teste do QI (Quociente de Inteligência) do francês Alfred Binet. Aos outros dons dava-se menor importância, pois na escala de valores intelectuais eram considerados apenas habilidades que se aprimoravam com o exercício. Quem tivesse a capacidade de avaliar e desenvolver uma cadeia de raciocínio lógico-matemática na resolução de problemas complexos ou que tivesse a linguagem verbal corrente, fluida, coerente, clara e informativa era considerado inteligente, restando aos outros, os menos destacados, o limbo. Até mesmo nas escolas, para os mais dotados, se reportavam os professores e colegas, que viam neles a promessa de um futuro certo e brilhante.
Mas a ciência não se conforma com tantos pontos de interrogação pendentes. Outras pesquisas foram feitas e novas ideias e hipóteses surgiram. O cérebro é como um computador em potencial que tem muitos recursos e que a maioria não sabe explorar a contento. A inteligência convencional baseada no pensamento de qualidade única, indivisível e herdada, que fatidicamente rotulava os indivíduos, aos poucos foi caindo por terra com os resultados das pesquisas recentes. Com os estudos do psicólogo de Harvard, Howard Gardner, na década de 80, veio à baila novo conceito, o das múltiplas inteligências humanas. Embasado nessas conclusões surgiu o QE (Quociente Emocional), do também americano Daniel Goleman, que mostra o avanço dessa teoria dizendo que o que importa é a capacidade do ser humano saber lidar e/ou resolver problemas.
Agora confirmam com pesquisas, o que já se sabia: o Homem é com um caleidoscópio que apresenta múltiplas facetas e diferentes potencialidades. Dentre elas há aquelas que mais se desenvolvem, ou aparecem, dependendo dos estímulos e do ambiente. Com frequência essas “inteligências” se mostram muitas vezes em situações inesperadas e/ou em tempos diferentes. Talvez seja por isso que na infância, época onde mais desabrocham as vocações, a criança já defina as suas tendências. Isso mostra-nos porque no passado, tantos alunos foram considerados na escola insuficientes, e até medíocres, e na vida tornaram-se profissionais brilhantes e competentes, e até mesmo génios, como no caso de Albert Einstein.
Com as múltiplas inteligências de Gardner abriu-se o leque das humanas possibilidades. E à escola, após a casa, num segundo tempo, cabe identifica-las e trabalha-las. Estimular os dons artísticos, a expressão corporal, o senso espacial, lógico, matemático, geográfico, linguístico, observador. Aprimorar a percepção dos sentidos, a capacidade de lidar e de se relacionar, seja de maneira verbal ou escrita, fará dessas crianças pessoas melhores e bem resolvidas.
As formas de inteligências ou outra denominação que se queira dar às nossas inatas competências devem ser alimentadas desde a infância até a velhice, respeitando a capacidade individual de apreensão, pois cada um tem um tempo certo e uma maneira específica para aprender e desenvolver. A individualidade adequadamente estimulada dará a forma mental de raciocinar e as características pessoais que fazem de cada um de nós um ser competente especificamente, mas nem por isso mais ou menos inteligente.
Howard Gardner define:
“Inteligência é basicamente a capacidade de resolver problemas ou elaborar projectos que sejam importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural. Actividades diferentes requerem habilidades específicas”.
Uberaba, 24 de Abril de 2007
Maria Eduarda Fagundes