Sobre a reencarnação nada tenho ainda para dizer mas acerca da perenidade do espírito sobre a caducidade da matéria, já disse e repito, acredito.
Foi Santo Agostinho que disse que todo o ser vivo corpóreo tem alma, a qual lhe é dada por Deus: no caso dos vegetais, a alma é simplesmente o que dá vida ao corpo permitindo que este seja alimentado, cresça e se reproduza; nos animais, a alma não é somente a fonte dessas actividades que se encontram nos vegetais mas é também a fonte da sensação e do apetite; nos seres humanos, a alma racional é a fonte do pensamento e da vontade, além de todas as demais actividades que os homens têm em comum com os vegetais e com os animais.
E São Tomás de Aquino disse que o embrião humano tem uma alma vegetativa, o feto tem uma alma animal e só pouco antes de nascer tem uma alma verdadeiramente humana.
Não gosto desta doutrina de S. Tomás pois abre portas à interrupção voluntária da gravidez e com esta não concordo minimamente (a menos que clinicamente aconselhável) mas chego-me descontraidamente à de Santo Agostinho acrescentando a possibilidade de os animais domesticados (e os pets por maioria de razão) terem uma alma evoluída no sentido da sofisticação da humana. Sim, neste sentido, creio que as almas também se educam.
Mais: admito que, após a morte do corpo, a alma possa vaguear uns tempos pelos locais onde os afectos se tenham manifestado durante a vida (não pelos cemitérios, locais com que as almas nada têm a ver) mas que posteriormente se encaminhem para níveis definidos fora das tais quatro dimensões nossas conhecidas: o Céu dos cristãos «onde se sentarão à direita de Deus Pai» ou os sucessivos patamares budistas «rumo ao Ser Supremo» ...
Porque não são conhecidos regressos do Céu ou dos tais patamares budistas, só as almas errantes poderão reencarnar. Será?
Como será na outra dimensão que não esta, material, em que nos encontramos? Não sei e não pensei ainda no assunto. O que sei é que não me vou preocupar por enquanto com o tema. Por enquanto…
Mas, embora possa parecer um absurdo, agora penso em James Joyce e na sua epifania, a epifania joyceana dos lugares e das suas ocasiões. E do que se trata? Trata-se de «vermos» o que aconteceu nos lugares por que passamos, sobre as pedras que pisamos. Mas isso, numa condição: a de sabermos o que se tenha por ali efectivamente passado. Então, vemos as cenas, imaginamos as pessoas, os factos historicamente conhecidos. E tudo isso acende luzes na nossa mente até ao ponto de consciencializarmos os pormenores, os fundamentos dos acontecimentos, a quinta essência dos locais.
Eis por que espiritualismo nada tem a ver com espiritismo; James Joyce nem sequer terá conhecido Allan Kardec. Prefiro «Ulisses».
A epifania a que me refiro acontece a partir do conhecimento prévio do que tenha acontecido, resulta de nós, não é uma adivinhação nem uma revelação de algo que não conhecíamos e que nos seja trazida… por quem? A transcendência joyceana é endógena, genuinamente nossa, não usa mesas com pé de galo nem fumos mais ou menos anabolizantes espirituais.
E nada me diz que James Joyce tenha curriculum que o eleve aos altares.
Materialismo espiritual parece um absurdo mas trata-se da manifestação perante os nossos sentidos de algo que só se pode associar a um espírito por falta de explicação alternativa.
Conforme relatei no texto inicial desta série, eu próprio testemunhei essa realidade por várias vezes: duas vezes ouvi; por vezes já incontáveis, vi. Em muitas destas vezes, fui acompanhado no testemunho pela minha mulher ou pela nossa empregada doméstica.
Trata-se de um conhecimento empírico, factual, não teórico.
Mas houve quem o teorizasse. Por exemplo, basta referir os budistas e os teólogos católicos.
Assim, se o Senhor Buda nunca se afirmou divino e sempre se disse um homem comum, foram os seus seguidores que lhe atribuíram milagres tanto em vida como por invocação depois da morte terrena. Aí está: morte terrena e sobrevivência do espírito que os devotos invocam.
Os católicos invocam os Santos da sua devoção por cuja intercepção com Deus esperam receber atenções específicas. Aí está novamente a morte terrena do Santo invocado e a sobrevivência do respectivo espírito.
No meu caso, não tenho a pretensão de ter testemunhado a aparição do espírito de algum ilustre membro do nosso hagiológio, pode ter sido de alguém mais chegado à minha vivência ou à minha casa. Na minha teologia cabe a possibilidade de cada um de nós, vivos, ter um anjo da guarda.
Sinto-me confortável ao imaginar que tenho um anjo que me guarda, aquele que me chamou na Índia e que já referi. Conforto empírico, não intelectualizado.
Se a plenitude do conhecimento científico é inalcançável, então o que se passa com o conhecimento total? A minha resposta é simples: o conhecimento científico é uma parcela do conhecimento humano; se a plenitude do conhecimento científico é inalcançável, então a plenitude do conhecimento é inalcançável também. Monsieur de La Palisse não seria mais óbvio.
E quanto às outras parcelas do conhecimento humano, as não propriamente científicas? Creio que a sua plenitude é também utópica pois haverá sempre a prevalência do ditado que nos diz que «cada cabeça, cada sentença».
É que basta o raciocínio humano não ser unicitário – VIVA A DEMOCRACIA! – para que haja sempre a possibilidade duma variante ao pensamento «provisoriamente definitivo» quer empírico e factual, quer doutrinário, quer filosófico, quer religioso, quer material, quer espiritual e assim por aí além…
Basta hoje pensarmos no que há um século era tido por definitivo para nos espantarmos (ou rirmos, até) com o atraso em que os nossos antepassados estavam há relativamente tão pouco tempo. E isso, em todos os campos do conhecimento.
Então, se 2+2 continuam a ser 4, já o pensamento de Nietzsche nos pode parecer inadequado para os tempos actuais, a máquina a vapor temo-la como um «pouco» ineficaz no processo de lançamento de naves espaciais, as determinações do Concílio de Trento podem não ser totalmente conformes às do Concílio Vaticano II e as teologias luterana e romana podem já não estar tão distantes como o estavam há 500 anos.
E que dizer do budismo tibetano e de outros espiritualistas?
Sim, creio que alguém deu a ordem de ignição para que o Big Bang acontecesse. E a esse alguém eu chamo Deus.
A questão que coloco de seguida é a de saber se Deus accionou a grande explosão e se retirou de seguida ou se se manteve a assistir ao resultado da acção desencadeada.
A esta questão respondo com a hipótese da continuação pois não encontro a quem mais se possa atribuir a autoria do inexplicável à luz dos nossos sentidos (conhecimento sensorial), do racional (lógica, a dos silogismos), do intelectual (raciocínio especulativo) nem do conhecimento científico. Autoria de inexplicável, vulgo, fazer milagres.
Será então que à medida que o homem avança no conhecimento, Deus recua nos milagres?
Aqui recorro novamente a Karl Popper[1] quando afirma que o avanço científico se faz pela sucessão de
problema inicial => tentativa de formação de teoria => discussão crítica para eliminação de erros => reformulação do problema => nova teoria => despiste de erros => …
… e assim sucessivamente com destino à verdade que consiste num ponto no infinito.
Ou seja, o homem avança mas Deus não recua porque o homem culto e sabedor despista erros mas descobre que a verdade é esse tal ponto no infinito. E o inexplicável continuará até que o homem atinja a verdade total lá no infinito…
Dezembro de 2017
Henrique Salles da Fonseca
[1] «A VIDA É APRENDIZAGEM – Epistemologia evolutiva e sociedade aberta», Karl Popper, ed. Edições 70, 1ª edição, Janeiro de 2011, pág. 30 e seg.
Então, como ia dizendo, se os cientistas actuais admitem a existência de outro Universo (no singular ou no plural) a que futuramente se acederá pelos buracos negros espaciais, quem sou eu para duvidar?
Assim, admitido o desaparecimento da unicidade do nosso Universo, podemos também admitir outras dimensões que não apenas as três dos eixos cartesianos mais a do tempo, as tradicionais quatro dimensões em que navegamos diariamente[1].
Mais duas questões:
Em que dimensões funcionam os ultra rápidos OVNI’s?
Quem nos diz que noutros Universos as «coisas» funcionem como no nosso? É que, tanto quanto se supõe, no nosso tudo começou com o big bang.
E a partir deste ponto, cessa o esotérico e entra o exotérico.
E os outros Universos terão tido o mesmo big bang que nós tivemos ou foi de outro modo que nasceram? E mesmo no nosso, o quê ou quem provocou o big bang?
Os animistas dizem que foi um Ser que não identificam, os hindus dizem que foi Brama, os budistas referem-se ao Ser Supremo, os judeus atribuem a criação do Universo a Javé, os cristãos a Deus, os muçulmanos a Alá e assim por aí além…
O nome e a teologia que cada grupo de homens lhe deu, é questão menor quando o que está em causa é saber se Deus existe ou não.
Eu creio que alguém provocou o big bang.
Dezembro de 2017
Henrique Salles da Fonseca
[1] Recordemos que os matemáticos também têm modelos para mais do que estas dimensões
Educado fora da religião – não contra – sempre fui céptico relativamente a questões exotéricas mas as histórias que narrei no texto inicial fizeram-me um click determinante na aceitação da dimensão imaterial, direi mesmo que da vida para além da morte.
A partir dos acontecimentos das histórias que contei, ficámos a ver por vezes - pelo canto do olho, não de frente - certas «nuvens» passageiras a que não fomos capazes de atribuir uma forma específica de modo a que conseguíssemos identificar do que (ou de quem) se tratava.
E isto significa o quê? Para já, significa que deixei de considerar exclusiva a dimensão tridimensional a que estamos habituados. Mas significa também que essa outra dimensão continua a ser misteriosa pelo que tenho que a abordar de um modo diferente para descortinar algo mais, tentando encontrar uma explicação para o que nas tradicionais três dimensões é inexplicável.
Sou assim levado a perguntar-me o que se passa com os buracos negros existentes por esse Universo além que tudo absorvem de tal modo que nem a luz lhes escapa. Para onde vai tudo? E a explicação que «homens de Ciência» me apresentaram consiste na hipótese de os buracos negros serem pontos de contacto com outro Universo (no singular ou mesmo no plural), quer dizer, com mundos nossos desconhecidos, com outras dimensões.
E se os cientistas actuais admitem que haja dimensões nossas desconhecidas…
Claramente pretensiosa a atribuição a estes pequenos textos da dimensão de matéria teológica. Mas que outro nome lhes hei-de atribuir? Metafísica? Sim, estou a referir-me ao que fica para além da física, ao imaterial. Mas na Metafísica cabe muito mais do que na Teologia e esta, sim, é a questão relativa à dimensão que tem a fé como inerência, em paralelo com a racionalidade. A Metafísica pode basear-se apenas na racionalidade; Deus exige fé. Nem Santo Anselmo conseguiu eximir-se à fé para elaborar o seu argumento ontológico. Nem Descartes, nem Pascal,… como já nem os teólogos da era patrística cristã ou aqueles que transformaram a filosofia budista em religião passando por todos os teólogos judeus, muçulmanos, hindus, xintoístas e até animistas. A Teologia existe para dar racionalidade à fé, para explicar o que aparentemente é inexplicável.
E cito Karl Popper a págs. 32 da sua autobiografia intelectual, «BUSCA INACABADA»[1] em que afirma que “a teologia (...) é devida à falta de fé”, conceito com que também não deixo de concordar pois quem tem fé não precisa de explicações e a quem a não tem, pode não haver explicações que bastem. Foi especialmente para estes últimos que a Teologia foi edificada.
Mantenho, pois, o título. Mas para descer ao nível que na realidade cabe às elucubrações que desenvolvo, aconchego tudo à cautelosa dimensão da «minhidade». E assim fica ab initio admitida a falibilidade.
Dezembro de 2017
Henrique Salles da Fonseca
[1] - ESFERA DO CAOS, 1ª edição, Fevereiro de 2008
Cenário - em minha casa, durante os trabalhos finais de derrube, esquartejamento e remoção da palmeira centenária que no nosso jardim fora atacada pelo «besouro do Nilo».
- Henrique!!!??? – ouvi claramente chamar por mim num tom interrogativo como se quem me chamava, de tão desorientado, pedisse que lhe dissesse o que se iria passar de seguida. Levantei-me de imediato à procura de quem me chamara em tom tão aflito e… não vi ninguém. A Graça, minha mulher, estava junto de mim mas só ouviu …ique!!!??? e a empregada doméstica disse que não ouvira nada mas veio lá da outra ponta da casa com os olhos esbugalhados a olhar para mim à espera que eu lhe explicasse o que passara por ela e lhe fizera um arrepio.
HISTÓRIA 2
Cenário – zona anexa ao hall do hotel em que nos hospedáramos no interior do Estado do Kerala, Índia, depois de enorme tensão por causa da saúde da Graça (problema paralisante de ciática).
- Henrique!!! Henrique!!! – ouvi claramente chamar por mim e logo passei de um estado ansioso para uma calma que eu próprio estranhei. Eu tinha ido ao hall do hotel para agradecer aos polícias que, à falta de outro meio de transporte, nos tinham trazido de jeep da borda do lago em que navegáramos até ao hotel. No local em que eu estava não encontrei ninguém e foi quando me voltei para regressar ao quarto que ouvi o chamamento.
CONCLUSÃO
Há acontecimentos inexplicáveis na dimensão a que estamos habituados.
Dezembro de 2017
Henrique Salles da Fonseca
(navegando na baía de Cochim, Kerala, Índia, poucos dias depois da história nº 2)
Mas por que foi Francisco à Suécia? Porque são importantes estes acontecimentos de há 500 anos? Afinal não somos apenas nós, Portugueses, que nos preocupamos com sucessos de há 500 anos?
A 31 de Outubro de 2016, o Papa Francisco esteve em Lund a iniciar o aniversário dos 500 anos da Reforma, juntamente com representantes da Igreja Luterana. A 1 de Novembro celebrou uma missa para 25 mil católicos; não há muitos mais na Suécia.
Onde foi pregar o papa? À Suécia, um dos países mais descristianizados da Europa. Segundo o Eurobarómetro, em 2010, apenas 18% dos suecos “acreditam que existe um Deus”. Segundo a Gallup em 2009, 17% afirmam que “a religião é uma parte importante da sua vida diária”. Apenas 15% dos membros da Igreja Sueca acreditam em Jesus, enquanto outros 15% são ateus, e 25% agnósticos. Apenas 2% participam nas celebrações. Neste país, a religião é considerada com indiferença benigna.
Mas por que foi Francisco à Suécia? Porque são importantes estes acontecimentos de há 500 anos? Afinal não somos apenas nós, Portugueses, que nos preocupamos com sucessos de há 500 anos?
Na época de Lutero, a Igreja Católica considerava que ninguém deveria formar as suas próprias opiniões a não ser através da mediação da Igreja. Contra esse paternalismo, Martinho Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, a língua comum. Assim recomendavam todos os humanistas cristãos: Erasmo, Colet. Moro. Budé, Vives.
Papa comemora a Reforma
A viagem de Francisco a Lund significa a primeira vez que um papa comemora a Reforma. A era ecuménica do “consenso diferenciado” começou há 50 anos com o Concílio Vaticano II e é agora reforçada na cerimónia luterano-católica.
Se Lutero tivesse sido apenas um teólogo com ideias inovadoras; se apenas tivesse escrito ou impresso tratados com as suas leituras e interpretações da palavra de Deus mas tivesse morrido a 30 de Outubro, o mundo seguiria o seu rumo.
Mas Lutero foi diferente. A 31 de Outubro pegou nas 95 Teses que denunciam a venda das indulgências e afixou-as na igreja de Wittenberg, o primeiro dos actos com que arriscou a vida pela fé cristã, e pelos valores da liberdade de consciência.
Em 1521, chegou a Worms perante o imperador Carlos V e ouviu a condenação dos juízes; após pedir 24 horas de reflexão, afirmou com lucidez e coragem: “Estou submetido à minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável.”
A loucura de Lutero
Esse foi o primeiro ponto de Francisco em Lund. Elogiar essa “loucura” do “Aqui estou e não posso fazer o contrário“, a loucura de quem arrisca tudo pela fé e para ajudar os outros.
A Igreja de Jesus Cristo nasceu em Jerusalém há quase dois mil anos. Teve um período verdadeiramente católico ou universal, até ao cisma de 1054, gerador da Igreja Ortodoxa na Europa do Leste e Rússia. Teve um período confessional desde a reforma de 1517 em que as guerras de religião se sucederam e as divisões diminuíram o fulgor evangélico. E iniciou um período ecuménico a partir do séc. XX em que o ateísmo e agnosticismo crescentes se tornaram ameaças maiores que as divisões internas.
Ecuménico significa o que abrange o planeta. Ecuménico é também o movimento em que catolicismo, protestantismo e ortodoxia, antes constrangidos por posições confessionais, redescobrem a unidade primordial em Jesus Cristo.
É a primeira vez que um papa comemora a Reforma mas a história do ecumenismo é mais longa. A Conferência Missionária Mundial de Edimburgo em 1910 foi um passo importante como o é o prémio Templeton, desde 1972 considerado Prémio Nobel da Teologia.
Ecumenismo
As Igrejas evangélicas iniciaram o ecumenismo com a Assembleia geral do Conselho Mundial das Igrejas em Uppsala (1968).
A Igreja Católica iniciou-o com o Concílio Vaticano II. O decreto ecuménico Unitatis redintegratio; a constituição dogmática Lumen gentium e a Constituição pastoral Gaudiam et Spes e o decreto missionário Ad gentes são os marcos desse ecumenismo. A recente Encíclica Laudato Sí, de 2015, expandiu este horizonte.
A “Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação” de 1999, apresenta a fórmula de “consenso diferenciado”. No documento “Do conflito à comunhão” da Comissão Internacional Católico-Luterana em 2013, afirma-se: Em 2017, devemos confessar que somos culpados diante de Cristo por termos rompido a unidade da Igreja.
Em 1517 a Igreja encetava com Lutero o caminho da separação. Em 2017 está no caminho para a unidade nas diferenças. A unidade está mais próxima: essa foi a segunda mensagem do Papa Francisco em Lund: as comunidades cristãs não podem resignar-se à distância que a separação criou.
Conta o cardeal Walter Kaspar no seu livro Martinho Lutero; lido em chave ecuménica 500 anos depois que a 1 de Novembro de 2009 plantou uma tília no jardim de Lutero em Wittenberg; em retribuição, os luteranos plantaram uma oliveira diante dos muros da basílica de São Pedro, construída com o dinheiro da venda das indulgências. Quem planta árvores tem esperança mas também tem que ter paciência.
O ecumenismo tem que se alimentar do mútuo reconhecimento; não é um produto de uma pessoa, um grupo ou uma igreja. Para os crentes, acontece como dádiva de Deus; para os não crentes, é o que o mundo necessita para sair dos impasses actuais…
Crenças comuns
A chanceler Angela Merkel, cristã luterana e filha do pastor Horst Kasner, apelou às igrejas protestantes e católica da Alemanha para salientar as crenças comuns em 2017.
Tal como Lutero, há 500 anos atrás, estava escandalizado que o bom dinheiro alemão era desperdiçado com os luxos da Roma mediterrânica e estava descrente desse grande projecto europeu que era a aliança entre o Império e a Igreja Católica Romana, a sr.ª Merkel tem um problema luterano de lidar com um povo que acha que o dinheiro alemão subsidia estrangeiros mal comportados.
Para o resolver vai ser preciso muito mais que perceber de finanças internacionais. Vai ser preciso construir com paciência a atitude ecuménica dos consensos diferenciados que as igrejas cristãs descobriram ao longo do século XX e que o reformador Papa Francisco veio celebrar em Lund com os reformadores luteranos.