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A bem da Nação

A LUSOFILIA NUMA PERSPECTIVA DE FUTURO

 I

 

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Lusofilia – dedicação a tudo que se relacione com a cultura portuguesa e com as culturas dela derivadas.

 


Temos, nós os lusófilos, como motivação principal o estreitamento dos laços entre as várias comunidades de língua portuguesa, pelo que é fundamental procurarmos as complementaridades nacionais que reponham a língua portuguesa na ribalta internacional e façam do espaço lusófono um modelo de facetada erudição, ética e progresso.

 

E se neste momento nos dividimos nas opções ortográficas dando maior ou menor predominância às vias erudita e popular, devemos precaver-nos contra o perigo da deriva populista (já tão em moda na política) que nos poderá conduzir ao desaparecimento do padrão e ao extermínio da via etimológica pela hegemonia da via fónica. Num espaço ainda tão flagelado pelo analfabetismo adulto, não parece ser esta uma opção de valimento porque o futuro não deve ser subjugado pela quantidade em detrimento da qualidade. Apelando à nossa tradição náutica, se desmagnetizarmos a bússola nunca mais encontraremos o rumo.

 

Simultaneamente, em plena crise financeira global resultante do hedonismo reinante e da flagelação da Ética, é imperioso que assentemos nos princípios que possam enformar o futuro de todo o mundo lusófono.

 

A tradição mercantil portuguesa pode ajudar na busca de soluções para o futuro e se a globalização nos conduz a uma dimensão muito grande, isso não obsta a que não devamos procurar enquadramentos mais à nossa escala. Antes de rumarmos para outros horizontes, dediquemo-nos à promoção das capacidades endógenas para não corrermos o risco de crescimento balofo. Referimo-nos às escalas local, regional e nacional. Na outra dimensão, a internacional, temos a CPLP como o espaço privilegiado para a corporização de uma estratégia de complementaridades de utilidade múltipla, sempre no pleno uso das inquestionáveis soberanias. E esta dimensão lusófona, queremo-la alargada aos «portugueses abandonados», aqueles que algures no Mundo e na História foram bem ou mal governados por Portugal, que absorveram os valores que lhes legámos e que após a nossa retirada – por vontade própria ou alheia – ficaram, contra ventos e marés, a defender esses valores quantas e quantas vezes rodeados de hostilidade ou, no mínimo, de desdenhosa indiferença. Referimo-nos aos lusófonos da Índia, das Celebes, de Malaca, do Sri Lanka, aos Melungos dos Apalaches e a tantos outros que não queremos deixar ao abandono. E porque adivinhamos «portugueses» perdidos por aí além, cremos que a Lusofonia está em crescimento. Crescimento numérico. Preocupemo-nos desde já com a qualidade.

 

Motiva-nos a idealização de todas as vias possíveis e úteis para o progresso da Lusofonia (expressão oral) e do espaço lusófono (expressão material, económica). E pensando nestas vertentes, lemos a História para com ela aprendermos, não a discutindo nem a negando mas reconhecendo que uma repetição não faria hoje qualquer sentido. Procuramos conhecer as questões que se colocaram no passado para melhor compreendermos o presente e, daí, perspectivarmos o futuro. In minime, modernizemos o passado.

 

A título de exemplo e recorrendo apenas a uma cidade, vejamos por onde andou Tavira, actualmente uma pequena cidade portuguesa, ao longo da História: foi sede do primeiro Hospital do Ultramar fundado em 1430 pelos frades trinitários[1] dali irradiando o apoio à Cruzada no Norte de África e à sequente gesta dos descobrimentos; foi pólo pesqueiro de primeira grandeza exportando carne de baleia para o resto da Europa; foi centro mercantil internacional até que a barra assoreou; foi «Madrinha» do Canadá; foi na de Tavira que o Marquês de Pombal se inspirou para decretar a Região Demarcada dos Vinhos do Douro (hoje erradamente considerada a mais antiga do mundo quando essa honra pertence a Tavira). Enfim, foi tanta coisa que podemos inspirar-nos fartamente no passado para imaginarmos o futuro. Mas o Império acabou, a barra não tem calado para os navios modernos, as baleias fugiram e os atuns passam ao largo, o Canadá já não se lembra da existência de Tavira e a vitivinicultura aguarda por ser restaurada.

 

Quantos outros exemplos podem ser identificados? Tantos que não cabem num texto sucinto.

 

Mas quando a análise histórica não sugere modelos pragmáticos para o futuro, resta a solução de cuidar da melhor e praticamente única matéria-prima de que dispomos, as pessoas. Por isso, antes de nos lançarmos a novas campanhas de alvorada, devemos dar prioridade à valorização dos recursos humanos.

 

(continua)

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 Henrique Salles da Fonseca

(junto ao Forte Aguada, Goa, Novembro de 2015)

 

[1] Ordem da Santíssima Trindade

LUSOFONIA: CULTURA OU IDEOLOGIA?

 

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Normalmente, quando se utiliza a expressão “Países Lusófonos”, a referência imediata são os países africanos que têm o português como língua oficial e que por circunstâncias históricas foram colónias de Portugal, tendo ascendido à independência na década de 70 do Século XX. E por extensão, já mais tarde, Timor-Leste.

 

Normalmente é senso comum que o Brasil e os brasileiros não são incluídos neste conjunto, muito menos Portugal. Ora, se no plano empírico as coisas assim se passam, é porque, do ponto de vista desse senso comum, algo se cristalizou a partir de um jogo de aproximações semânticas que nos remetem à teoria de conjuntos. Quando em 1988, Itamar Franco se reuniu com os seus homólogos em São Luís do Maranhão, o encontro não se designou Lusófono, mas sim dos Países de Língua Portuguesa. Assim, também as bases para a constituição de uma comunidade constituída por esses Países também não adoptou o nome de Comunidade Lusófona, mas sim Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP.

 

Este é o primeiro ponto que coloco à reflexão e discussão. Por que razão é que do ponto de vista oficial, na diplomacia e na cooperação multilateral, jamais o termo lusófono foi adoptado? E por que razão é que a nível do discurso político, sobretudo na relação entre o olhar de vários segmentos da sociedade portuguesa, este termo tem vindo a ser consagrado como sendo o de maior utilidade para identificar os espaços e as gentes que historicamente já estiveram ligados a Portugal, sobretudo.

 

Marcelo Rebelo de Sousa, esteve recentemente em Moçambique, no âmbito de cooperação académica entre as universidades portuguesas e moçambicanas. Ele escandalizou meio mundo ao, pela primeira vez, assumir a postura muitas vezes pronunciada em surdina de que havia que resgatar o lado bom do colonialismo, fazendo justiça àqueles que, embora servidores do sistema, conseguiram dar-lhe um rosto humano. E chocou, porquê? Na justa medida de que, para nós, é um dado adquirido de que o colonialismo é sempre mau para quem o sofreu e é sempre bom para quem dele beneficiou.

 

Esta mistura de águas publicamente assumida num País que foi colónia até há pouco mais de trinta anos, vem demonstrar que muitas contas estão ainda por fazer para nos entendermos no mundo dos conceitos. Para isso é que servem as discussões.

 

Levanto esta questão do pronunciamento de Marcelo Rebelo de Sousa para remetê-la à problemática do mito do império que habita o imaginário cultural e ideológico dos portugueses desde o Século XVI.

 

Independentemente da postura partidária de quem quer que seja e que pode enformar o discurso, hoje na essência, a questão permanece inalterável.

 

O destino dos portugueses é plasmar o seu ser nos quatro cantos do mundo. A história, em parte, confirma isso, na medida em que, a partir do século XV, Portugal tornou-se numa grande potência mundial, presente em todos os continentes, fazendo-se respeitar e fazendo com que a sua língua se tornasse na língua franca nos meandros da economia, do comércio e da diplomacia.

 

Mesmo com o enfraquecimento do Estado Português e consequente desaparecimento desse poderio real, os portugueses interiorizaram esse desígnio de grandeza histórica que lhe não permite ser contido naquele pequeno rectângulo que constitui o seu território.

 

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 Lourenço do Rosário

LUSOFONIA – ECONOMIA E MERCADO

 

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Um desafio aos grupos económicos do espaço lusófono

 

Num tempo em que a Europa se encontra em grande crise e as suas potências procuram beneficiar da sua posição económico-geográfica para proteger e fomentar os seus vizinhos mais próximos em detrimento dos países da periferia e benfeitorizando também as suas relações económicas com as suas antigas colónias, seria de grande oportunidade uma união de esforços em todo o território lusófono, não só no sentido do fomento de projectos culturais comuns mas especialmente na elaboração e fomento de um espaço económico comum que privilegie o parceiro lusófono tal como as potências privilegiam os seus parceiros imediatos.

 

Só em conjunto se conseguirá reagir contra o neocolonialismo das multinacionais das grandes potências interessadas em criar estruturas de dependência tecnológica e económica que amarram os países indefesos aos seus mercados e às suas condições. Disto deveriam estar conscientes os países do espaço lusófono. Um pensamento criativo conjunto, em termos de concepção e projecto futuro, podê-los-ia possibilitar passos alargados no sentido de superar o colonialismo económico das grandes potências, bem como o encalhe em nacionalismos fechados que uma História lúcida já não permite.

 

Sem tabus, seria óbvio fazerem-se reviver ideais formulados nos tempos do regime de Salazar – necessariamente adaptados às realidades dos países lusófonos actuais - e ver o que ele tinha realmente de visionário a nível de afirmação das antigas “províncias ultramarinas” como parte de um espaço económico comum, numa consciência de complementaridade.

 

Já no regime de Salazar se concebia a ideia de uma confederação do espaço de multiculturalidade e interculturalidade afro-luso-brasileira correspondente a um mercado comum a beneficiar do mercado europeu: “A formação de um grande e de um só mercado, assegurando a um tempo a comunhão de todos os territórios nacionais sem qualquer diminuição, bem ao contrário, da autonomia de cada um, rasgará horizontes tão vastos que neles caberá a igualdade efectiva de condições, seja qual for o chão português onde labutem, a quantos vivam para criação da riqueza nacional.”

In http://eurohspot.fcsh.unl.pt/site/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=391

 

Não se perca tempo nem se continue a adiar a História com aconteceu no regime de Salazar e aconteceu especialmente no regime do 25 de Abril.

 

Numa altura em que a economia Portuguesa ainda se encontrava ligada às províncias ultramarinas portuguesas e à EFTA, entre 1960 e 1973 o rendimento nacional por habitante crescia a uma média superior a 6,5% ao ano! "Nos anos 60 e até 1973 teve lugar, provavelmente, o mais rápido período de crescimento económico da nossa História, traduzido na industrialização, na expansão do turismo, no comércio com a EFTA, no desenvolvimento dos sectores financeiros, investimento estrangeiro e grandes projectos de infra-estruturas. Em consequência, os indicadores de rendimentos e consumo acompanham essa evolução, reforçados ainda pelas remessas de emigrantes", constata a SEDES.

 

A UE (Zona Euro) beneficiou as infraestruturas portuguesas (auto estradas) mas destruiu a agricultura e as pescas e promoveu a desindustrialização do país. As mesmas consequências sofrerão países emergentes (como os do espaço lusófono) que verão as suas economias confrontadas e dominadas pelas multinacionais e amarrados a tratados comerciais e de investimentos internacionais do tipo TTIP que favorecem as grandes potências interessadas em mercados para exportação ou para fortalecimento das suas empresas.

 

O espaço da Lusofonia é extraordinariamente rico em recursos naturais, humanos e culturais e um excelente exemplo de inter culturalidade. Urge portanto, na luta selectiva dos mais fortes, a união de forças no sentido da solidariedade construtiva entre os países mais fracos para não deixarem definir o seu futuro da economia pelos outros, que a exemplo dos bancos vivem bem dos “juros” que os clientes têm de pagar ad infinitum. Facto é que o tempo das economias nacionais já faz parte do passado; não se pode deixar a determinação do futuro ser só determinada pelo consumo e o lucro.

 

Portugal deveria estar muito interessado, como membro do grande mercado da zona euro, em favorecer o fortalecimento da economia e do intercâmbio da imigração lusófona no espaço europeu. A grandeza de um tal espaço e da população ofereceria a base necessária à formação de grandes grupos económicos com capacidade de concorrerem com os tradicionais grupos das multinacionais que hoje dominam. O espaço intercultural lusófono poderia tornar-se num exemplo de economia social do mercado.

 

Um tal projecto implicaria a formação de grupos de trabalho ad hoc (redes de técnicos e especialistas) a nível dos ministérios da economia e dos grandes empresários e Bancos dos diferentes Estados da lusofonia. Neste sentido deveriam trabalhar também as universidades de todo o espaço lusófono preparando o caminho com pesquisas, trabalhos de doutoramento e o intercâmbio na aplicação, no lugar, de um saber conectado e de orientação lusófona.

 

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António da Cunha Duarte Justo

ADESÃO DA GUINÉ-EQUATORIAL À CPLP

 

 

Meditando sobre a questão do pedido de adesão da Guiné-Equatorial à CPLP, concluo por uma posição favorável.

Porquê?

Por várias razões histórico-políticas e realistico-imaginativas...

Historicamente, fomos nós, os portugueses, os primeiros europeus a desbravar aquela região do Golfo da Guiné e, portanto, temos toda a legitimidade para estabelecer laços preferenciais de cooperação com qualquer um daqueles países. Sucede que, entretanto, fomos substituídos em todos eles por outras potências coloniais ficando a Lusofonia ultrapassada pela francofonia e pela anglofonia. A castelofonia não vingou no Golfo da Guiné, pura e simplesmente, pelo que não apresenta qualquer sinergia real ou potencial.  Em termos de estratégia de cooperação internacional, a Guiné-Equatorial só poderia optar pela francofonia ou pela anglofonia com todos os inconvenientes que teria que enfrentar por ser mais fraco do que qualquer dos países regionalmente membros dessas tais fonias correndo quiçá riscos na manutenção da sua soberania nacional. Ou se mantinha isolada no contexto internacional ou optava pela Lusofonia.

1ª Conclusão: a adesão à Lusofonia é do interesse da Guiné-Equatorial e é mesmo a sua «tábua de salvação» (para a população nacional tanto lhe faz aprender português como 1ª língua estrangeira como lhe faz aprender francês ou inglês pois no dia-a-dia continuará a falar as línguas indígenas).

Do lado do mundo lusíada, que problemas temos se aceitarmos a adesão de um país riquíssimo em matérias-prima pelas quais temos a maior apetência? Dir-me-ão que se trata de um país em que prevalece uma ditadura, onde não são respeitados os Direitos do Homem, em que não há Sindicatos livres, em que a política de protecção do Ambiente é letra morta. O meu silêncio só será entrecortado por suspiros de nostalgia relativamente à situação angolana... Mais:  a convivência com o mundo lusíada só poderá gerar influências benéficas com vista a alguma democratização do regime político desse país.

2ª Conclusão:  a adesão da Guiné-Equatorial à CPLP só peca por tardia.

Admito que para a arrogante Espanha esta adesão da Guiné-Equatorial à esfera de interesses do desprezível Portugal e da Lusofonia possa ser um vexame histórico e que, portanto, tudo faça para que tal não aconteça;  admito que para a sôfrega França esta adesão da Guiné-Equatorial ao mundo lusíada seja uma facada na estratégia de reconstituição duma imperial francofonia (França não abandonou a cobertura do CFA pelo seu Banco central enquanto Portugal não fez algo de equiparável e perdeu a emissão monetária na Guiné-Bissau); admito que também a Grã-Bretanha esteja sequiosa do petróleo da Guiné-Equatorial.

3ª Conclusão:  todos os motivos apontados justificam a preferência que a Lusofonia deve dar à adesão da Guiné-Equatorial à CPLP.

resultado mais prosaico da minha meditação: um pouco mais de petróleo não incomodará os nossos interesses estratégicos…

 

 Henrique Salles da Fonseca

O acordo ortográfico e o cidadão interessado

 

 

Desde há muitos anos que leio vários artigos sobre a questão do acordo ortográfico e, não tendo qualquer dúvida quanto à importância da língua portuguesa nas ligações com todos os aglomerados populacionais que falam português por esse mundo fora, ainda não tomei conhecimento completo da razão pela qual chegámos à situação atual de haver três ortografias possíveis.

 

Segundo o excelente artigo publicado há dias no DN pelo Prof. Vasco Graça Moura há em Portugal o correspondente ao acordo que nós aceitámos, há em Angola e Moçambique o que nós tínhamos antes e há no Brasil o deles. Quem quiser saber mais deve ler o artigo atrás mencionado.

 

Perante tal confusão resolvi realizar uma busca que, embora pouco académica, talvez já possa dar-me alguma ideia da explicação para esta situação, e assim procurei saber o que tinha acontecido com as línguas espanhola, francesa e inglesa, cujos países de origem tinham tido também impérios coloniais e as suas línguas usadas em vários países hoje independentes.

 

Em nenhum deles a história da evolução da sua língua fala de acordos ortográficos e respetivas polémicas mas em compensação parece ter havido, particularmente a partir do início do século XIX o desenvolvimento de editoras privadas situadas nos países de origem que forneciam todos os livros necessários para as populações das antigas colónias.

 

Desta maneira simples passou a haver suficiente uniformidade da escrita respetiva e assim não se justificou a necessidade de qualquer acordo ortográfico nem de interferências governamentais neste assunto.

 

Só na língua inglesa houve algumas diferenças entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha que levou Bernard Shaw a afirmar que estes dois países eram muito parecidos excepto na língua.

 

Recordando a história de Portugal e do Brasil verifica-se que ao chegar ao Rio de Janeiro em 1808 D. João VI encontrou um país em plena idade média que rapidamenteiniciou uma fase de desenvolvimento em todos os sectores incluindo o do ensino e portanto do consumo de livros e de jornais.

 

Acontece que neste período Portugal era invadido pelas tropas de Napoleão que depois tiveram que ser expulsas, ao que se seguiram as lutas entre liberais e absolutistas e assim o País esteve em enorme perturbação e instabilidade das quais só foi melhorando em meados deste século XIX, mas que continuou sempre impeditiva de acções mais profundas.

 

Não é pois de estranhar a ausência de editoras portuguesas no mercado brasileiro, como aconteceu com os países atrás indicados, razão pela qual apareceram ali várias editoras que naturalmente adoptaram a língua que mais de adaptava aos condicionalismos locais. E assim se formou o “português” do Brasil.

 

Como a diferença de dimensão entre o português e o brasileiro é enorme, o que quem nunca viveu no Brasil pode ter alguma dificuldade em entender, o crescimento da actividade literária e científica neste país originou a necessidade de utilizar termos, quase sempre no início para traduzir autores estrangeiros, e assim se desenvolveu uma língua baseada no português mas naturalmente com diferenças na ortografia e na pronúncia.

 

Mas por muito que isso custe a alguns portugueses, a produção editorial brasileira passou a ser de tal modo que muitas vezes se queria  estudar alguns assuntos, originalmente em línguas estrangeiras, em português tinha que adquirir edições brasileiras.

Por outro lado o Brasil tem quase vinte vezes mais praticantes da sua língua que Portugal e a aprendizagem desta por estrangeiros é mais fácil, razão pela qual estes dão natural preferência ao português do Brasil.

 

Os portugueses não só não foram capazes de aproveitar as enormes riquezas herdadas de D. João II mas também não conseguiram concretizar as iniciativas empresariais que lhe possibilitariam agora não ser preciso um acordo ortográfico praticamente impossível a menos que seja de acordo com o Brasil. E isto pouco tem a ver com o Governo pois trata-se essencialmente de uma questão da sociedade civil e em particular da nossa iniciativa empresarial, tradicionalmente fraca e muito encostada aos apoios do Estado.

 

Aliás um País que tinha a sua independência e a sua soberania assentes na Marinha e em que a sua sociedade civil aceitou pacificamente a destruição desta, não tem agora grande razão para tanta preocupação com a ortografia.

 

Lisboa, 21 de Janeiro de 2013

 

 José Carlos Gonçalves Viana   

 

http://nossomar.blogs.sapo.pt

 

 

LUSOFONIA A CHANCE DE FUTURO PARA OS PAÍSES LUSÓFONOS – III

 

Ontem submergiram às Colonizações das nações e hoje não resistem às das Civilizações

 

A Hora da Lusofonia está a chegar

 

O futuro já não se equacionará em termos de ideologias de esquerda ou direita nem de colonizadores e colonizados. A Lusofonia quer futuro e este só pode ser assegurado por uma terceira via diferente das outras. Temos realmente de construir uma nova matriz civilizacional.

 

Os Povos precisam dum Projecto novo e duma nova Bandeirância

 

Portugal iniciou outrora a grande aventura colonizadora hoje a Lusofonia poderá lançar-se na aventura humanizadora. A bandeirância que Portugal outrora assumiu como ponta de lança da civilização ocidental, na aventura colonizadora, terá de ser assumida hoje pela Lusofonia no sentido de construir um tecto metafísico possibilitador de relações humanas, económicas e culturais solidárias que sirvam de exemplo para a humanidade. As novas tecnologias podiam ser aproveitadas no sentido de superarem barreiras de aprendizagem e de mentalidades.

 

Sem sonho não há futuro. Sem mitos nem sonhos comuns deixaremos que as grandes potências económicas e os dinos do dinheiro repitam, de forma moderna e disfarçada, o que os países colonizadores conseguiram fazer de etnias outrora não unidas nem cristalizadas pelo tradicional processo de colonização interna. Neste sentido são necessárias fábricas de pensamento que preparem um projecto humano alternativo às tradicionais formas de domínio. O tempo do nacionalismo já foi ultrapassado pelo desenvolvimento histórico. Os novos contextos civilizacionais prescindem dele. A África não deve cair na tentação de procurar nos modelos nacionais ultrapassados do séc. XIX paradigmas para os novos Estados. Hoje, na ordem do dia estão as ligas, as uniões de estados pelo que a união dos estados lusófonos seria a consequência lógica duma estratégia actual e realista. Não reconhecer isto e apostar em nacionalismos é colaborar mercenariamente com potências estranhas. O que facilitou outrora a colonização foi o facto das tribos e grupos étnicos não se encontrarem unidos. Ontem não resistiram ao impacto das nações (Portugal, Espanha, Inglaterra, Franca, etc.) e hoje não resistirão ao impacto das civilizações (USA, Liga Árabe; China, Rússia, EU). Lógica: iniciar a alto nível conversações para uma confederação.

 

Os povos lusófonos precisam dum sonho, dum projecto próprio e duma Bandeirância que expresse a vontade subjacente. Não podemos deixar as etnias, os povos, as nações nas mãos dos oportunistas e dos jogos de grupos só interessados no proveito imediato. É preciso que os políticos dos países das Lusofonias se juntem e procurem fazer das universidades alfobres de Lusofonia, verdadeiros construtores de futuro e de progresso humano e fraternal. Criem-se parcerias com universidades; de não menosprezar universidades católicas devido à sua experiência internacional e à incardinação nos interesses do país, independentemente do credo. O gene da Lusofonia reúne em si as melhores heranças biológicas e culturais que as civilizações legaram (Miscigenação, inculturação aculturação, uma ética alta e universal, etc.).

 

Promoção da Arte como Estratégia de Implementação da Lusofonia como consciência comum

 

A promoção recíproca da arte lusófona será a fórmula mágica duma estratégia, que a ser tomada a sério, se poderia tornar tão eficiente como a cristianização no século XV. Esta ideia terá de ser levada aos nossos políticos, que andam muito preocupados com as tarefas do dia-a-dia, sem tempo para poderem notar que por trás duma grande obra se encontra uma filosofia coerente e humana.

 

Uma grande tarefa a assumir igualmente por todos os estados lusófonos seria o fomento concreto da arte e da literatura dos parceiros para que esta se torne cada vez mais parte do sentir comum. Para isso será preciso que os Estados que anteriormente impuseram as suas matrizes culturais a outros povos implementem mais as artes daquelas culturas que antes reprimiram ou deixaram na letargia. Todos os órgãos dos Estados membros e as instituições da sociedade (universidades, igreja, partidos, sindicatos, associações) devem empenhar-se e dar expressão a tal intento, concebendo e apoiando projectos, com novas caravelas a afrentar os novos desafios, sejam eles económicos, tecnológicos culturais ou políticos. Há que apostar nos multiplicadores culturais e programas fomentadores das histórias nativas pré-coloniais.

 

Urge um estudo sistemático das semelhanças dos povos e construir-se uma sinopse das características antropologias e sociológicas que também em Portugal podem ser identificadas. Em todos os cursos universitários e especialmente nos de antropologia, sociologia, história e português não deveriam faltar cadeiras de Lusofonia com as interferências interdisciplinares que a Lusofonia implica.

 

O Acordo Ortográfico deveria ter sido obra acabada dos especialistas de diferentes países e de diferentes disciplinas e não condicionado por interesses económicos ou políticos.

 

Também o Instituto Camões ao pecar pela falta duma estratégia de promoção da cultura portuguesa, não sei se por intenção, se por fraqueza, poderá sinalizar precisamente uma atitude não colonizadora…

 

O dinheiro que Portugal poupa em conselheiros culturais deveria investi-lo na investigação e na implementação de programas inter culturais a nível de universidades fomentadoras do espírito lusófono. O fomento de multiplicadores culturais da Lusofonia efectuado pelo poder estatal, poderia ser contrabalançado pelo fomento de outros artistas, através de outras instituições e associações livres. Assim poderia estrategicamente proceder-se à proliferação de eventos musicais, literários, folclóricos dos países irmãos. Ministérios e comarcas poderiam pôr como condição de apoios financeiros às associações de arte e cultura a inclusão em seus programas de eventos de inter culturalidade dos países lusófonos.

 

No novo enquadramento histórico a Lusofonia oferece a possibilidade da construção de novas identidades históricas abertas que não se afirmem umas contra as outras mas cresçam num espírito de complementaridade, ao serviço dum todo abrangente …

 

Precisa-se duma supra estrutura da Lusofonia capaz de se afirmar na concorrência civilizacional: Uma Lusofonia como lugar das oportunidades das novas gerações de angolanos, brasileiros, guineenses, portugueses, moçambicanos, timorenses, cabo-verdianos e das diferentes etnias conscientes de só assim poderem sobreviver contra os novos desafios e imperialismos.

 

Será necessário pensar-se em espaços de séculos para nos não deixarmos subjugar por interesses imediatistas. No espaço cultural português e na alma portuguesa de hoje encontramos vestígios culturais, étnicos, que vão dos godos, fenícios, gregos, judeus, romanos bárbaros, árabes, africanos, etc., mas tudo isto só foi possível mediante um ideário e um sonho integrador acompanhado duma vontade política.

 

Seria ingénuo ignorarmos que o desenvolvimento histórico acontece à margem da formulação dos interesses económicos e culturais e abandonar a Lusofonia aos interesses ocasionais de grupos económicos organizados. Não seria racional fixar-nos no fantasma dum colonialismo passado que nos distrai dos novos colonialismos em via. Importante é no meio de tudo isto manter a vontade emancipatória. Todos nós temos uma grande tarefa: fazer do património do mundo o património da Lusofonia e fazer da Lusofonia o património e a missão de cada país da Lusofonia.

 

Lusofonia é um modo específico de estar humano, cultural, económica e política com expressão em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-leste que se deveria tornar numa política comum a todos os estados lusófonos. Se antigamente a unidade cultural se formava em torno da religião hoje pode ser implementada através do fomento da arte das sub culturas em torno da língua. À volta da lusofonia não se pode abdicar dos elementos racional e emocional.

 

Do lusitano formou-se o português tal como do Angolano, do brasileiro, do moçambicano, do português, se pode formar o lusófono.

 

FIM

 

 António da Cunha Duarte Justo

 

1) Esta parece-me uma abordagem da Lusofonia em termos arcaicos próprios duma lógica binária alijada ainda em mundivisões demasiadamente coniventes com ressentimentos étnicos e nacionais e do divide et impera. Seria fatal continuar a avaliar os tempos modernos com critérios e mentalidades de outros tempos.

LUSOFONIA A CHANCE DE FUTURO PARA OS PAÍSES LUSÓFONOS – II

 

Ontem submergiram às Colonizações das nações e hoje não resistem às das Civilizações

 

A Hora da Lusofonia está a chegar

 

Urge a Colaboração económica entre os países lusófonos

 

Trata-se realmente de unir, pessoas, povos e continentes para que da união surja uma força cultural, económica e política capaz de resistir a novos imperialismos. É importante apresentarem-se conceitos e estratégias capazes de alertar os governos para os perigos que se escondem por trás de acordos com firmas e potências que possam comprometer o seu futuro (a China, aproveitando-se da irreflexão europeia e da crise americana já conseguiu muito!). Os poderes das grandes potências camuflam-se através de influências anónimas que paulatinamente amarram governos, estados e nações. No futuro os Estados não terão sequer a oportunidade de corrigir os erros do passado com revoluções nem com nacionalizações. As intrigas internas serão controladas pelas grandes potências que não terão pejo de apoiar grupos contestatários de governos legítimos. No século passado as nações com pouca força económica ainda podiam optimizar negócios jogando com os interesses concorrentes entre capitalistas e socialistas (USA e União Soviética), hoje, com a reorganização dos Estados em grupos de interesses económicos estratégicos e políticos torna-se dificílimo para os governos avaliar a longo prazo os compromissos que assumem com os grupos concorrentes (China, Liga Árabe, USA, EU, Rússia, etc.). Numa fase de ainda não consolidação duma união dos estados lusófonos, toda a África deveria, por razões estratégicas de futuro, privilegiar as relações com a Europa, precavendo um possível cenário que poderá ser o de os possíveis conflitos entre a Ásia e a Europa se realizem na África, à imagem do que já aconteceu no passado em África relativamente aos interesses das nações e ao conflito da “guerra fria”.

 

Uma política favorecedora de colaboração com firmas e fluxos migratórios dos países lusófonos entre si revelar-se-ia como medida inteligentíssima contra o imperialismo económico que amarra o futuro das nações. É uma dor de alma ver como tantos académicos portugueses são aliciados por potências fortes, como a Alemanha, quando esses técnicos poderiam emigrar para os países lusófonos, contribuindo para o seu enriquecimento. É importante a salvaguarda de recursos humanos, étnicos, culturais e económicos numa cooperação multilateral que não avassale nenhum “biótopo” lusófono. A união faz a força. Cada país lusófono, no continente em que se encontra, constitui uma riqueza estratégica imensa.

 

A África continua em situação precária, sendo palco da cobiça e dos jogos de interesses ocidentais, árabes, chineses, russos, etc. Estas potências pretendem cimentar aí zonas estratégicas de influência. Ao contrário do autor inicialmente citado, sou do parecer que hoje a Lusofonia, à semelhança da posição de Portugal com a sua pretensão do Mapa Cor-de-Rosa na Conferência de Berlim (1884-85), pretende acautelar a defesa dos interesses das diferentes identidades étnico-culturais ameaçados por forças internacionais com mera intenção de domínio económico e estratégico. Às línguas estão subjacentes interesses de toda a espécie; em torno delas surgem as verdadeiras constelações do futuro. Hoje, tal como na Conferência de Berlim, as potências querem alargar as suas zonas de influência para depois, fazerem de terreno alheio e distante, o campo de batalha para as suas lutas de concorrência económica e política.

 

As zonas da Lusofonia não seriam bem aconselhadas se, abandonadas à lei da inércia, sem organização, se deixassem enredar por problemas ideológicos e programas não aferidos à realidade actual.

 

Quem torpedeia a construção da Lusofonia, uma maneira moderna de dar resposta ao desafio do turbo-capitalismo e ao imperialismo comunista chinês, apoia precisamente aquelas forças e princípios imperialistas que o Mapa Cor-de-Rosa queria impedir (ao pretender salvaguardar o direito histórico e geográfico contra o direito da ocupação e repartição da África). Seria fatal se a lógica da ocupação económico-política seguida pelo ultimato inglês (1890) continuasse a imortalizar o princípio do mais forte. Não! Com a Lusofonia, trata-se de recorrer a um outro instrumento da evolução que não seja apenas o selectivo mas o da cooperação dos pequenos entre si, para poderem subsistir ao lado dos mais fortes.

 

Quer-se uma Lusofonia construída na complementaridade partilhada por todos sem imposições dos mais fortes e acautelada de estratégias de afirmação por actos consumados de ocupação dos espaços económicos e culturais.

 

Naturalmente que Portugal não deve irradiar da sua consciência as barbaridades que cometeu em África nem desculpar-se com o preexistente comércio dos negreiros árabes. As suas brutalidades cometidas ao longo da história não são, porém, comparáveis à brutalidade sistemática doutros colonizadores, facto que não desculpa os erros cometidos mas prova uma outra mundivisão. Por vezes fala-se muito do colonialismo de ontem para se distrair das novas formas do colonialismo. Por outro lado, também seria ingénuo cair-se na cegueira de não reconhecer a luta da vida. A pequenez de Portugal e o seu caracter sonhador predispõe-no a ser conciliador, potenciando-o a ser um bom interlocutor no processo da Lusofonia. Por outro, Portugal, dentro da concorrência brutal em via na Europa sofre um ataque forte à sua instituição como Estado. Esta experiência poderia salutar se aproveitada nos espaços lusófonos como exemplo do que se dará mais tarde neles mesmos se não se prevêem.

 

Não é intento fazer do espaço da lusofonia um “império” mas um espaço global moderno de configuração a-perspectiva capaz de se manter e afirmar ao lado doutros constructos.

 

Também não se quer defender a ideologia dum luso-tropicalismo superior a outras civilizações, mas sim defender uma maneira de estar lusa ao mesmo tempo universal e respeitadora das culturas regionais. Portugal nunca assimilou mais que 1% da população colonizada. Havia a coexistência tolerante de culturas e hábitos (Cf. ideia da democracia racial em “Casa-Grande e Senzala” de Gilberto Freyre). De facto, desde o século XVI até Salazar (1940), não havia instituições coloniais nem um sistema de educação pública nas antigas províncias ultramarinas. Também a declaração da independência colonial em África não foi um acto contra Portugal mas o resultado de interesses económicos e ideológicos internacionais.

 

Já no 25 de Abril havia uma vertente da população portuguesa mais aberta à opção pelo ultramar do que à opção pela Europa. O espírito luso é arredio a ser encerrado num só país ou continente; ele é intercontinental, universal.

Encontramo-nos num momento de desenvolvimento histórico que não permite já a construção dum país pós-colonial. Os países foram uma forma anterior de socialização antes de se chegar aos constructos civilizacionais USA, EU, Liga Árabe, China, Rússia Índia…

 

Temos que ousar o salto de grupos étnicos ou nacionais para estruturas superiores. Doutro modo, os países, cada um por si, individualmente, sem um sonho nem um plano comum tornar-se-ão vítimas da cobiça das civilizações e potências fortes tal como aconteceu outrora.

 

É necessário equacionar-se os interesses de maneira convergente e não divergente. Já não nos encontramos no século XIX em que era ordem do dia a formação de nações. Hoje os sinais dos tempos apontam todos para a formação de órgãos/sociedades supranacionais. A experiência da formação da EU pode ser um exemplo de como se não deve proceder para criar um conglomerado. Apesar da génese e da filosofia ser baseada sobretudo pela concorrência e pelo poder, a EU afirmar-se-á. Muito mais prometedora e oferecedora de futuro seria a formação duma federação dos países lusófonos, no respeito dos biótopos naturais e culturais.

Seria um erro histórico crasso e constituiria um retrocesso se intelectuais africanos se afirmassem pela posição do contra, na intenção de construir uma identidade étnico-nacional.

 

(continua)

 

 António da Cunha Duarte Justo

LUSOFONIA A CHANCE DE FUTURO PARA OS PAÍSES LUSÓFONOS – I

 

Ontem submergiram às Colonizações das nações e hoje não resistem às das Civilizações

 

A Hora da Lusofonia está a chegar

 

 

Não, a Lusofonia não “ é a última marca de um império que já não existe” como quer António Pinto Ribeiro. (1) A construção de biótopos culturais /identidades nacionais não é contraditória à sua afirmação numa supra estrutura capaz de concorrer com outras supra estruturas mundiais.

 

Uma característica de quem se empenha na nobre tarefa da Lusofonia será, precisamente, através duma fábrica de pensamento, não adiar os problemas para o futuro mas sim encará-los com realismo para se antecipar a ele, numa estratégia de sustentabilidade. É necessário prever-se o perigo para termos a chance de lhe dar solução. Parte-se do status quo para se chegar ao que se deveria ser. Se queremos salvaguardar o bem-estar futuro, urge reformar o presente. A isto estão chamados, com conceitos e projectos concretos, os governos, as empresas, as universidades, as igrejas, os sindicatos, as associações e os cidadãos adultos interessados em construir um mundo adequado à dignidade humana e aos sinais dos tempos. A Lusofonia seria a realização de uma terceira via diferente.

 

Filosofia desejável para a Lusofonia

 

A Lusofonia não é nem foi, faz-se. Lusofonia poderá ser uma maneira diferente de ser e estar no mundo. Quer fomentar uma nova maneira de estar no tempo e no espaço, um novo modo de ver, agir e sentir o espaço geográfico-cultural lusófono e seus intervenientes. Essa maneira de estar já foi em parte exercitada, na miscigenação brasileira. A Lusofonia pretende fomentar a via especial dos povos lusófonos; uma terceira via diferente, não reduzível a um compromisso entre sistemas económicos/ideológicos (capitalismo e socialismo). Não se fica pelo pensamento bipolar. Raciocina, também, com uma lógica polivalente não fixada no “verdadeiro” e no “falso” mas reconhecendo no “possível” o elemento personalizador que leva a reconhecer a evidência da realidade. Não se fecha no “ou… ou” mas realiza-se numa prática e lógica aberta do “não só… mas também”, imbuída de complementaridade, enfim, uma via integral a-perspectiva. Também não rejeita a existência de padrões de comunicação: importante é a tentativa de integrar a posição do outro.

 

Os parâmetros filosóficos da Lusofonia incluirão uma consciência da complementaridade orientada pelo ideário de vida pensada e realizada a partir do nós, numa relação pessoal geradora de “eus” e “tus” adultos, gratos e gratificados.

 

O “nós” será o ponto de partida e de chegada do pensar e agir.

Alternativa: ser satélites dos outros ou planetas do próprio sistema

Os países lusófonos têm que estar conscientes da alternativa do seu futuro: ou ser satélites anónimos de algumas potências ou tornarem-se eles mesmos os planetas do próprio sistema lusófono, tendo como seu centro a língua portuguesa e um ideário comum expresso numa relação mais que de cidadãos de irmãos. Não é assim que já nos tratamos quando falamos dos irmãos timorenses, brasileiros, angolanos, etc? Se na palavra “irmãos” já temos um indicador de consciência fraterna e solidária, porque não investir nela a nível político, económico, cultural e humano? Já se esqueceu a solidariedade fruto dessa consciência lusófona, tida com Timor? A “Língua é a nossa pátria”! Unidos, ninguém nos destruirá e a Lusofonia (Comunidade Federal) transformar-se-á numa verdadeira potência de humanidade e fraternidade.

Como nações desorganizadas estaremos determinados a andar sempre atrás do progresso sob o ditame económico e político dos outros; como confederação lusófona (mais tarde federação) traria a si o poder de se auto determinar e influenciar o futuro a nível global com uma política e economia próprias. Para tal pressupõe-se a união da inteligência racional à inteligência emocional, se não nos queremos perder deixar levar e perder na ditadura do factual e nos meandros duma emotividade nacionalista míope.

O movimento da Lusofonia irmana a consciência de diferentes perfis antropológicos e sociológicos na resposta a dar aos sinais dos tempos como indicadores de futuro. Numa altura em que o imperialismo americano, chinês e europeu se aproveitam do globalismo para se imporem às nações e a grupos desacautelados, a resposta adequada será a organização das identidades lusófonas no projecto supranacional da Lusofonia: Um ecossistema cultural e humano à altura da nova reorganização civilizacional.

 

O conceito Lusofonia é realmente abrangente não podendo ser demasiadamente definido porque toda a definição bem contornada poder-se-ia revelar como limitadora do processo de desenvolvimento de identidades.

 

Já não chega uma boa relação entre os povos lusófonos; é preciso um sonho, um programa, uma vontade declarada de todos apostarem num ideário civilizacional comum, prometedor dum céu e duma terra para todos, com uma praxis de supremo respeito pela dignidade humana e pelo direito à diferença como valor.

 

(continua)

 

 António da Cunha Duarte Justo

TAÇA DAS NAÇÕES AFRICANAS (futebol)

  Angola - Cabo Verde

 

Senhor Doutor,

 

Como sabe, está neste momento a decorrer na África do Sul o CAN (Cup African Nations), equivalente ao nosso Campeonato Europeu de Selecções. A selecção de Cabo Verde, estreante na prova, passou aos quartos de final, e joga no sábado próximo com o Gana. Fez parte do grupo inicial que integrava Marrocos, África do Sul e Angola. Averbou dois empates frente aos dois primeiros e uma vitória frente a Angola. Os angolanos ficaram escandalizados porque gastaram 3 milhões de euros com a preparação da sua selecção e Cabo Verde apenas 150 mil, por ser um país incomparavelmente mais pobre que Angola, embora de rendimento per capita semelhante.

 

O seleccionador/treinador da selecção de Cabo Verde é um controlador de tráfego aéreo, portanto um não profissional nestas lides.

 

Como a selecção de Cabo Verde é a surpresa deste CAN, até porque estreante, o seu seleccionador tem sido alvo de curiosidade e dá entrevistas, como é normal antes de depois dos jogos. Embora todos os outros prefiram utilizar o inglês (aliás, língua do país anfitrião), o seleccionador de Cabo Verde tem optado sempre por se exprimir em português. Não que ele não saiba falar o inglês, pois fala-o com fluência porque é controlador aéreo. E ele então explicou porque o faz:

"Um dos males do português não se afirmar internacionalmente como língua é porque os portugueses gostam de ser gentis com os estrangeiros e falam a língua deles... Somos mais de 200 milhões de falantes no Mundo, se todos fizermos força no português talvez levem a nossa língua a sério, até reconhecendo-a como língua oficial nos organismos internacionais. Cabo Verde pode não ter o peso internacional do Brasil, Angola ou Portugal, mas faz a sua parte. Assim fizessem todos."

 

Esta notícia vinha no jornal A Bola de 30 de Janeiro.

 

Raramente se tem uma agradável surpresa como esta, ainda mais vinda de um dos mais pequenos países de língua portuguesa. Mando-lhe isto por saber o quanto o seu blogue zela pela defesa do nosso património linguístico.

 

Um abraço

 

 Adriano Miranda Lima

 

31 de Janeiro de 2013

A HORA LUSÓFONA ESTÁ A CHEGAR

 

Assumir de novo a Bandeirância da Civilização Ocidental

 

 

Como reacção ao meu artigo “Falta de Cultura da Europa face a outras Culturas mundiais – Europa Berço da Cultura jurídica da Humanidade” recebi, dum digníssimo professor duma universidade de Lisboa, o seguinte reparo: “Penso que, na apreciação dos três pilares europeus, lhe faltou a identificação de um quarto: o braço armado da projecção lusitana da Europa”.

 

Status quo da Situação ocidental

 

Se do encontro da fé de Israel, com a razão filosófica dos Gregos e o pensamento jurídico de Roma nasceu o grande projecto cultural europeu, o seu agir ganhou expressão, a nível global, no “peito ilustre Lusitano”.

 

Os descobrimentos são, certamente, o quarto pilar da cultura europeia, o pilar do saber de experiência feito que Portugal soube concretizar. Sagres resumiu o saber (doxia) europeu e tornou-se no lugar da ortopraxia. Portugal ao saber-se Europa descobriu-se mundo. Por isso onde se encontra hoje um lusófono lá pulsa a alma toda do mundo.

 

Conseguiu-o porque resistiu ao espírito oportuno do tempo indo-se assim “da lei da Morte libertando”, como bem descrevia Camões n’OS LUSÍADAS dos descobrimentos. O alemão R. Schneider, grande conhecedor da alma portuguesa, diz no seu livro “Camões / Philipe II”p.120 “nos Lusíadas não se trata apenas dum povo, mas sim da Humanidade”. Sim, da humanidade que actuava no Portugal de então. Camões canta a alma portuguesa (ainda inteira) que, não se deixando levar pelas lutas/modas de reforma particularistas de então, manteve a visão filosófica cristã global da humanidade, cultivada à sombra das ordens na tradição de Carlos Magno, longe dos interesses meramente individualistas.

 

Portugal foi outrora o primeiro a expressar e a realizar o sentir e a pujança do ser europeu tal como hoje é o primeiro a expressar a sua fraqueza. Hoje como então Portugal é o palco de pontos altos da mudança.

Outrora virada para o exterior e hoje de volta, para depois da crise moral e cultural se encontrar.

 

A Europa medieval, aquela velha árvore que depois de ter estendido as suas raízes às diferentes civilizações até então vividas, floresceu no Renascimento. Desta florescência surgiu o ramo protestante, que começa a afirmar mais o valor do indivíduo, do eu (factor emancipador, a individuação) enquanto o catolicismo continuou a acentuar mais o valor da comunidade. Dois polos necessários, na vida social, que se encontram hoje em radical conflito. De facto, a Idade Média, que é mãe, comunidade, é nós, deu à luz o eu (individuação). Este ao tomar forma no movimento emancipatório protestante sente a necessidade de se afirmar contra a mãe. Mãe e filho afastam-se. Hoje temos uma europa de filhotes sem mãe, que se extenuam no seu cacarejar e na contemplação das próprias penas. A Europa ao combater a maternidade torna-se infecunda e assim sofre o mundo todo. Não suportamos a diferença nem a coexistência de extremos, num condicionalismo de reduzir e simplificar tudo a dimensões uniformes e rectilíneas.

 

O ressentimento dos deuses germânicos contra Roma, no Renascimento, deu lugar ao desejo de liberdade que se fora articulando através da Idade Média e culminou na ruptura protestante com Roma. Assim se iniciam grandes convulsões religioso-político-sociais, e surge um novo sentir da vida, uma nova ordem económica, o capitalismo. A Europa rejuvenesce e transforma-se na procura de diferenciação e emancipação. A vertente protestante culminou no iluminismo, na proclamação da constituição dos USA e depois na revolução francesa e no enfraquecimento das monarquias. Esta importante vertente do desenvolvimento da Europa afirma o eu (a individuação) recalcando o espírito comunitário, o nós. Se na Idade Média a consciência individual ainda vivia em parte sob o manto da letargia institucional (nós à custa do eu) com o movimento emancipatório que ganhou forma no protestantismo começa-se a afirmar o eu (indivíduo) à custa do nós (comunidade). (Este movimento, encontra, actualmente, o seu extremo macabro no capitalismo liberal que reduz a pessoa a ego mercantil e transforma a essência do ego numa metafísica de consumo deixando o ser humano cada vez mais só no deserto do seu egoísmo.)

 

Com os descobrimentos, enquanto na Europa os países se ocupavam consigo mesmos, Portugal já adulto (numa Europa ainda adolescente) assume em plenitude a mundivisão católica e burguesa, aliando-a ao desejo do novo e do “saber de experiência feito”. Portugal precoce realiza o ideário europeu que florescia então nos jardins da Lusitânia. A Europa alcança, através das viagens portuguesas (descobrimentos), um novo panorama do mundo. Este em vez de afinar os espíritos do sentir universal deu lugar à afirmação dos egoísmos nacionais e ao instinto colonizador. Em vez do sentimento do nós católico e universal temperado pelo outro polo, o protestantismo, apenas este encontra expressão na afirmação particular seja a nível estrutural seja a nível individual. A Europa afirma-se na divisão, o norte contra o sul, o politeísmo contra o monoteísmo mitigado. O mundo, à imagem da Europa, afirma-se então na divisão e no contraste em vez de integrar os polos contrários como pretendia o eclectismo complementar da alma portuguesa expresso pela ínclita geração. O despertar dos individualismos nacionais leva à afirmação do particular sobre o comum. Impõe-se a ganância à curiosidade, projecta-se a puberdade contra a maturidade. Os deuses do norte vingam-se contra os do sul. O politeísmo intelectual e político, então iniciado, tudo justifica, restabelece a mentalidade bárbara, não reconhece pai nem mãe, chega-lhe o bordel.

 

Chegamos a um ponto de puberdade negadora duma tradição que lhe deu o ser e que é levianamente negada por uma sua parte. Esta não está consciente de que a negação provém da acentuação exagerada do outro polo que constitui a sua afirmação, o seu ideário. Entretanto o espírito emancipatório acentuou-se de tal modo que reprimiu o aspecto comunitário, só quer machos, a feminidade/maternidade constitui obstáculo ou é sufocada pelas estruturas vigentes, demasiado masculinas. Quer-se uma sociedade sem comunidade, querem-se filhos sem mãe. O ressentimento que hoje se expressa contra instituições, especialmente contra a UE, contra a Igreja católica, é o mais visível sintoma dum individualismo exacerbado que não conhece pai. O politeísmo da opinião não suporta a procura da verdade no sentido da unidade, circula em torno de si mesmo sem conhecer o sentido linear ascendente da evolução natural, individual e cultural.

 

A crise actual é uma crise cultural e moral duma civilização que perdeu o seu ideário; é o resultado da acentuação do eu contra o nós, do objecto contra o sujeito. Socialismo e capitalismo sofrem do mesmo vírus epocal. Todo o mundo sofre em consequência da crise espiritual europeia que vendeu a alma ao Mamon para continuar a afirmar o seu polo individualista. O capitalismo exagerado machista foi-se afirmando à custa da comunidade até ao extremo de hoje se afirmar contra ela, não tendo escrúpulos em destruir os próprios Estados.

 

Os países lusófonos, em vez de assumirem a nova mudança de consciência individual e histórica deixam-se destruir, sem tecto metafísico, seguindo sem reflexão própria os novos deuses e cultos que, de maneira anónima, em nome da emancipação se afirmam contra uma comunidade que albergue todos na complementaridade. A lusofonia, para assumir a bandeirância do progresso, tal como o Portugal de outrora, terá de descobrir-se a si mesma e de consciencializar-se e assumir o tecto metafísico que dê consistência à sua acção.

 

Outrora, enquanto os povos da Europa combatiam pela definição de suas identidades políticas, Portugal, que já tinha encontrado a sua identidade nacional, pôde dedicar-se à tarefa original de levar ao mundo o espírito europeu. A bandeirância que fez nascer Portugal é a mesma que o torna adulto e o leva à expansão. A revolução axilar do renascimento que explode por um lado no protestantismo na procura duma individualidade que se expressa no capitalismo e no espírito cívico, afirma, por outro lado, o seu carácter global (católico – aspecto comunitário) na continuidade espiritual da escola de Sagres.

 

Hoje encontramo-nos numa época axiomática da História na qual a crise não é só de ordem estrutural/mental mas espiritual. Os fundamentos que deram origem à grande árvore da civilização ocidental são descurados e as suas raízes sistematicamente amputadas. Em vez de nos preocuparmos com o que deu vida a esta árvore, serramos nela o próprio ramo em que nos encontramos. Depois da insónia desta crise surgirá porém o sonho que renovará o mundo; até lá os ventos da contradição continuarão a destruir pontos altos da nossa civilização.

Ao ressentimento dos deuses germânicos, com o seu espírito capitalista, sucede-se agora o ressentimento socialista aliado à derrocada dum capitalismo liberal injusto que, como um polvo, procura abrir os seus tentáculos num globalismo aniquilador de nações. Junta-se a feiura do turbo-capitalismo à fealdade do comunismo materialista na tarefa de reduzirem as estruturas de Estado a seus veículos de ideologia trituradora da pessoa.

 

O mito da Europa como vaca degenera-a agora em touro de cobrição. Como um touro de olhos fechados sai do curro ocidental para dominar o mundo, destruindo a cultura que lhe deu o ser, não respeitando os ecossistemas culturais. É verdade que as “constelações postnacionais” de que fala o filósofo alemão Habermas já não podem resolver os seus problemas sozinhas pressupondo isto o abandono de individualismos nacionais e culturais mas sob o tecto metafísico civilizacional que lhes deu o ser.

 

Se o desejo de individuação, no renascimento, deu lugar à “monolatria” protestante, o modernismo volta ao politeísmo anterior à civilização.

Deixou-se de considerar o mundo como um conjunto de ecossistemas sociais com as suas leis e ordem inerente para os transformar em biótopos individualistas em que as divindades se sobrepõem umas às outras tornando notórias as fracturas a nível ideário, estrutural e pessoal. A nível ideário e cultural assiste-se à batalha do politeísmo contra o monoteísmo. Se o conflito surgido do renascimento (dois modelos de vida sob o mesmo teto metafísico) era expressão da força dum sistema e duma vivência, a crise a que assistimos hoje revela-se decadente (sem sentido, destroem-se modelos à margem dum ideário colectivo que justifique tal actuação). O saber deu lugar à opinião fundada em castelos no ar. A nação deu lugar a estados à mercê de mercenários que em nome duma europa mal-entendida se afirmam. Estes, para se sentirem mais à vontade mandaram a cultura ocidental para rua sem qualquer guarda-chuva espiritual. Resultado: chuva ácida nos biótopos naturais e nos ecossistemas culturais.

 

O capitalismo e o socialismo, dois filhos pródigos do cristianismo, depois de terem provocado grandes buracos no ecossistema espiritual ocidental, parecem, não querer voltar à velha casa paterna onde, juntos, a poderiam renovar, engrandecer e projectar. Preferem seguir o poder da monocultura masculina islâmica e a desorientação do politeísmo oriental. Nestas, o indivíduo encontra-se indefeso, à chuva, e sem privacidade com a própria divindade. Desprotegido e desalojado dos ecossistemas sociais, fica mais disponível para o mercado e aberto a ideologias baratas e a uma oligarquia anónima mundial.

 

Enquanto o espírito europeu envelhece, no Brasil e nos países da lusofonia, a antiga vontade poderia erguer-se.

A lusofonia surge como lugar duma nova missão no mundo. Nela se podem congregar os anseios do velho Portugal com as ânsias das novas gerações. Como parte do legado, visto da perspectiva portuguesa temos o espírito universal católico, e os escritos de Camões, de António Lopes Vieira, de Fernando Pessoa, etc. Não chega apostar apenas em ideologias, estas passam como os ventos entre a alta e a baixa pressão, é preciso ter-se presente o eixo que tudo suporta e dá continuidade a quem conta com o futuro; para os lusófonos, este eixo é o cristianismo com a sua perspectiva mística do triálogo. A filosofia e a espiritualidade cristãs terão de, num processo de aculturação e inculturação, se tornar num verdadeiro tecto metafísico do mundo da lusofonia. Neste sentido será necessário manter o modelo católico calibrado com o espírito protestante.

A bandeirância outrora assumida por Portugal na Europa espera por ser assumida e renovada por todos os países da lusofonia. A nova bandeirância já não será de carácter expansionista para o exterior mas para o interior, da quantidade para a qualidade num espírito integrativo e de complementação num processo de integração de espírito e matéria, de ecologia e tecnologia. A força em toda a natureza vem de dentro para fora muito embora seguindo o chamamento da luz; o mesmo se diga dos ecossistemas culturais e dos seus biótopos humanos. Não podemos continuar a cultivar árvores repelindo a floresta.

 

No passado dominou o princípio dialéctico (um sistema de pensamento redutor elaborado na contradição/dissecação) como princípio de pensamento e da realidade que se reflecte na nossa maneira de organizar a sociedade e a vida individual numa espécie de dicotomia entre indivíduo e sociedade, superior/inferior, sujeito/objecto. O novo pensar será trinitário equacionando o problema dos contrastes num triângulo circular ascendente. Numa cadeia de relações infinitas dum contínuo tornar-se, num processo espiral ascendente que transcende o espaço e o tempo na dinâmica da união que se não limita a um estado momentâneo mas se expressa na sua dinâmica relacional, numa nova Realidade que engloba o real aparente despetreficando-o para um estado fluido, para lá do momento e das amarras da definição que são o espaço e o tempo. A relação torna-se então processo pessoal e não estado, deixando de ser objectivável no todo e no particular. A Realidade desinforma-se para se consciencializar do ser in do processo in-formar.

 

Então a relação torna-se pessoal, é tornar-se, essência relacional; o in (do in-formar antes e depois da forma numa dinâmica de pai-filho-paráclito) da a-perspectividade resolve a aparente contradição matéria-espírito, indivíduo-sociedade, eu-tu, na dimensão da vivência superadora da alternativa através do paráclito. O indivíduo passa a ser pessoa e a sociedade a ser comunidade. Nós só exercitamos a perspectiva funcional da relação e por isso petralizamo-la numa ou noutra identidade. Em Jesus cristo exclui-se a exclusão mútua de matéria e de espírito. Nele (JC) torna-se visível uma unidade dinâmica do tornar-se da petrificação (J) e do fluido (C); a relação duma com a outra possibilita-se num processo de mudança concretizado na relação pura (o paráclito). Aqui dá-se já não um progresso quantitativo (estados), negador do anterior ou afirmador do posterior, mas uma dinâmica da relação pessoal (de ipseidade) em que o outro participa do espírito comum a toda a realidade em relação. A base constante é a divindade subjacente a tudo, a todos comum, num processo universal sem funções dado a relação ser pessoal num eterno tornar-se (“eu sou o tornar-se”, dizia Deus a Moisés) para lá do acontecer. A oposição dialéctica do eu/tu, eu/objecto resolve-se na realidade trinitária dum eu-tu-nós. Passamos a não ter apenas o diálogo como o contrário do monólogo, como relaç1bo entre objectos, mas o triálogo como integrador do diálogo, do monólogo e do “objecto” num processo de sujeito-sujeito. A dialéctica passa a ser integrada como momento do processo e a não ser vista como realidade ou espelho da mesma. Isto tem como consequência uma outra forma de vida e de estar superadora duma pedagogia, duma política e duma economia meramente objectivadora.

 

Uma nova filosofia de vivência e de Estado pressuporá a união da filosofia com a mística, uma aplicação prática da filosofia trinitária.

 

A Hora da lusofonia está a chegar, precisam-se faróis por todo o espaço lusófono. Para isso terá de coadjuvar-se modernidade e tradição, maternidade e filiação, o indivíduo passar a ser pessoa e a sociedade a ser comunidade. “O espírito do mundo desce ao Brasil e abandona a América iankye. A China cairá brevemente com a sua crise demográfica e é preciso preparar a Lusa- áfrica pela mobilização do Brasil”, confessava-me o amigo.

 

Pegadas do Tempo | Rascunhos da vida António da Cunha Duarte Justo

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