Audaz, a ignorância permite-nos percorrer trilhos que o prudente conhecimento desaconselharia.
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Das enciclopédias se extrai que a endorfina é uma hormona que actua no cérebro provocando boa disposição e incentivando a comunicação.
Já fora da enciclopédia, digo eu que a endorfinose é a dependência das endorfinas sendo o paciente levado à criação de ocorrências que propiciem a emissão das ditas hormonas.
Será?
Nem mesmo a audácia da ignorância me permite qualquer sugestão terapêutica, mas, para já, estou a tentar espaçar o meu próprio ritmo comunicativo. Até porque o excesso faz banalização da comunicação e provoca o cansaço das audiências.
Dogma – Os ricos são ricos porque roubam os pobres.
Realidade – Os ricos são ricos porque desfrutam das mais valias do investimento; os pobres nada possuem que lhes possa ser roubado.
Dogma – Os ricos roubam as mais-valias do trabalho dos pobres.
Realidade – O trabalho, por si só, não tem qualquer valor: o trabalho é um factor de produção que só vale em função da acção que exerce sobree os demais factores de produção. Caso estes faltem, o trabalho cessa e o trabalhador baixa os braços e pode ser dispensado.
Dogma – A tributação do trabalho é uma afronta à classe trabalhadora. Realidade -… mas deixa de parecer essa afronta quando o trabalhador se aposenta e passa a receber a pensão financiada pelos descontos dos trabalhadores que se encontram no activo. É ao que se chama a solidariedade social: Se fosse o Estado a pagar as pensões, não haveria lugar para guardar o buraco orçamental e se se recorresse à emissão monetária, logo o valor da moeda baixaria até às profundezas infernais. Sejamos, pois, solidários.
Dogma – Os ricos que paguem a crise!
Realidade – A República rege-se pelos princípios da liberdade, da igualdade e da solidariedade. Sobre esta, referi-me alguns parágrafos acima e quanto à liberdade, este texto é a prova dela. Mas em relação à igualdade… há uns mais iguais que outros… pois a igualdade fiscal não existe ao abrigo de uma parangona falaciosa a que se chama «justiça fiscal». Parangona porque a escarrapacham em tudo quanto é discurso laudatório do «bom povo» com vista a criar o ambiente propício à taxação progressiva dos escalões mais altos do IRS. E a primeira pergunta que ocorre tem a ver com o que o Estado (Administração Pública, Governo…) fez mais aos ricos do que aos pobres que justifique essa taxação progressiva. E a resposta é a de que nada mais fez e, pelo contrário, faz mais pelos pobres do que pelos ricos previligiando a maior massa eleitoral. Mas há mais para além da demagogia eleitoralista. Refiro-me ao «desagravamento fiscal» com vista a aliviar o estrangulamento (fiscal, claro).
O alívio do aperto do dito nó corrediço faz com que, nos mais baixos escalões do IRS se reduza o risco dos incumprimentos no âmbito do tradicional sobre-endividamento das famílias portuguesas, nos escalões a seguir na escala ascendente, o alívio dirigir-se-á ao consumo de bens correntes e logo depois, cima, ao consumo de bens duradouros. Na(s) classe(s), onde a benesse incentivaria a poupança e o investimento, não há alívio fiscal. E também não há justiça, há falácia fiscal.
Do dicionário se extrai que «desculpa» e «perdão» se equiparam como sinónimos mas…
… desculpar é tirar a culpa a alguém por acto praticado que me (nos) prejudicou, o que só é possível entrando na esfera da intimidade do culpado para apagar o acto causador da culpa enquanto o perdão é algo que faço (fazemos) dentro da minha (nossa) esfera(s) de intimidade.
Como assim?
Pois bem, para tirar o peso da culpa a alguém, temos que ir dentro do seu íntimo, o que, sendo um abuso da privacidade desse alguém, constitui um procedimento moralmente criticável e ter-se-ia que viajar no tempo para se apagar a CAUSA DA CULPA.
Ou seja, desculpar é moralmente incorrecto e fisicamente impossível.
Contudo, o perdão é o apagamento dos efeitos negativos causados por acto alheio dentro da minha (nossa) esfera(s) de intimidade. E este apagamento pode ser feito sempre que se queira sem ter que recorrer a manipulações na variável «tempo».
Em tempos inseguros, com o inimigo à espreita, a responsabilidade mede-se conforme se empunhe uma arma, uma caneta ou uma vassoura.
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Depois da Guerra Fria, eis que a Quente nos bate à porta.
Julgava Neville Chamberlain que «tinha dado a volta» a Hitler e que evitara a guerra. Viu-se! Na mesma classe de «anjinhos», destaco outros que também se convenceram de que conseguiam «domar a besta»: Willy Brandt e a sua Ostpolitik, Gerhardt Schroeder e Angela Merkel que se deixaram encantar pelo gás russo. Estamos a ver os resultados, não estamos?
E, contudo, o problema não é a nação russa, mas sim o regime de Putin que é filho do KGB, essa fábrica de monstros ao serviço da classe dominadora daqueles desgraçados servos, o povo russo – nascidos para servirem como «carne para canhão» tanto na guerra como na paz. O russo comum sabe que lhe cumpre servir o Estado Russo enquanto nós, ocidentais, sabemos que temos o direito de sermos servidos pelos nossos Estados. Mas também sabemos que, sob ameaça, nos cumpre pegar em armas. Mas…
… exactamente por sermos um espaço de livre opinião, também os não-democratas por cá pululam e, dentre estes, há marxistas e russófilos extremados. Sim, o Ocidente tem que tomar em conta a 5ª coluna que mina a nossa coesão e até mesmo a nossa segurança.
Eis por que o Serviço Obrigatório à Nação deve ter uma vertente militar e outra apenas cívica, mas todos, de ambos os sexos, a cumprirem um período de instrução preliminar militar (a que antigamente se chamava Recruta) durante três meses com inculcação de disciplina, treino físico básico, manejo de armas ligeiras… No final desse período, haverá alguma opinião sobre quem mereça ser convidado para continuar para um segundo período militar e sobre quem deve ser encaminhado para missões de menor responsabilidade. Em tempos de insegurança com o inimigo à espreita, a responsabilidade mede-se por aquilo que se empunha: uma arma, uma caneta ou uma vassoura.
Alinha da frente deverá ser servida por militares profissionais e por voluntários e deverá ser apoiada por segundas e terceiras linhas servidas por milicianos. Os cívicos servirão nas Administrações central, regional e local, Forças de Segurança, Protecção Civil, SnS saúde… por um período duplo do militar e sem subsídios de risco.
IN FINE – Tudo deve ser feito para impedirmos a repetição do erro de permitirmos que elementos ideologicamente afectos ao inimigo acedam às nossas Forças Armadas. E deixámos que chegassem ao generalato. Lastimável!
Correcto, o que está associado ao bem; incorrecto, o que está associado ao mal.
«imperativo categórico» - “Que cada uma das tuas accões faça lei universal” assim falava Immanuel Kant significando que cada uma das nossas acções possa ser ubíqua e intemporalmente considerada correcta.
Resta saber se o bem e o mal são valores absolutos, ubíquos e intemporais.
Diz-se que «com o mal dos outros podemos nós bem» porque, muitas vezes, o mal dos outros é o nosso bem. E vice-versa. Isto acontece na dimensão internacional (o bom para o invasor é o mau para o invadido), na dimensão social (a necessidade de concertação institucional para obstar à luta de classes instigada por quem gere o conflito como arma polìtica), no desporto e nos tribunais (a vitória de uns é a derrota dos outros).
Ou seja, o bem e o mal são conceitos subjectivos com a agravante de a maior parte das pessoas nunca ter ouvido sequer falar de Kant, da ética do dever e muito menos do imperativo categórico.
Eis algumas das razões por que urge o nosso Legislador não continuar a deixar o bem e o mal em grande turbilhão e que regulamente o «lobby» que entre nós se encontra ainda em estado quase selvagem.
«Mudam-se os tempos, mudam- se as vontades», mas convém «que os teus actos façam lei universal».
Todos sabemos como as condições do trabalho se pareciam com a escravatura no dealbar da revolução industrial e todos sabemos também como foi árdua a caminhada até ao formidável nível médio de conforto a que chegámos na Europa Ocidental a partir dos finais da II Guerra Mundial.
A penosa caminhada que nos trouxe da servidão inglória ao bem-estar foi semeada por protestos, negociações, ameaças e cedências nem sempre pacíficas mas globalmente proveitosas para o bem comum em regime de liberdade, igualdade e fraternidade - «tout va bien quando fini bien».
De um modo genérico, os confrontos ocorreram entre um «establishment» burguês, conservador, liberal e de inspiração cristã e uma «frente popular» vendedora do serviço laboral para alimentar a prole, reivindicativa por instigação de manipuladores anti-burgueses, anti-liberais, anti-cristãos, em suma, anti-Europa: o mando do «tovarishtsh» («camarada» em russo).
«Trabalhado» pelas «manitas de plata» de pragmáticos como Stalin e Lenin, os teóricos da revolução Marx e Engels obrigaram-nos (aos burgueses de inspiração cristã) a pensar e a defendermo-nos. Assim nasceram o desenvolvimento económico, o bem-estar global e a NATO para defesa contra o imperialismo russófilo de génese marxista.
À luta de classes marxista, nós contrapusemos a concertação social; à ditadura do proletariado respondemos com a democracia pluripartidária; à revolução constante contrapomos o Estado de Direito; o marxismo proíbe as religiões e nós temos liberdade religiosa; à diabolização do lucro respondemos com incentivo à poupança; a rigidez monolítica nós contrapomos estruturas que se adaptam às novas ocorrências; os regimes ocidentais adaptam-se enquanto os regimes rígidos colapsam ao primeiro safanão.
Com tantas diferenças, colhe perguntar como se justificam esses encontros que por aí se realizam intitulados de «Diálogos entre o cristianismo e o marxismo». Creio que a resposta passa pela lavagem do marxismo aos olhos inocentes ocidentais.
O «politicamente correcto» - a transigência relativamente aos intransigentes – é o «cavalo de Tróia» que nos pode derrubar.
Ainda vamos ouvir falar do «diálogo» inter-religioso com o Islão… E a pergunta será sobre quem quererá enganar quem.
E não é necessário sermos violentos com ninguém, basta «não darmos cavalaria».
Corria Março de 1974 quando vim a Lisboa em representação do Governo Geral de Moçambique para lançar a ideia à LISNAVE da construção dos grandes estaleiros navais de Lourenço Marques.
Concluída a missão, ficou a ideia a amadurecer por cá e eu regressei a Moçambique. Rodas da TAP no ar um pouco antes da meia-noite do dia 15 de Março e chegada a Luanda pelas 8 da manhã. Vôo impecável como é timbre dos nossos, mas achei curioso que ao fundo das escadas estivesse na placa o General Luz Cunha, então Comandante Chefe das Forças Armadas em Angola. Mas logo percebi que tanta honra não era a mim dirigida por aquele ilustre meu consócio na Sociedade Hípica Portuguesa, mas sim ao meu companheiro de viagem, o então Arcebispo de Luanda, D. Alexandre do Nascimento. Como imaginei, não era aquele o local nem a circunstância apropriada para o General pedir ao Arcebispo que o ouvisse em confissão e, logo de seguida, fui também eu contemplado com a informação de que, durante o nosso vôo houvera uma tentativa de golpe militar a partir das Caldas da Rainha. Que eu, chegando a Lourenço Marques, me dirigisse com urgência ao Governo Geral para comunicar a ocorrência. Por acaso, estava no aeroporto um conhecido meu que era pessoa da maior confiança do Governador Geral. Transmiti-lhe a informação e senti-me desobrigado da urgência. Já civil, mantinha relações de amizade com altas patentes militares pelo que também as informei da ocorrência. A partir daqui, «liguei à terra» e voltei aos meus dossiers profanos, não classificados.
Os assuntos que cabiam nos meus dossiers eram mesmo profanos e foi a eles que me dediquei durante mais uns dias até que tudo foi perdido no Largo do Carmo, em Lisboa, no dia 25 de Abril desse mesmo ano. Perdeu-se «só» o que segue:
Televisão (já a cores) para servir sobretudo de telescola – ficou no papel apesar de os concursos públicos para o equipamento estarem prontos para lançamento;
Relançamento do porto fluvial de Quelimane com fixação da barra do Rio dos Bons Sinais – ficou no papel apesar do projecto de engenharia já estar em curso;
Transformação em empresa dos estaleiros navais da Beira – ficou no papel;
Identificação de mais 40 locais a desmatar para servirem de pistas aos médicos voadores – ficou no papel.
E em meados de Julho meti-me no «Infante D. Henrique» e fiz um cruzeiro até Lisboa, a minha terra.