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A bem da Nação

ESTOU SOSSEGADO

 

 

Assim descrevem os goeses a forma tradicional por que levam a vida: sossegada. Fazem-me lembrar as três velocidades por que em África se resolvem os problemas: de vagar, de vagarinho e parada.

 

Mas agora foi a Maria Eduarda Fagundes, médica brasileira nascida nos Açores, que há dias me enviou uma mensagem sobre o Shabat e o inerente descanso semanal. Mensagem interessante, como todas as que a Maria Eduarda me envia.

 

Só que esta deixou-me a pensar…

 

Para além da fundamentação teológica que a fé judaica tem para o seu descanso semanal, refere a dita mensagem algo muito mais profano e que consiste num facto que muitos de nós esquecemos ou ignoramos: muita actividade pode ser sintoma de depressão. Sim, isso é óbvio para quem já passou por uma situação dessas. E se a uma fase de euforia super activa se segue uma de prostração e assim sucessivamente, não faltará muito para que o cenário clínico se complique e a ajuda médica se torne imprescindível.

 

Felizmente, não foi este o meu caso: em automedicação, consegui safar-me e ao fim de 2 ou 3 anos, com o testemunho familiar e de amigos, dei-me por curado. Quem me provocou a depressão bem pode tratar-se mas duvido que haja na farmacopeia algo contra a amoralidade, a falta de caracter e de ética.

 

Num aparte, recordo que os problemas que me assoberbavam antes do tratamento continuaram a existir; a diferença foi que, com a medicação, deixei de me preocupar com eles. E como o tempo se encarrega de resolver muita coisa, ao fim de alguns frascos de Prosac, comecei a fazer o desmame e no final já os problemas eram nacionais em vez de pessoais. É que o «maligno» tinha sido alcandorado a posição de chefia global atirando-nos colectivamente para a depressão de que agora tentamos safar-nos. O medicamento global que agora tomamos é muito mais amargo do que aquele de que individualmente beneficiei.

 

Mas regressando à mensagem da Maria Eduarda, então qual é o nível de actividade que indicia depressão?

 

Creio que será difícil ou mesmo impossível estabelecer um padrão aplicável a todos os casos pois a actividade desenvolvida por um rural não é comparável à de um urbano submetido às horas de ponta no tráfico diário para se dirigir ao seu posto de trabalho atendendo os Contribuintes numa repartição pública, ir buscar os filhos ao infantário antes de regressar a casa depois de novo stress nos transportes. O rural pode frustrar-se e deprimir-se com a pasmaceira a que se vê votado e o urbano pode ser workcoholic, não saber viver de outro modo e ser feliz em toda a sua própria dimensão.

 

Na falta de um padrão, como saber se se trabalha de forma depressiva?

 

Que dizer daquele que durante uma longa vida activa se entregou a uma função e de repente se vê aposentado? Eis uma situação perigosíssima. Fui ao enterro de um ex-funcionário que se sentou num sofá no dia em que a família lhe exigiu que se aposentasse. Sobreviveu poucos meses à inacção.

 

Tenho visto a desorientação de muita gente nos primeiros tempos de aposentação. Passam horrores até que encontrem um novo modo de vida.

 

Fui mais feliz. Fiz o “A bem da Nação” no mês anterior ao da aposentação efectiva e passei a montar diariamente a cavalo (o que antes só fazia aos fins de semana), passei a estudar as matérias que sempre senti faltarem-me e parti para o pensamento independente; mais que isto, giro o que é meu.

 

Será isto depressivo? Sinto-me activo e perfeitamente sossegado; não cumpro o homólogo cristão do Shabat; tenho o dia totalmente ocupado; não me acho deprimido mas aceito diagnósticos mais avisados.

 

Atenção: não pago a consulta!

 

Para complicar o cenário, deixo uma pergunta: pode a actividade cerebral ser viciante?

 

Julho de 2013

 

 Henrique Salles da Fonseca

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