VIVA A LAGOSTA!
Hoje trato da imortalidade do corpo, não da da alma.
É que me disseram há pouco que a lagosta é potencialmente imortal.
Durante o Império Romano a esperança de vida rondaria os 30 anos, no início do séc. XX tinha subido para os 45 e em Portugal ronda actualmente os 79,6.
Ironizando, há quem lastime que este acréscimo ocorra exactamente no final da vida…
Até que o nosso Mestre John Kenneth Galbraith entrou em cena sobre este tema (algo inesperado para um Professor de Macroeconomia) referindo o “still syndrome” que traduzimos por “síndroma do ainda” em que se perguntam coisas tais como:
- Então, ainda a dar o seu passeiozinho?
- Ainda interessado na política?
Na minha actividade lúdica tenho tido sempre o cuidado de nunca perguntar aos mais velhos se ainda montam a cavalo. Dou a volta por outro lado perguntando se tem algum cavalo adiantado no ensino. Há três respostas típicas: sim ou não, significando que ainda montam a cavalo; já arrumei as botas, significando isso mesmo.
Para os demógrafos a anciania é habitualmente estabelecida nos 65 anos mas eu, nos meus 68, quero que eles se danem! Optei pela expressão de Bernard Baruch quando afirma: - Nunca serei velho! Para mim, a velhice começa 15 anos depois da idade em que estiver.
Mas quer eu queira, quer não, o processo de envelhecimento existe. Só que se esse processo soubesse como o desprezo, mais valeria que me deixasse.
Porque eu quero ser lagosta!
Como assim?
É que a lagosta nunca mostra sinais de envelhecimento e há quem admita ser ela intrinsecamente imortal só morrendo porque algo exterior a impede de viver. Cresce sempre (o que lhe complica a vida pois evidencia-a cada vez mais perante os predadores) e nunca perde a fertilidade tornando-se mesmo cada vez mais fértil à medida que os anos passam.
Mas nada de exageros! Também não gostaria de ser tão longevo quanto o azevinho da Tasmânia que parece estar vivo há 43 mil anos (si non é vero, é ben trovato) nem sequer tanto como a tartaruga gigante que parece viver centenas de anos havendo mesmo quem lhe augure um feliz 5 000º aniversário.
Com a garantia de não me fazerem suar, prefiro a hipótese da lagosta.
E que têm estes bicharocos para poderem ser tão anosos?
Pois fiquemos de olho alerta no gene «Fox O» (não deu para perceber se se trata de zero se da letra O mas alguém há-de saber e trazer-nos a informação).
Nunca mais como lagosta! A bem da Ciência, claro.
Entretanto, evoco o Dr. Albert Schweitzer na frase que lhe é atribuída: Os anos enrugam a pele mas renunciar ao entusiasmo enruga a alma.
Continuemos…
Julho de 2013
BIBLIOGRAFIA:
VIAGEM AO OUTONO DA VIDA, Henrique Vilaça Ramos – BROTÉRIA, ed. MAIO/JUNHO de 2013, pág. 477 e seg.