HÁ EMIGRANTES E EMIGRANTES
Vi na televisão, nos vários noticiários, contra a auto-estima dos portugueses, em que a desgraça continua, com as culpas habituais para o actual governo, como se fosse ele o malvado do endividamento nacional.
Este já vem de longe, mas a face visível da crise são Passos Coelho em larga escala e Paulo Portas um pouco menos.
Parece ser a história daquele amigo que emprestava dinheiro a outro, até que este deixou de lhe pagar os sucessivos empréstimos porque o fruto do seu trabalho já não dava para satisfazer tanto empréstimo.
Acabou também este por se revoltar contra o prestamista, porque fechara a torneira das dádivas e então jurou não querer pagar o que devia.
Veio agora A TV anunciar que mais de uma centena e meia de crianças saíram das escolas do 1°Ciclo, na região de Viana do Castelo, a caminho da emigração, acompanhando os seus pais.
A noticia é apresentada como uma tristeza mórbida, como se a emigração não tivesse sempre feito parte da estrutura económico-social portuguesa.
Tenho sempre encarado este fenómeno como uma partida para a valorização pessoal e, nesse aspecto, eu sei do que falo. Com 12 anos de Angola e três dezenas e meia de França, deu-me a clara noção de que apenas a partida é dramática e depois a emoção vai-se esbatendo e tudo se torna normal no espaço que nos acolheu.
A saída das crianças e dos pais é relatada no âmbito da culpa atribuída à actualidade. Aqueles que saíram antes não fazem parte do nosso fado porque a memória é curta ou ela tem a enorme faculdade dum fenómeno a que se dá o nome de esquecimento.
Curiosamente, há uma emigração que eleva a nossa auto-estima e que a imprensa relata como uma valorização acrescida. Trata-se da "exportação de treinadores de futebol".
Estes não são os emigrantes da crise, do drama ou da tragédia nacional. Não são tão pouco culpa deste Governo. Esses são a nossa auto-estima! Louvados e adorados como resultado da nossa capacidade, do nosso "know how" em matéria futebolística.
Os outros são os nossos "coitadinhos"!
A nossa imprensa é que é formada por uma corja de malfeitores que habitam um espaço que se chama Portugal.
Esses é que poderiam emigrar para os paraísos que andam a tentar vender barato.
23 de Junho de 2013
Isaías Afonso