APONTAMENTOS DA DIÁSPORA SEFARDITA -2
OS PORTUGUESES DE SALÓNICA
Foi na Guerra dos Balcãs de 1912 que a Turquia teve que ceder parte substancial do território europeu que até então ocupava. O Tratado de Londres assinado a 30 de Maio de 1913 pôs fim a esse conflito estipulando que a Albânia passaria a ser um Estado independente mas a Bulgária não se sentiu devidamente compensada e reabriu as hostilidades, ou seja, deu início à Segunda Guerra dos Balcãs atacando a Grécia e a Sérvia, que se aguentaram, enquanto os búlgaros ainda perdiam território para a Roménia. Esta Segunda Guerra foi encerrada pelo Tratado de Bucareste, assinado em Agosto de 1913, assentando-se que Dubrodja ficaria para a Roménia, Andrinopla para a Turquia, o grosso da Macedónia para a Sérvia, o resto da Macedónia, Salónica e a Trácia Ocidental para a Grécia.
Eis como Salónica, cidade da naturalidade de Mustafá Kemal Paxá (Atatürk), deixou de ser turca e passou a ser grega.
Ora, desde tempos remotos que os sefarditas portugueses se tinham abrigado junto da tolerante Sublime Porta (nome por que era conhecido o Governo do Império Otomano) e concentrado muito densamente nessa cidade que até então era o porto turco mais importante.
Com a conquista de Salónica pelo Exército grego e consequente perseguição física generalizada aos súbditos otomanos (os sefarditas portugueses eram-no), surgiu um movimento que levou os judeus a requererem a nacionalidade dos seus antepassados. Como «pátrias de acolhimento», seleccionaram a Áustria, Espanha e Portugal.
Em 1913 havia muitas sinagogas na cidade mas quatro delas chamavam-se «Évora», «Nova Lisboa», «Velha Lisboa» e «Portugal». Por aqui se imagina a importância da colónia sefardita portuguesa de Salónica.
Com autorização do Governo português, o nosso Consulado em Salónica passou a emitir certificados provisórios de nacionalidade (passaporte com a validade de um ano, renovável) a quem o requeresse com base em prova documental da respectiva ancestralidade, com base nas declarações juramentadas de duas testemunhas ou pelo conhecimento pessoal do Cônsul. Foram mais de 300 as famílias assim acolhidas, o que correspondeu a um milhar de pessoas.
Grande obreiro desta missão, o nosso Ministro (título então em uso para os Embaixadores) em Constantinopla, Alfredo Mesquita.
Mas com a conquista grega, Salónica ficava isolada dos territórios interioranos que até então servia como porto e, portanto, perdia a importância que de imediato se transferiu para o Pireu e para Constantinopla.
Também o Consulado Português em Salónica deixava de depender do nosso representante em Constantinopla para passar a depender do seu colega em Atenas. Alfredo Mesquita ficou assinalado e eu estou agora a referi-lo; não sei quem estava então em Atenas.
A então pujante colónia sefardita portuguesa de Salónica dispersou-se e seria interessante lembrar a essa gente que Portugal aprovou em 12 de Abril de 2013 uma Lei ao abrigo da qual podem requerer a nacionalidade portuguesa a título definitivo.
Venham todos!
Lisboa, Junho de 2013
BIBLIOGRAFIA:
Manuela Franco, «Diversão balcânica: os israelitas portugueses de Salónica», in “Análise Social”, nº 170, Primavera de 2004, pág. 170 e seg.