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A bem da Nação

SACRIFIQUEM-SE OS ALUNOS EM NOME DA LUTA

 

Já não é uma luta pelos professores. É um acto político de oposição ao governo, liderado por quem não esconde o seu objectivo: "derrubar o governo"

 

Os sindicatos de professores não cederam e, portanto, não chegaram a um entendimento com o Ministério da Educação sobre as 40 horas de trabalho semanal (queriam manter as 35 horas) ou sobre a mobilidade especial (queriam ficar isentos). Surpreendente? De forma alguma.

 

1. A ausência de um entendimento não surpreende quando apenas uma das partes o procura. Sabendo o que estava em causa, que é a salvaguarda dos interesses dos alunos, o Ministério da Educação fez várias cedências e deu inúmeras garantias. Publicou o despacho para a preparação do ano lectivo, anulando os rumores de que aumentaria a carga horária da componente lectiva dos professores. Atribuiu créditos de componente lectiva a actividades de apoio aos alunos. E propôs o adiamento da mobilidade especial para 2015, depois de ter reafirmado o seu compromisso para que não houvesse professores com horário zero no próximo ano lectivo. Tudo isto para prevenir os efeitos da mobilidade especial. Do outro lado da mesa, que cedências fizeram os sindicatos? Que se saiba, nenhuma.

 

2. Esta posição irredutível dos sindicatos também não é surpreendente. Em primeiro, pela forma como todo o processo foi conduzido. É sabido que as greves foram marcadas antes de se iniciarem as negociações com o Ministério da Educação, o que só por si diz muito sobre os seus objectivos. Da mesma forma que é sabido que houve organizações sindicais que, desde o início de Abril, fizeram de tudo para que houvesse greve aos exames, tornando claro que este boicote foi atempadamente planeado. Em segundo, pelas próprias reivindicações dos sindicatos. Perante uma reforma que tem como alvo toda a administração pública (40 horas semanais e mobilidade especial), os professores exigiram o impossível: ser a excepção e ficar à margem. E quem exige o impossível nunca se contenta com menos.

 

3. O que surpreende, apesar de tudo, é o descaramento com que estes sindicatos rejeitam a responsabilidade pelo prejuízo que causarão aos alunos e às famílias. Com o mesmo irrealismo das suas reivindicações, afirmam que as suas mãos estão limpas e que os efeitos da greve estão sob a exclusiva responsabilidade do ministério - bastaria, por exemplo, mudar o dia do exame de português (17 Junho). Acontece que nem isso é exequível sem prejudicar o calendário do próximo ano lectivo (acesso ao ensino superior), nem os mesmos sindicatos o permitiriam, uma vez que agendaram novas greves para os restantes dias de exame nacional nessa semana. Não, as suas mãos não estão limpas.

 

4. De resto, este prolongamento dos dias de greve, decidido após o fracasso das negociações com o ministério, é a demonstração clara de que o objectivo de alguns sindicatos já ultrapassou largamente o âmbito da educação. Com as negociações terminadas, e não havendo ganhos negociais possíveis, o fim deste novo prolongamento das greves é exclusivamente destrutivo: infligir o maior dano possível e instituir o caos no funcionamento do sistema educativo. Deixou de ser uma luta pelos professores. É, agora, um acto político de oposição ao governo, liderado por quem não esconde o seu (verdadeiro) objectivo: "derrubar o governo".

 

Ninguém contesta que a luta política seja legítima e as greves sejam legais. Mas sacrificar deliberadamente os alunos em nome dessa luta, sendo legal, está longe de ser legítimo. E fazê-lo sob o manto da defesa da escola pública, negando a responsabilidade pelas consequências das greves, é um ultraje perante o qual não se pode ficar indiferente.

 

10 de Junho de 2013

 

 Alexandre Homem Cristo

 

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